DEZESSEIS | MAR ASIRI

14 5 0
                                    

      Pararam subitamente, o amaranto estava certo. Não poderiam seguir a jornada sem dá um descanso digno para o companheiro de viagem, precisavam findar com honra o lugar de luto.

      Kale tentava despertar Halina passando algumas ervas nas narinas da princesa, a qual despertou apreensiva com o cheiro ardente. Não sabia o que estava acontecendo, mas o palladiano lhe disse calmamente que perderam um dos seus. O semblante da smaragdina ficou pálido mais uma vez, mas ela resistiu ao impulso de desmaiar novamente. Afastando-se exasperada do grupo, dando as costas para a expedição.

      — Podemos sepultar o soldado na parte baixa da montanha. – Aryeh sugeriu.

       —  Façamos isso, mas antes precisamos falar sobre o nosso próximo destino. – Malya interveio.

        — Como podes falar da jornada com o que acabou de acontecer? Depois das coisas que vimos? – Halina retornou irritada.

        — E qual é a sua recomendação, princesa? Devemos desmaiar esperando que uma solução surja? –  provocou a celosiana furiosa.

       —  Sua bastarda, imprestável. – a princesa avançou para perto da outra.

        — Nosso próximo destino é Palladian e não há como chegar nele sem passar pelo mar Asiri. – Malya ignorou a smaragdina.

        — Com qual transporte chegaremos lá? – Skadi interpelou.

        —  Nova Ivory tem um barco escondido perto do vale que dá para o mar, podemos usá-lo. – Aryeh contou.

        — Ótimo, já sabemos como chegaremos a Palladian. Podemos levar o corpo de Esteban. –  Keisha falou baixinho.

       — Sim, é claro. – a morena assentiu.

      O grupo seguiu descendo a montanha, taciturnos com um corpo na carroça. Tinha escapado das mãos da morte até então, mas dessa vez ela conseguira pegar um deles. Por descuido e distração. Uma morte evitável, embora já estivesse marcada pelo destino.

      Quando chegaram na base da montanha, pararam e começaram a cavar na neve alva. Não possuíam palavras adequadas para trocar, eram só os olhares tristes que restavam diante da situação cruel. Cavaram até chegar na terra, não permitiriam que o corpo do homem fosse exposto, caso o gelo superficial derretesse. Foi um trabalho longo e árduo.

      — Esteban lutou bravamente por Smaragdine, um nobre guerreiro que entregou sua vida por Lucem. Mil guerreiros não teriam a metade de sua honra. Descanse em paz, leal soldado. – Halina cravou a espada no túmulo recém feito.

༄༄༄

       O caminho até o litoral de Ivory não trouxe dificuldades, desviaram das muralhas fechadas dos condados que saíram da guerra. Contudo, nenhuma outra tempestade nasceu para que o grupo perecesse mais uma vez. Pararam um única vez para comer e dormir algumas horas de sono, o atalho pela montanha economizou tempo e recursos.  Olhavam para o céu constantemente, como se de lá uma salvação pudesse surgir, mas as estrelas pareciam irredutíveis em deixá-los sozinhos.

     Arden permanecia calado, com os olhos vazios e quebrantados. Ninguém ousava falar com ele, principalmente quando seu semblante trazia tanta dor e fracasso. Perder seu parceiro de tantas lutas era cruel demais, especialmente nas circunstâncias que ocorreram.

      — Chegamos. – Aryeh declarou.

     O mar Asiri já podia ser visto no horizonte. Nas margens das falésias, coníferas tímidas se enraizavam, resistindo às águas salobras.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioWhere stories live. Discover now