TRINTA E UM | A ESTRELA

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     Junto com a poeira escura, outra coisa se alastrou: uma agonia penetrante. Sentiam-se como se fossem um dos corpos do pântano. Sem chance alguma de sobrevivência. A marcha dos soldados infernais fazia o chão tremer, uma trombeta apocalíptica causou um calafrio vigoroso.

       — O primeiro batalhão de Tenebris já está na superfície. – Kelaya anunciou.

       Eram dez fileiras preenchidas por cem inferos e outro tipo de soldado que pareciam humanoides, exceto pelas chamas negras que se precipitavam das armaduras prateadas deles. Os integrantes da jornada se puseram de pé, imediatamente. Arregalando os olhos para imagem que enchia o horizonte. Era impossível para sete pessoas conscientes e um dormindo, Aryeh permanecia sob os efeitos do encantamento do sono, conseguissem derrotar um número tão grande de oponentes.

     Sabendo do grande desafio que se esgueirava, Kale pegou um punhado de ervas na sua sacola, jogou sobre o rosto do novoivoriano desacordado, fazendo com que ele abrisse os olhos freneticamente. Não tivera a oportunidade de realizar essa ação anteriormente, uma vez que os primeiros inferos invocados pela traidora ocuparam uma parte significativa do tempo.

     — O-o que está acontecendo? – o homem massudo parecia terrivelmente confuso.

      — Estamos em batalha, meu amigo. A segunda de hoje, perdeu a primeira. – Kale explicou, ainda otimista.

       O palladiano apenas confirmou o que outro já esperava, o homem de pele pálida pegou o machado e apontou com petulância para o esquadrão. Malya pegou suas duas espadas e cajado, mantendo uma das espadas nas costas. Halina estava exausta, entretanto, manteve a espada em guarda. Arden puxou seu machado de um inferos caído, ficando com ambas as mãos ocupadas. Kale permanecia com os olhos vidrados no Skadi, o qual estava com a proximidade da lâmina na sua carótida. Zaire e Keisha permaneciam lado a lado preparados para lutar outra vez. A celosiana devolveu a sacola dos fragmentos para Kale, fazendo mesura.

     — Esta é nossa luta final. – Arden gritou para eles. – Nossa última prova para salvar Lucem.

      Quando o príncipe disse a última palavra, a marcha de Tenebris parou, os guerreiros sombrios abriram passagem, dando espaço para que duas figuras surgissem do meio. As duas pessoas usaram passadas lentas e imponentes, desbravando-se entre os próprios soldados.

     — Majestades. – Kelaya fez uma reverência curta, abaixando o pescoço. Não podia fazer mais que isso sem liberar o refém.

     O rei e a rainha de Tenebris estavam a alguns metros de distância deles, fazendo com que todos arquejassem surpresos, especialmente com a rainha. Nocti usava seu capacete de caveira, junto de uma armadura de mesmo material e manto vermelho. Já a rainha, tinha o rosto descoberto, no qual um cabelo quase branco emoldurava a face pálida e os olhos de diamantes. A rainha de Tenebris era ninguém menos que a imagem perfeita da Estrela Dália. A expedição engoliu a saliva abruptamente, fazendo o líquido arranhar o esôfago. Não conseguiam acreditar no que os olhos viam.

      — Estrela Dália. – Malya falou involuntariamente, comparando as pinturas que vira durante toda a vida com a mulher parada à sua frente.

      — Vejo que já me conhecem. – a rainha falou, dando dois pequenos passos para perto deles. – Sim, eu sou  Dália.

      — Impossível. – retaliou a princesa smaragdina. – Dália morreu com a queda e deu origem a Lucem. – falava mais para si do que para os outros.

       — Isso é o que contam na superfície, criança. Meu coração foi a única parte que se desfez durante minha queda, ele foi o suficiente para que Lucem nascesse. Contudo, os seres celestial reviveram meu órgão mais vital e deram aos humanos, quando a vida no continente já era tão forte que podia prosseguir sem poeira de estrela. – ela explicava num tom quase maternal.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioWhere stories live. Discover now