TREZE | A MURALHA

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     Malya recebeu o toque dos lábios do príncipe com surpresa, as mãos dele seguravam firme e delicadamente seu pescoço. Ela sabia que aquilo era errado, mas o calor do corpo dele era tão reconfortante. Até que uma pontada de sanidade rugiu na sua mente, afastou Arden de perto de si. Saiu sem encará-lo, encontraria o quarto sozinha.

       Por sorte, estava perto do aposento e entrou aos solavancos no quarto. Ainda estava ofegante, confusa e se sentindo ridícula. Beijar o príncipe fora completamente inapropriado, uma estupidez diante do que estava acontecendo. Sabia da fama de sedutor de Arden Smaragdine, porém nunca pensou que ele seria capaz de expelir esse comportamento no meio de uma jornada tão importante.

      Decidiu empurrar o evento para o fundo de sua memória, apesar dele ser tão palpitante. Não cederia mais às provocações do smaragdino, afastaria-se dele para qualquer coisa que não fosse a jornada. Abrira a guarda antes, o que permitiu que ele se sentisse no direito de beijá-la, mas isso não aconteceria jamais.

      Pashan me mataria se soubesse que beijei um smaragdino. – pensou no amigo, antes de cair no sono. Sua vida como trabalhadora em Celosia agora parecia tão distante.

     Na porta do quarto dela, um soldado smaragdino fora encarregado pelo príncipe de manter uma guarda alertar para qualquer eventualidade. Embora Arden se sentisse inegavelmente atraído por ela, sabia que a celosiana poderia apresentar perigo.


➳➳➳

     Malya acordou com os sons das ferramentas e mantimentos sendo colocados dentro na carroça da expedição, o sol já estava alto no céu e o momento da partida estava próximo.

      — Merda! Nunca levantei tão tarde. – pôs os sapatos apressada.

     A cama macia e o cansaço driblaram seu despertar precoce, atrasando-a. Batidas na porta agilizaram os movimentos da celosiana.

     — Já estou indo. – exclamou, quando a pessoa na porta insistiu.

     — Não sou sua criada, celosiana. – Halina falou com desprezo segurava um casaco de pele numa das mãos, o qual entregou para a morena. – É para a viagem. É frio em Ivory. – explicou como se falasse com uma criança.

     — Vou descer, me atrasei um pouco. – justificou sucinta, ignorando a prepotência da outra.

     — É melhor mesmo, não são férias. – falou arrogante.

     As duas seguiram pelo corredor não trocaram nenhuma palavra, não tinha nada em comum. Malya sabia sobre o deserto, já Halina sobre as riquezas do castelo. A princesa parou subitamente, escorando-se na pilastra mais próxima. A celosiana continuou andando, até perceber que a outra se demorava muito em seu mal estar.

      — Você está bem? – perguntou, vendo a outra pálida.

     — Prossiga. Não preciso de vossa ajuda. – curvou-se ainda mais.

     — Gengibre é bom para enjoos. – retrucou, saindo do lugar.

     Não ficaria adulando a princesa, muito menos por conta de uma náusea, que provavelmente surgiu por conta das repetidas resistências sem comer durante a viagem. Lembrava-se dos olhos das smaragdina encarando o mingau de jantar, só comia quando a fome apertava forte demais para recordar de suas preferências alimentares extravagantes.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora