Capítulo 7

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Terça-Feira, 17:33 da tarde.

De fato, não pude compreender a reação do Eric. Não consegui decifrar se aquela cena no meu quintal foi ciúmes, ou se seu ego que estava ferido. É claro que eu o amava, mas confesso que desejei mal a ele por tudo que me fez passar. 

Quando Nicolas e ele partiram, pedi a Arthur que fosse também. De início achei válido o seu posicionamento, entretanto foi um erro. Por sorte meu irmão não estava em casa, provavelmente estaria na empresa resolvendo assuntos administrativos, uma vez que nossos pais ficariam fora por mais tempo.

Eram quase seis horas quando Nicolas bateu na minha porta e, visivelmente confuso, ele me acusava de manipular uma situação difícil de se acreditar:

Eric foi preso e quem o levou foi Arthur.

— Vai falar que não sabia? Não se faça de sonsa! – É claro que eu não sabia, mas fiquei em estado de choque ao ponto de não conseguir me explicar.

Arthur era policial e para o meu azar, ele correspondeu meu flerte. Meu fim estava próximo e eu podia sentir.

Um problema dessa proporção estava fora da minha alçada resolver, mas ainda assim eu precisava tentar. Respirei fundo e liguei para ele, que me devia algumas explicações. 

— Antes de tudo, por que não me disse que era policial?

— Porque essa não é a primeira coisa que eu falo para alguém! – Fiquei sem saber o que responder. Pedi a ele que viesse até minha casa, eu precisava saber o quão profundo ele estava perante toda situação. Por sorte eu tinha uma carta na manga, ou melhor, na calcinha.

Encerrei a ligação depois do combinado e seguidamente, minha caixa postal notificou:

"Tentei te ligar, mas foi em vão. Acho que sei com quem deve estar falando. É como nos filmes e eu só tenho direito a uma ligação, como não tenho advogado, minha única preocupação e prioridade foi você. Pior que estar aqui, é não poder estar ao seu lado. Sinto muito por tudo e por não estar com você no seu aniversário, não sei quando irei ver seus olhos e seu sorriso novamente, espero que em breve. Meu tempo está acabando e eu preciso desligar, tchau."

Em meio a tanta confusão, esqueci completamente que meu aniversário estava chegando. Péssimo momento para atingir a maioridade penal.

***

Cada minuto que passava era como se meu corpo fosse esmagado, minha mente não aceitava que Arthur era uma autoridade e que possivelmente eu estava em suas mãos. Tentei me tranquilizar antes de sua chegada, para que ele não percebesse minha inquietação. Eu não colocaria tudo a perder, não no meu território.

Repensando em todos os meus atos, eu andava de um lado para o outro. Incrível como eu consegui estragar as coisas. Tentei resolver do meu jeito, mas foi um erro! Acabei piorando o que já não estava bom.

Se era possível eu não sei, mas senti toda a minha musculatura se contrair quando ouvi a campainha tocar. Tentei recuperar as rédeas da situação, até abrir a porta e ver aquele homem ali, parado bem na minha frente.

— Entre! – Falei, lhe dando passagem. Ele era muito jovem para um cargo com tamanha responsabilidade e isso me assustava. — Espero que esteja aqui como pessoa, e não como investigador.

Nicolas estava prestes a pular no pescoço de Arthur, por sorte Laura estava por perto e conseguiu controlar o namorado.

***

— Acontece que recebemos uma denúncia, apuramos e encontramos a quantidade equivalente ao artigo trinta e três do código penal. – Explicou. — Em depoimento ele disse não ter ciência, mas em contrapartida existem provas que dizem o contrário e por isso ele foi levado.

Tráfico de drogas? Quem em sã consciência teria como traficante um usuário? O investigador falava sobre o inquérito e como sua única solução seria a ineficiência do estado, já que  nem sempre a defensoria pública representava casos como o do Eric.

— É tão grave assim?

— Se houver bons antecedentes, talvez ele consiga aguardar o julgamento em liberdade ou até mesmo a redução da sua pena, já que é réu primário! – Uma coisa eu tinha que admitir, Arthur parecia ser sincero e um ótimo profissional. — Pode ser que ele cumpra no máximo
⅙ da condenação. – Ele esclarecia as coisas detalhadamente e com bastante paciência, até propôs em ajudar. Era difícil de acreditar que Arthur faria isso propositalmente, que prejudicaria um inocente na intenção de conseguir conquistar alguém, ainda mais sendo alguém como eu.

Ele era jovem, bonito e aparentemente bem sucedido, sem contar que, ser policial caía muito bem em sua figura, que olhando com outros olhos, o deixava ainda mais atraente.

Eu podia ouvir Nicolas falando incansavelmente e Laura tentando acalmá-lo.

— Eu acho que sei como resolver esse mal entendido, mas vocês precisam ir embora! – Comentei. — Menos a Laura! – Minha amiga arregalou os olhos, como se um flashback passasse pela sua cabeça.

— E o que você pretende fazer?

— Vou pedir para o meu irmão pagar a fiança, o que mais seria?

***

Todos já haviam ido embora, sobrando apenas Laura e eu. Dei risada quando ela disse que por um momento achou que eu sugeriria fazer outro assalto.

Convencer meu irmão a pagar a fiança seria um desafio e tanto, o preço seria bem alto: Eu daria a minha palavra que em troca de sua ajuda, eu me afastaria de vez do Eric.

Seu sonho estava prestes a se tornar realidade.

— O Arthur parece se importar com você, eu percebi o olhar que ele lançou quando se despediu.

— É porque você não ouviu o que ele disse antes de sair! – Ela me olhou com curiosidade, para que eu prosseguisse com o assunto. — Pediu que eu não me envolvesse em problemas, que ele não usava suas algemas somente para prender bandidos! – Era errado, mas eu estava gostando da brincadeira de gato e rato.

*

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