Capítulo 29

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Desgraçado, como eu pude ser tão cega? Como eu fui capaz de ignorar todos os indícios de que era ele, quando tudo apontava em sua direção? Culpada por tê-lo ao meu lado, enojada ao receber seus toques, jurei a mim mesma não causar dor a mais ninguém. Lembrei de todas as vezes em que minha amiga tentou me alertar, e até seu namorado. Ah, Nicolas… se eu pudesse me retratar com vocês, eu juro que faria. Em casa, o clima não era o dos melhores. Meu pai estava aos berros, mas aquele não era o ponto crucial da questão. Arthur estava lá, expondo sua desenvoltura e voluntariedade em relação ao caso, como se alguém tivesse pedido. O pior era ter que fingir que sua presença me agradava. Sendo discreta pela primeira vez, Manuela encenou precisar de roupas para que pudesse se trocar, o que obviamente era uma desculpa para ficarmos a sós. Levei-a comigo para o meu quarto e fechei a porta, que merda. Eu estava apavorada e não podia fazer nada, ele estava dentro da minha casa, no meio da minha sala e com a minha família!

— Temos que contar pra polícia, e agora! – Me segurou pelo braço, tentando me alcançar.

— Não dá, você esqueceu? – Sussurrei me desvencilhando. — Ele é a polícia! – Enraivecida, Manuela se retraiu. Eu não tinha escolha quanto a isso. Pedi a ela que saísse do meu quarto e mantivesse a calma, eu daria um jeito na situação, só não sabia como. 

— Alana, não temos mais tempo, ele já está aqui, dentro dessa casa!!! – Fez questão de me lembrar de algo que era impossível de se esquecer.

No banho, não fiz questão de segurar as lágrimas. Porra, eu estava fodida pra caralho e sem saber o que fazer. Horrorizada, eu me sentia perdida. O homem por quem eu me apaixonei não existia, tampouco sua bondade. Após sair do chuveiro, me troquei e desci. Estranhamente, a sala estava completamente silenciosa e o cenário caótico não existia mais. Manuela possivelmente estaria no banho e meu irmão também não havia chegado com a mãe dela, e honestamente? eu não queria estar por perto quando isso acontecesse! Fui atrás do meu pai e o encontrei na cozinha, Arthur e ele segredavam sorrateiramente.

— Aconteceu alguma coisa? – Questionei. Eu odiava ter aquele homem por perto, sua presença era intragável. Meu pai me observou atenciosamente e sem responder, veio até mim e beijou-me na testa. 

— Não que eu saiba, querida. – Ok, realmente estava acontecendo alguma coisa. Meu pai era péssimo em demonstrar sentimentos, muitas vezes ele nem tentava. Típico comportamento masculino. — Filha, não quero que de forma alguma você se sinta só, ou desamparada. Sua família estará sempre ao seu lado. – Frisou quando disse família. — Caso queira, junte-se a mim e sua mãe, pegue suas coisas e durma no nosso quarto. 

— Acredito que ela esteja grandinha demais para isso, não acha? – Arthur gesticulou com as mãos, ensaiando um trocadilho infeliz. 

— Ele tem razão, pai. – Quando concordei com um aceno, ele sorriu. — E também, o Arthur vai passar a noite aqui, não posso deixá-lo só. – Uma acentuada perturbação me alcançou, eu não sentia raiva, sentia repulsa. E se ele tentasse algo contra mim? Ou pior, me violar? Eu não sabia como fugir daquela situação. Voltei ao meu quarto, só que dessa vez ele me acompanhou e até tentou iniciar uma conversa, mas não dei espaço. — Eu disse que queria ficar só e você insistiu em vir. – Nunca imaginei que seria capaz de agradecer por um chifre já levado, mas graças a ele pude justificar meu comportamento frio. — Por favor, respeite o meu momento, pelo menos isso. 

Caralho, Alana. Caralho! – Com a expressão fechada, Arthur passou as mãos pelo rosto, impaciente. — Vai ficar assim só porque eu transei com outra pessoa? Não seja infantil, eu era solteiro! 

— Solteiro? Eu estava dentro da sua casa, me declarando feito uma idiota! – Imaginei que seria bom ele pensar que meu afastamento era por ciúmes. — A minha amiga levou um tiro na minha frente, na minha frente! – Reforcei. — Você a conheceu, não seja egoísta! 

Cyberstalking - Além do que se vêOnde histórias criam vida. Descubra agora