Capítulo 21

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Ninguém olhou para você com piedade e nem teve suficiente compaixão para fazer qualquer uma dessas coisas por você. Ao contrário, você foi jogada fora, em campo aberto, pois no dia em que nasceu foi desprezada." - Ezequiel 16:5

Quarta-feira, 17:27 da tarde.

Decidida a dar um basta em toda chantagem recebida, optei por assumir a Arthur meu envolvimento no assalto, mas para minha surpresa ele já sabia. Eu queria estapeá-lo por não ter me contado a verdade desde o início, aparentemente me enganar tem sido mais excitante do que os sentimentos que eu cultivei em relação a sua pessoa. Feito um tornado, saí de sua casa sem olhar para trás, não estava chateada pela mentira em si, o que doía mesmo era o meu ego que estava ferido.

Que bando de besteira sentimentalista.

Quando cheguei em casa, percebi que meu irmão estava prestes a sair com Manuela. Ambos estavam arrumados e pareciam bem felizes, diferente de mim. Larguei minha bagagem no pé da escada e por fim houve um súbito silêncio no andar, Eduardo me conhecia mais do que ninguém.

— Faça logo o seu interrogatório! – Me referi a ele, seu olhar me atravessava como se fosse nosso pai que estivesse ali, me analisando com desdém.

— Eu esperava sentir orgulho em dizer que eu avisei, mas só consigo sentir pena!

— Guarde sua comoção para si, eu não preciso dela! – Falei. — Preciso de um advogado criminalista, consegue me ajudar? – De um jeito ou de outro a merda acabaria no ventilador, o quanto antes eu resolvesse essa questão, melhor. Contei a ele sobre minha desventura e o quão ferrada eu estava, assumi toda a responsabilidade, deixando-o furioso. — Eu posso pedir uma última coisa? – Perguntei, eu queria devolver o valor para o verdadeiro dono.

Com benevolência, pela primeira vez seu olhar cruzou ao meu. Eduardo entregou seu cartão de débito e com um sorriso simples, agradeci. Apanhei minha mala e trilhei em direção ao meu quarto, Manuela veio atrás.

— Obrigada por não me entregar, ele não teria a mesma compaixão por mim! – Agradeceu por eu ter assumido a culpa. Como eu poderia destruir tudo o que eles vinham construindo juntos? Não seria justo.

— Me importo com vocês, não quero vocês nessa!

— Você é minha melhor amiga e eu nunca tive nada parecido antes, não quero te perder! Alana, será que você nunca vai me perdoar?

— Se eu decidir te perdoar, promete que eu não vou me arrepender?

— Prometo tentar! – Seria uma dádiva voltar a confiar em alguém, por isso lhe dei outra chance.

Passava-se um pouco mais de seis horas da noite e eu ainda me perguntava se realmente seria uma boa ideia seguir com o pensamento de devolver o valor roubado, como eu explicaria? "Oi, lembra de mim? Eu roubei seu estabelecimento e agora que minha casa caiu eu vim devolver o valor!"

Manuela e meu irmão já haviam saído e eu fiquei só, presa aos meus declínios. Chamei um táxi e pedi que me levasse até o pequeno comércio. Chegando no local, paguei o motorista e depois de exalar um último suspiro, adentrei.

— Olá, querida Cecília, quanto tempo eu não a vejo! – O senhor de idade ajustou seus óculos. Olhei para trás e não havia ninguém, além de mim.

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