Capítulo 31

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Arthur Beaumont

  A memória de carregar o corpo de Alana para fora daquele lago me assombrava diariamente. Seu corpo miúdo que antes era vívido e arteiro, encontrava-se desfalecido em meus braços, justo nos meus. Seu rosto esbranquiçado achava-se levemente arroxeado, devido ao quadro de afogamento. Sua pele também apresentava sinais de agressão, indicando que ela sofreu, e muito. Tudo aconteceu extremamente depressa, desde a confirmação de sua morte por parada cardiorrespiratória, até seu velório.

Conforme a solicitação médica, seu caixão foi sepultado lacrado. Lembro de ver Vivian debruçada no túmulo da filha, como se sua dor fosse capaz de trazê-la de volta e pela primeira vez, vi seu pai chorar, sentia-se culpado por não conseguir protegê-la. Eduardo ao lado da namorada parecia segurar as pontas, diferente dela, que estava aos prantos. E de longe, tive que prestar meu último ato de devoção, o castigo de ter que enterrar pela segunda vez uma namorada no início da vida.

Por não saber justificar alguns pontos, fui afastado e consequentemente, obrigado a entregar meu distintivo. Sete meses se passaram e algumas questões ainda martelavam minha cabeça. Acordei cedo, tomei café e depois do banho, aproveitei para fazer a barba, eu já não me reconhecia. Por falta de provas, a justiça determinou o arquivamento do caso, não havia ninguém para quem pudessem apontar como culpado, exceto eu. De início foi estressante ser apontado como malfeitor, me culpabilizavam por não aceitar o término do meu relacionamento, como se eu fosse capaz de maltratá-la por isso. A ausência de Alana corroía meu peito feito o encontro de ácido nítrico com o mais pesado dos metais, tudo nela me fazia falta. Seu jeito afável, nossas piadas internas e até seu comportamento incisivo, que a transformava em uma stripper de baixo custo quando a bebida tomava conta de seu organismo. Admito que meu último contato com ela não foi o dos melhores, e eu me odiava por isso. Sempre fui uma pessoa calma, mas sua desconfiança me fez enlouquecer. Eu soube no fundo do meu coração que eu havia a expulsado da minha vida, no momento em que eu a expulsei do meu carro.

A garota que eu amava morreu, e a última coisa que ela pensou de mim foi que eu queria matá-la.

Desconsiderei as lembranças, o que vinha pela frente era mais importante. Troquei de roupa, optei pela formalidade que já era acostumado e segui em direção ao fórum, os pais de Alana não aceitavam o encerramento do inquérito e por isso, moveram uma ação contra o estado.

O dinheiro realmente era o melhor amigo do homem.

A galeria do tribunal foi preenchida brevemente. Antes do horário marcado, Vivian, Eduardo e Roger chegaram acompanhados por três advogados. Arqueei as sobrancelhas em um breve aceno, contudo, fui ignorado. Com os dados do seguimento já organizados, o magistrado deu início a oitiva.

— Sendo breve, acredito que não há o que ser feito! – Encarando a papelada que estava em sua bancada, declarou o juiz e não obstante, prosseguiu com o ato solene da sessão. — Promotoria?

— Sim, meritíssimo! – Uma mulher portando um óculos de circunferência ângulosa levantou-se e tomou a palavra. — De acordo com o magistrado e a decisão homologada antecessora, não há indícios ou provas suficiente para que o caso seja levado adiante e por isso, não cabe o requerimento da decisão.

— Parte contrária? – O juiz deu a vez para o advogado da contratante, que prontamente, apelou ao usar o emocional.

— De fato, meritíssimo. Não há provas o suficiente! – Concordou o profissional. — O que temos é uma jovem que foi cruelmente assassinada e que teve seu corpo abandonado, que por sorte, foi encontrado pelo seu namorado, o senhor Arthur Beaumont, que também encontra-se nesta sala. É importante ressaltar que, ninguém está sendo indiciado. A filha da minha cliente teve a vida ceifada, seu laudo médico apontou lesões, traumas ocasionados por pontapés e até mordidas, havia água em seus pulmões! – Nesse momento, um som quase inaudível entoou no salão. Vivian teve que levar as mãos em direção ao rosto, para conter o grunhido de seu choro. — Quem é que tenha feito isso, a conhecia muito bem! Não é justo com a vítima, e nem com sua família que sua história termine assim! – E dessa forma, o representante finalizou sua declaração.

Cyberstalking - Além do que se vêWhere stories live. Discover now