Capítulo 27

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Será que realmente conhecemos aqueles que dizem nos amar?

O contato do amanhecer trouxe-me o afago que meu corpo tanto necessitava. Arthur e eu deixamos a casa do lago nas primeiras horas do dia e, apesar de termos desfrutado de momentos incríveis juntos, tínhamos que voltar à realidade. Por ter passado tempo demais sem rede de cobertura, meu celular ainda estava fora de operação; isso graças ao ótimo serviço prestado pela operadora.

— Já tentou reiniciá-lo? – Sugeriu o investigador, enquanto descarregava o bagageiro. Depois de algumas tentativas manuseando o aparelho, a conexão foi estabelecida e seguidamente, notificações começaram a surgir. — Interpol ou homens de preto? – Visto que meu celular não parou um só momento, ironizou. Dando uma risada esquisita, abri cada notificação e me surpreendi. Através de inúmeras formas, Laura buscou me encontrar. Tentei entrar em contato com ela, só que agora o jogo estava invertido, era ela quem não me atendia.

— Droga, Laura! Não me deixe curiosa! – Murmurei, o que será de tão importante ela tinha para falar comigo?

— Ela é meio preguiçosa, deve estar dormindo ainda! – De fato, não eram nem dez horas da manhã. — Tenho que dar uma saída, resolver alguns assuntos pendentes! – Ficar só, na maioria das vezes me deixava de coração partido e isso transpareceu em meu rosto. — Eu não posso te levar, não dessa vez! – Abrindo uma primorosa caixinha, que mais parecia um bibelô, Arthur entregou-me a cópia de uma chave e disse para que eu ficasse com ela, caso resolvesse ir para casa e precisasse voltar. — Você pode vir quando quiser, a casa é sua! – Franziu a testa. — E eu também! 

O policial terminou de descarregar o carro e em seguida partiu, me deixando só. Pensei em voltar para minha casa, no entanto, meu estômago se contorceu só de imaginar em ter que dar explicações e justificar o meu sumiço repentino. Aprendi com Sun Tzu a importância de explorar o território inimigo e, através de sua sabedoria, considerei mudar a rota e foquei em um outro problema a ser tratado: Meus pais. 

Com medo da reação deles, eu não podia chegar em casa do nada, não depois de desaparecer por dias. Meu pai estaria furioso, no mínimo. Como oficialmente um novo membro da família, decidi ligar para Manuela. Ela seria minha única e melhor fonte de informação para que eu estivesse preparada para qualquer situação que me esperasse.

— Manu? 

— Garota, como você some desse jeito? Sua mãe está preocupada, todos estão! – Atenuada, tive que ouvir sua bronca. — Onde você se meteu?

— É muito bom falar com você também! – Cabisbaixa, tive meu tom de voz reduzido. Na verdade, eu estava cansada de ser controlada por todos. — Você está com o meu irmão? Estou com medo de voltar para casa, com receio dos meus pais, de encará-los! Com certeza eles já devem saber de tudo, você ouviu alguma coisa? – Bombardeei Manuela de perguntas, na expectativa de arrancar alguma informação. 

— Então amiga, o Eduardo contou a eles! – Relatou, mas não me surpreendi. — Vem chumbo forte por aí, eu não queria estar na sua pele! 

— Eu ficaria surpresa se ele tivesse feito o oposto! – Conformada, não dei importância. — Estou na casa do Arthur, eu estive com ele durante esses dias! Quer vir pra cá? – Com a nossa amizade restabelecida, convidei a namorada do meu irmão para passar o dia comigo, que prontamente aceitou. Enquanto só, inventei afazeres para me distrair. Organizando o cesto de roupas sujas, separei cada peça de acordo com suas respectivas cores e depois coloquei-as na máquina, buscando me alienar com o tempo.

***

O som estridente da campainha denunciou a chegada de Manuela, que feliz, não demorou a chegar.

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