Capítulo 19

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Quarta-feira, 08:37 da manhã.

— Eu te amo, Alana Rivera! E nunca, nunca vou te deixar! – Eric declarava rente à minha orelha. Seu cheiro era tão bom que assemelhava-se a uma casa limpa, meu lar. Ele sorria, me puxava para si e repetia incansavelmente que enquanto vivesse nada e nem ninguém teria força o suficiente para nos separar, e isso soava como música aos meus ouvidos. Sua voz foi repentinamente silenciada por um forte estrondo, uma porta se fechando, reconheci; e em seguida tudo ao meu redor começou a desaparecer, se tornando um borrão. Eric, sua voz, seu cheiro, suas mãos ao meu redor... tudo parecia ter se transformado em névoa, se esvaindo pelos meus dedos sem que eu pudesse impedir. Pouco a pouco comecei a ficar consciente, sentindo o tecido que cobria o meu corpo e o travesseiro que roçava contra minha bochecha.

Um sonho, tudo não passou de um sonho.

— Perdão, não queria te acordar! – Arthur franziu o rosto, desculpando-se. — Pode me ajudar com isso? – Estendeu uma gravata de tom azulado em minha direção, percebi que seus dedos estavam imobilizados.

— O que houve com a mão? – Perguntei a ele, enquanto enlaçava o adereço. Uma espécie de tala ajustável envolvia seu dedo mindinho e anelar.

— Estive brigando por aí, precisei defender a honra de uma princesa indefesa! – Caçoou. — Mas não se preocupe, os que eu uso em você estão intactos! – Arthur era a mistura perfeita de maestria com descaramento, excelência e devassidão, além de ser altamente cínico. Em poucos minutos ele sairia para o trabalho e eu ficaria só, naquela casa enorme. Finalizei o nó em sua gravata, passei a mão por volta de seu colarinho e o abracei, tudo nele me era novidade, mas estranhamente seu abraço me trazia mais conforto que qualquer outra coisa. Levei-o até a porta, me despedi e depois voltei para o quarto, não por opção, mas pela falta dela. Encarei meu celular que estava na mesa de cabeceira e o desbloqueei.

1.023 mensagens não lidas no whatsapp, marcações no Facebook e 73 chamadas não atendidas.

✉: Oi, apareci! – Mandei mensagem para Laura, ainda era cedo, mas torci para que ela já estivesse acordada. Ela respondeu cerca de 40 minutos depois, os piores já esperados.

✉: Eu estive tão preocupada! Eu sinto muito, de verdade!

Rumores, insinuações e fofocas, é terrível o quanto essas armas podem machucar nas mãos de um inimigo determinado e cruel.

✉: Sugiro uma pequena justiça, já volto a falar com você! – Arrastei para o lado o aplicativo e fiz uma ligação, mas antes busquei por algo que ajudasse a disfarçar minha voz, uma fronha foi o necessário.

— Olá, Bom dia! Falo com Elisa Bellini? – Me segurei para não rir do outro lado da linha. — Meu nome é Catarina, sou responsável pelo departamento de marketing do shopping estilo sul. Estou ligando a respeito do sorteio de um vale compras, seu cupom foi o selecionado, parabéns!

— Sorteio? Mas eu não participei de nenhum, tem certeza que está falando com a pessoa certa?

— Bom, o número que nos foi deixado para contato foi esse, no nome de Elisa Bellini. – Recitei seu celular. — Porém como a senhora diz não reconhecer, seguiremos com o sorteamento e priorizaremos outro número de série, de qualquer forma, perdão pelo incômodo! – Prestes a desligar, jurei ter o plano arruinado. Para minha não surpresa, Elisa reivindicou seu prêmio, magicamente lembrou de algo que nunca existiu. Mentirosa. — Certo, para retirada a senhora vai precisar comparecer na administração do shopping ainda hoje, no período da tarde, e não esqueça do documento com foto! – A teoria do "Ou você é inteligente ou bonita" não funciona comigo, porque eu sou os dois. Encerrei o contato com a lesada e voltei a conversar com Laura, agora viria a segunda parte do plano.

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