Capítulo 17

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Terça-feira, 19:37 da noite.

Arthur Beaumont

Tolerei ser confrontado por um ser de 1.60m que, ainda no seu direito, achou coerente discutir usando roupas íntimas. Em meio aos meus pensamentos impuros e demasiados, eu já não tinha tanta certeza se eu fiz a coisa certa ao convidá-la para passar um tempo na minha casa, mas o fato é que a garota estava aqui e não poder tocá-la me aborrece. Alana estava no banho e eu na sala, como um moleque despreparado, torcendo para que ela não saísse enrolada em uma toalha ou na pior das hipóteses, nua.

— Banheiro livre, Excelentíssimo Senhor! – Merda! Como estava gostosinha vestindo apenas uma roupinha de dormir! Respirei fundo e fechei os olhos, e assim, de olhos fechados, pude sentir seu sorriso impiedoso, como se estivesse arquitetando um plano contra mim. Seu cabelo estava molhado, penteado para trás e seu rosto indicava uma certa satisfação, que menina linda!

— Bom, vejo que está arrumando suas coisas.

— É mesmo? Se o seu desempenho como investigador for revelar o que é óbvio, sinto em dizer mas não é um grande diferencial!

— Você acha certo sair por aí irritando as pessoas? – A encarei por alguns segundos. — Depois encontrarei um espaço para elas.

— Ótimo, porém suponho que tenha esquecido o principal! – Seu sorriso agora tomava outra forma, desafiador. — Você não disse onde vou dormir, Arthur.

— Ah, claro! Sobre isso terei que dar um jeito, acharei um lugar pra você.

— Uma cama, talvez?

— A questão é essa, eu só tenho uma!
– Embora eu tenha ficado tentado a dar a ela o que tanto ansiava, eu não cederia às suas provocações. Ela acha que não conheço seus truques, esquece que eu já tive sua idade e que não existe uma só artimanha que eu já não tenha utilizado.

O som da campainha ressoou pela casa, interrompendo o momento e eu não poderia estar mais aliviado por isso. Levantei-me em direção a porta, destrancando-a, mas assim que a abri não encontrei ninguém lá. Olhei ao redor, mas não havia sinal de qualquer pessoa, pensei então ter sido algum tipo de trote, alguma criança que tocou e saiu correndo, porém assim que fiz menção de fechar e entrar, visualizei um envelope cuidadosamente deixado no chão. Curioso e confuso, abaixei-me para pegá-lo, não havia remetente e nem nada, estava selado. Quando decidi abri-lo, mal pude acreditar no que vi. Minha respiração falhou e aquela sensação de frio na barriga tomou conta de mim, só depois fui compreender a gravidade do assunto.

O conteúdo ali apresentado traria sérias consequências para Alana, caso fosse parar em mãos erradas. No envelope haviam fotos dela totalmente nua, um total de seis ou sete, todas em ângulos e posições não favoráveis. A pior parte era não saber como contar a ela, o que me tornava um completo inútil.

Seguir carreira como policial civil sempre foi um objetivo e o alcancei ainda que muito jovem. Antes de atuar como investigador, passei pela área de análise comportamental, mas foi só depois de alguns meses no setor como perfilador que eu tive a certeza que minha vocação era investigar, e não analisar. Alana escondia algo, que no mínimo era muito sério e foi através da minha experiência e suas atitudes que eu pude comprovar.

— O que foi?

— Não existem palavras para que eu possa ser mais direto que isso, então prefiro que veja com seus próprios olhos! – Entreguei a ela o envelope e vi seu sorriso ir embora, no instante em que seus olhinhos ficaram vermelhos e seu rosto sem cor.

— E-eu não acredito.. – Com lágrimas nos olhos e dificuldade, ela tentou rasgar os papéis fotográficos, visando destruir qualquer tipo de evidência. — Por que ele fez isso comigo?

— Você sabe quem fez isso?

— É óbvio que eu sei, eu as enviei! Foi o Eric, quem mais seria?

Senti um misto de emoções me invadirem, a princípio fiquei estagnado, mas assim que entendi do que se tratava meu sangue se tornou quente e a raiva me dominou, só que, acima de tudo, senti pena e foi nesse momento que eu percebi que gostava dela, mais do que carecia.

Sim, eu estava gostando dela, da garota que eu atropelei e que possivelmente estava fugindo de alguém.

Enfurecido e completamente cego de repulsa, coloquei Alana dentro do carro e dirigi até a casa do marginal que um dia, talvez por carência, ela ousou em chamar de namorado. Ignorei completamente os semáforos e pilotei o mais rápido que consegui, arrependido de não ter acabado com a vida daquele moleque quando eu tive a chance.

Ele estava em sua calçada quando chegamos e assim que me viu, o mesmo tentou se justificar, pedindo por calma.

Não atendi sua solicitação.

Golpeei seu rosto com vontade, não somente pelas fotos, mas por saber que mesmo depois de tudo, Alana ainda o amava.

É eminente que perder o controle não estava em meus planos, mas não fui capaz de me controlar. Como um animal selvagem, eu soquei o rosto do garoto, que estava estirado no chão.

— Como você pôde? O meu pai tem investido em mim! Tem ideia de como isso é raro? – Machucada, Alana gritava em direção ao rapaz e isso doía diretamente em mim.

— Você não pode me negar o direito de explic..

— Fale com ela de novo e eu farei com que se arrependa! – O Golpeei novamente e ele gemeu de dor. — Acha que está lidando com alguma criança? Já conheci centenas iguais a você e eu posso garantir que o fim de cada um não foi nada agradável!

Ensanguentado e demonstrando estar muito pior do que aparentava, em um tom agonizante ele insistia em dizer que não foi o responsável pelo vazamento das fotos, o que também infringia o artigo 218-C do código penal.

"Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática - Fotografias, vídeos ou qualquer outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável, ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia.

Pena - reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constituir crime mais grave. Aumento de pena de ⅓ (um terço) a ⅔ (dois terços) se o crime for praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação."

— Eu já disse que não fiz nada!!

— E como você sabe exatamente o que viemos fazer aqui? O que há de errado com você? – Pressionei o rapaz.

— Como eu sei? Todos os nossos amigos receberam!

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Cyberstalking - Além do que se vêWhere stories live. Discover now