Capítulo 9

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O destino separou o joio do trigo e, assim como na parábola, decidi me afastar de quem tanto me feriu. Procurar amor em quem não tem nada para oferecer é como uma abelha que busca pólen em um jardim artificial, ilusório.

Chamei um carro por aplicativo e pedi a Laura que fosse embora, com educação. Ela tem sido uma ótima amiga, mas eu precisava ficar só. Embora esse fosse o meu desejo, eu queria também me sentir segura.

Apenas meu irmão era capaz de me fazer sentir-se assim.

Mordi o lábio inferior, pensando se realmente seria uma boa idéia ligar para Eduardo. Ele certamente brigaria comigo e além disso, jogaria na minha cara que eu era irresponsável, dramática e assim por diante.  

Decidi arriscar.

— Eduardo, que horas você volta? – Perguntei. — Estou precisando de você! – Eu sabia que no fundo, todas as nossas brigas eram por pura bobagem. Visto que eu falava sério, ele pediu que eu o esperasse em seu quarto, prometeu que assim que chegasse iríamos conversar.
Verifiquei se as portas e janelas estavam trancadas, era assustador saber que se uma pessoa quisesse entrar, ela simplesmente daria um jeito. Voltei para o meu quarto, peguei minha toalha e um pijama fresquinho e fui em direção ao chuveiro, um banho seria muito bem-vindo. A água gelada parecia cair em forma de cascatas em minhas costas. Lavei meu cabelo e até depilei minhas pernas. Depois de me trocar, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto e fui para o quarto do meu irmão, que já estava em casa.  — Edu? – Fui em direção ao seu abraço. Pulei em seu colo e entrelacei minhas pernas em sua cintura, apertando-o contra mim. Como nos últimos tempos acabamos nos distanciando um do outro, ele ficou sem saber o que fazer, mas quando percebeu que eu estava triste, me abraçou forte e me carregou até sua cama. Ele era um ótimo irmão, uma pena eu ter me esquecido disso.

— O que aconteceu? – Questionou, preocupado. — O que houve com seu rosto? Não me diga que aquele drogado te bateu, eu acabo com a vida daquele merda! – Acabei rindo com sua ira, ele não sabia da prisão do Eric, na verdade, ele não sabia de nada e se dependesse de mim, continuaria assim.

— Não foi nada, eu que acabei surtando! – Em um momento de descontrole, acabei marcando meu rosto com minhas próprias unhas. — É sobre isso que eu quero falar! – Relatei o meu desejo. Era hora de me retirar de cena e ocupar a mente com coisas novas.

Ou até mesmo, pessoas.

Seria bom poder ajudar com os assuntos da empresa, enquanto nossos pais estivessem fora. Soaria como uma redenção, uma forma de dizer que eles podiam contar comigo também.

— Podemos conversar sobre isso amanhã? Estou cansado e te conhecendo bem, sei que é fogo de palha!

— Posso pedir só mais uma coisinha? – Mudei o tom de voz, me preparando para o próximo pedido. Ele deu de ombros e eu prossegui. — Posso dormir aqui com você?

Ambos rimos.

De um dia horrível, pude extrair o melhor dele: A reconciliação com meu irmão.

***

Me acomodei na cama de Eduardo enquanto ele se aprontava para o banho, foi decidido que ele escolheria o gênero de um filme. Sempre fui apontada pelo meu péssimo gosto e eu jamais permitiria que ele risse de mim, não sem poder revidar.

Senti minha paz ir embora quando meu celular notificou, uma mensagem:

"Manuela dormiu com seu homem e hoje você dorme com o dela! Uma pena não poder fazer com ele o que sua amiga fez com seu amado Eric."
                               
Inferno!

Sábado, 10:27 da manhã.

A última vez que eu tive contato com meus amigos foi há quatro dias, inclusive com Arthur.

Esses dias que passaram foram como um divisor de águas, eu mantive minha cabeça ocupada ajudando meu irmão e nossa relação estava cada vez melhor.

Acordei mais cedo como de costume, fiz minha higiene e me arrumei para o dia que logo se iniciaria. Coloquei uma calça jeans clara, um allstar branco e uma blusa preta de malha. Penteei meu cabelo de acordo com o padrão exigido para todos os funcionários, não queria que me tratassem diferente por ser a filha do dono. Mesmo não aceitando mordomias, algumas eram bem agradáveis, como por exemplo, ter um dos carros da empresa disponível para me buscar em casa, era horrível ter que pegar ônibus.

Dado quase o horário, bateram na porta. Peguei minha mochila e o restante dos meus pertences e corri para o hall de entrada, pensando ser o motorista. Não havia ninguém, exceto um carro parado não tão longe. Eu podia jurar que estava sendo observada, por fim era só impressão. Coloquei meus fones de ouvido e fiquei esperando pelo profissional, quando senti um forte impacto contra o meu corpo.

Com toda covardia, cobriram minha cabeça com um tecido escuro. Minhas mãos foram presas e colocadas para trás, também me jogaram em um veículo, deduzi.

— Ora, ora! Agora você quer ser valente? – Sua voz não me era estranha.

— Sou mais corajosa que você, caso contrário, você deixaria eu ver seu rosto! – Retruquei. Apesar do medo, eu descobriria quem era a pessoa das mensagens, eu saberia o motivo de tanto ódio.

***

Rodamos mais um pouco, até pararmos. A pessoa me tirou do automóvel e me levou pelo braço até um local com escadas. Depois de tropeçar em alguns degraus e ser arrastada como uma indigente, chegamos no topo do andar. O pano foi retirado da minha cabeça e, embora minha visão estivesse turva, consegui reconhecer seu rosto.

— Você? Eu esperaria isso de qualquer um, menos de você!

— Chega de drama, tá legal?

— Francamente, eu não queria estar na sua pele quando todos descobrirem! Você se superou, eu não esperava isso de você, Nicolas!

Aprendi da pior forma que quem puxa saco, puxa tudo, inclusive o tapete.

— Ninguém nunca vai descobrir, sabe por quê? Porque você não vai estar aqui pra contar!

— Eu tenho pena do Eric por acreditar em você! – Expus. — Pior é minha amiga, que te ama!

— Você é chata, hein? Sempre falou demais! – Ele me levou até a ponta do pavimento superior, estava muito escuro. — Essa é a melhor parte, eu chamo de "Pulo suicida!" – Continuou. Ele estava fora de si, eu não pularia de jeito nenhum, totalmente dissimulado.

— Andou fumando maconha estragada? Eu não vou pular daí, você está louco!!

— Você pode até não pular, mas eu vou acabar com a vida do Eric, da Manuela e até mesmo da Laura! – Me pressionou. — Eu estarei tão próximo que você não terá a mínima chance! E então, quais são as suas últimas palavras, querida?

Me dei por vencida e deixei escapar um intenso arquejo:

— Eu espero que você queime no inferno, Nicolas!

*

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