Capítulo 14

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Segunda-feira, 11:36 da manhã.

Tentei firmar minha visão contra a forte luz que invadia o ambiente, minha cabeça doía e meu corpo estava desgastado, como se tivesse sido pisoteado por uma manada de elefantes.

— O que aconteceu? – Murmurei em busca de respostas, enfraquecida demais para pensar em uma razão plausível que explicasse o fato de eu estar em um leito hospitalar. No meu braço havia um catéter engatado que limitava minha movimentação, que junto a bolsa de soro, auxiliava a infusão do medicamento que gotejava pausadamente. Olhei ao redor ainda debilitada e pude identificar o homem de cabelos escuros que estava de costas para mim, encolhido em uma poltrona não tão confortável. — Arthur, está acordado? – Chamei por ele, que parecia apenas descansar.

— Santo senhor, graças à Deus! – Agoniado, ele veio até a mim e com ternura, acariciou meu rosto.

— O que aconteceu? – Perguntei mais uma vez, visto que meu estado confusional ainda estava em evidência.

— Você passou mal, ficou tão nervosa que precisou ser medicada. – Sem graça, sorri à medida em que ele esclarecia os fatos. Não queria parecer vulnerável, ainda mais na frente dele.

Crise de ausência, as pessoas poderiam se informar mais sobre ela.

— E meu irmão, ele sabe que estou aqui?

— Sim, quando você perdeu os sentidos e desmaiou no meu carro, eu tive que correr para o hospital, o que ocasionou um certo alvoroço na recepção quando entrei com você em meus braços. – Eu queria poder me enfiar em um buraco, embora já estivesse no fundo do poço. — Felizmente, depois que tudo se tranquilizou, uma amiga sua me reconheceu e além de passar o número pessoal do seu irmão, acabou me alertando também sobre sua alergia a carbamazepina.

Senti todo o meu rosto mudar quando a tristeza nublou minhas feições. Meus olhos lacrimejaram pela vergonha, principalmente, por sentir que Arthur estava distante e o pior de tudo, com razão.

Quem ficaria com alguém incapaz de controlar a própria condição neurológica?

— Eu não lembro de muita coisa, sinto muito por fazer você passar por isso. – Assumi e ele retribuiu o sorriso, apesar da estranha sensação.

— Atente-se em sua recuperação, ligarei para o Eduardo para que ele possa vir te buscar.

Pelo o que foi dito, eu teria alta assim que acordasse, em virtude do meu estado, que não era grave.

E tudo por causa dele, tudo por causa do Eric.

Sudorese excessiva, baixa coordenação motora, fadiga, convulsões e até desmaio. Quem diria que um pico de estresse levaria a queda de hormônios importantes, como o glucagon e o cortisol.

Considerei que a ressaca moral não me assombraria, não desta vez.
Mirei em torno do quarto e percebi que ao meu lado havia um jarro com flores, margaridas brancas.

— São as minhas favoritas, foi você quem trouxe? – Perguntei para Arthur, que ocasionalmente entrou no quarto.

— Não, sua amiga! Parece que elas sabem muito sobre você! A propósito, seu irmão está vindo e eu preciso ir. – Em um sorriso melancólico ele anunciou sua partida, me deixando só e a espera de Eduardo.

Não quis forçar uma cena, então apenas o agradeci. O medo de ouvir de sua boca o motivo pelo qual ele estava se afastando era maior que a minha curiosidade.

***

Quando meu irmão chegou a bolsa de soro já havia sido retirada. Confesso ter burlado a bomba de infusão acelerando o gotejamento do medicamento glicosado e assumo também que não foi uma boa idéia, já que agora eu estava duplamente enjoada.

Ele mais do que ninguém sabia o quanto eu odiava aquele local, desde o último dia dos pais...

"Estou me sentindo fraca, acabei de passar por uma lavagem estomacal e a última coisa que eu preciso é que o senhor grite comigo!" – Manifestei para meu pai, que ficou mudo. "Se chama fim de semana dos pais por um motivo, se você tivesse o trabalho de ler minhas mensagens saberia que estou aqui, era pra você estar aqui! Aposto que se fosse o seu filho Eduardo quem estivesse em um hospital, o senhor estaria ao lado dele, e não gritando do outro lado do telefone!"

É incrível aonde se pode chegar sem o amor paterno.

— Você nos deu um susto e tanto! – Eduardo rompeu o silêncio enquanto seguíamos em direção ao carro, poupando-me de um silêncio perturbador.

— Por favor, não conte aos nossos pais, eu realmente não tive culpa dessa vez! – Clamei levantando ligeiramente o dedo mindinho, abatida.

— E o que eu ganho em troca? – Ele sorriu e também ergueu o dedo, pude suspirar aliviada. No fundo eu sabia que não conseguiria lidar com mais uma rejeição.

Eric e Manuela, Elisa;
Arthur.

— Você sabe se as meninas foram me visitar? – Em meio a frustração eu acabei esquecendo de perguntar o nome da amiga que esteve presente, queria agradecer pelo mimo e o zelo por lembrar da minha alergia.

— Bom, Manuela eu sei que não, a Laura eu não tenho certeza!

— Tudo bem, falarei com ela mais tarde. – E depois disso, seguimos em silêncio até chegar em casa, não tinhamos muito o que conversar. Entrei e fui direto para o meu quarto, ansiando veementemente tirar o cheiro de derrota que impregnava em meu corpo. Antes de ir para o chuveiro, decidi ligar para minha amiga, que pareceu surpresa ao me atender, feliz. — Laura, você foi me visitar ontem? – Perguntei a ela, mas diferente do que imaginei, ela não sabia da minha pernoite hospitalar.

— Tentei te ligar diversas vezes, mas seu celular estava desligado. Não sei se você soube o que aconteceu. – Involuntariamente senti meu coração se afligir em uma intuição negativa, acentuada. — Eu perdi o acesso à minha conta do Facebook, tentei redefinir o meu e-mail incansavelmente e quando finalmente consegui, haviam mensagens inbox não tão agradáveis, mandarei print no whatsapp! – Ela concluiu e encerrou a ligação, dando importância ao aplicativo.

"Pressuponha quando descobrirem que NENHUM homem adulto que se relaciona com uma adolescente é de bom caráter? Não há excessão que justifique o desejo sujo em ingenuidade e permissividade."

Malditos! De todas as pessoas, me afastar de um policial civil era o mais conveniente, para não dizer, genial.

*

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