Capítulo 30

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Distraída enquanto contava as cédulas, me afastei do condomínio. O valor que Manuela havia me dado - que não era muito - me ajudaria por um tempo; aposto que ela pegou esse dinheiro nas coisas do meu irmão, mas eu não julgo, inclusive já fiz isso várias vezes. Virando alguns quarteirões à frente, me deparei com o carro de Arthur, droga. Por instinto dei meia volta na intenção de me esconder, mas não deu certo, ele já tinha me visto e de nada adiantou. O que ele estava fazendo na rua tão cedo e na direção da minha casa? Estacionando diante de mim num falso sorriso moralista, ele ordenou que eu entrasse no carro. Apressei os passos e pedi que me deixasse em paz, deixando-o furioso.

Conforme me afastei, Arthur voltou a me seguir. De certo que estava se divertindo com a situação, já que havia um enorme e desagradável sorriso estampado em seu rosto. Insistindo para que eu entrasse no automóvel, sua incitação transformou-se em furor quando me abstive de sua presença, ignorando-o. Ele saiu do carro e em questão de segundos já estava ao meu lado, me segurando pelo braço e forçando a minha entrada no veículo. — Estou de saco cheio dessa sua brincadeirinha e excesso de delicadeza, lido com bandido o tempo todo! – Sua brutalidade fez-me recuar, enquanto ele abotoava freneticamente o cinto de segurança ao lado do banco do motorista. — O que você acha que sabe? – Perguntou de maneira sistemática, mas não respondi sua questão. — Me diga!!! – Bateu com as mãos no volante. — O que você acha que sabe? – Visto que sua pressão psicológica não funcionou, ele ligou o comutador de ignição e partiu. Algumas pessoas podem verdadeiramente te destruir, por te conhecerem mais do que você mesmo. Elas te apresentam um falso conforto, te fazem sorrir e revelam características suas que nem você mesmo conhecia. Sentimentos como a lealdade e cautela passam a predominar, causando um efeito positivo em você, que quando percebe, se vê dependente do outro.

Bom, não era segredo que eu já sabia de tudo, mas também não fiz questão alguma de esconder. Reconheci que não tinha escapatória e o confrontei. 

— Sabe, você quase me enganou! – Mencionei. — Pera, quem estou tentando enganar? É claro que você me enganou! Eu até achei que você gostasse de mim, mas daí eu descobri tudo, descobri sobre a Marie, e cara, ela é idêntica a mim, vi uma foto dela sem querer! – Seu rosto embranqueceu com o enunciado. — Quer dizer, pelo menos era, se ainda estivesse viva! – Diferente do que imaginei, Arthur liberou uma forte e intensa gargalhada. 

— Seus pais não ensinaram que bisbilhotar as coisas dos outros é falta de educação? – Franziu o cenho. — Ah, é verdade! Eles não se importam com você! – Fiz o possível para não ricochetear sua afirmação, mas ele sabia muito bem como me atingir. Só então tive a coragem de erguer o olhar, busquei a paixão que havia brotado entre nós, mas eu não podia continuar vendo-o daquela forma. — Quem sabe você teria um pouco mais de ética, caso seu pai cumprisse com o papel dele? Mas pelo visto, ele anda bastante ocupado infringindo o sistema financeiro nacional!

No início achei difícil acreditar que ele fosse capaz de mentir para mim, no entanto descobri quem ele realmente era. Durante o trajeto notei que não havíamos ido muito longe, Arthur dirigiu até uma praça e estacionou. Apesar do horário, já haviam pessoas nas ruas, alguns passeavam com seus cachorros e outros, exercitavam-se. 

Não posso negar que de fato fiquei surpresa - e curiosa - por ser levada até um local público, depois de tantas acusações, jurei que ele daria um jeito de acabar comigo.

— O engraçado é logo você achar que tem moral alguma para inventar qualquer coisa a respeito do meu pai! – Revirei os olhos e tentei sair do carro, mas não consegui. Meu genitor podia ser o que fosse, entretanto era honesto. — Enquanto estava comigo, era nela que você pensava? 

— A Marie está morta!!!! – Seu tom de voz bradou no veículo, seguido de um breve sussurro.

— E eu não vou acabar feito ela!! – Gritei mais alto ainda. Em um momento de descontrole, cravei minhas unhas no rosto, marcando-o. Também estirei alguns fios de cabelo e pela primeira vez, odiei minha aparência. — Eu me pareço com ela agora? 

Cyberstalking - Além do que se vêWhere stories live. Discover now