Capítulo 22

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Sexta-feira, 13:18 da tarde.

Apesar de conturbado, os últimos dias passaram e com eles, todo mal entendido. Resolvi apagar da memória o passado e passei a viver minha vida desde então. Realizei minha rotina matinal diária e tirei um tempo para cuidar de mim, priorizei minha atenção com os essenciais cuidados para a pele e cabelos, que digam-se de passagem, estavam mega ressecados. Após a aplicação dos produtos, resolvi preparar um almoço para Eduardo, queria demonstrar a ele minha gratidão. Coloquei o extrato de tomate no fogo e o macarrão do tipo conchiglione na água fervente, enquanto a máscara capilar atuava nos fios. O prato em si era algo bem simples e prático de se fazer, o que tornavam as coisas ainda melhores, uma vez que meu irmão preferia almoçar em casa do que na rua, por conta de seu refluxo gastroesofágico.

— Credo, você está horrenda! – Eduardo comentou. Eu estava tão focada de olho nas panelas que nem vi sua chegada.

— Obrigada, é o preço da beleza! – Assegurei. — Minha contribuição para a sociedade é essa, ser bonita! – Sentando-se no balcão americano que ficava entre a cozinha e a copa, Eduardo expressou uma reação engraçada com minha fala.

— Conchiglione, tá de sacanagem? Eu adoro!

— Eu sei, por isso eu fiz!

***

Fazendo jus ao sistema digestório, meu irmão e eu descansamos um pouco depois a refeição. Eduardo teve que voltar ao trabalho logo em seguida e eu fiquei com as tarefas da casa, incluindo a louça do almoço. Quando realizadas, selei meu self-care com um banho refrescante e voltei a sala. Numa escuridão propositalmente ocasionada, maratonei minha série favorita, the originals.

No finzinho da tarde o silêncio foi interrompido por batidas na porta, dei pausa na Tv e fui até ela, minha fisionomia transformou-se em espanto e minha face dura quando a abri.

— Por favor, queira me acompanhar! – Arthur exibiu seu distintivo e numa ação precipita tentei fechar a porta, entretanto ele foi mais ágil.

— O que faz aqui? Eu não tenho nada para falar com você!!

— Ainda não percebeu que essa não é uma visita informal? Ande, entre logo nesse carro que eu não tenho tempo a perder, ou eu mesmo irei colocá-la a força! – Ridículo, estava me tratando feito uma criminosa por pura vaidade! Entrei em casa, peguei minha carteira com documentos e depois o segui até seu veículo, fui em direção a porta traseira porém ele pediu que eu o acompanhasse ao seu lado, no banco do passageiro.

— Eu preciso entrar em contato com meu advogado! – Comuniquei.

— Claro, é um direito seu e eu mesmo farei isso quando chegarmos! – Arthur deu partida na ignição e dirigiu em vereda ao polo regional.

Pouco a pouco a cidade foi ficando para trás, o trajeto que ele seguia não era o mesmo que o da delegacia e quanto mais longe eu parecia ser levada, mais assustava eu ficava.

— Aonde está me levando? Eu quero descer agora, pare já esse carro! – Ordenei e ele sarcasticamente riu. Arthur dirigiu por cerca de alguns quilômetros até estacionar em uma rua incerta. Os pinos das travas de segurança estavam sob o seu domínio. — Você está me assustando, por favor, deixe-me ir!

— Acha que eu faria algo contigo? Acha mesmo que eu machucaria você? – Indagou seriamente. — Só fiz isso porquê você não viria por vontade própria! – Arthur soltou o fecho do cinto de segurança e inclinou o corpo ao banco traseiro, meus olhos se perderam em sua imagem que estava extraordinariamente bem-apresentada. Arthur vestia uma calça de linho na cor preta, tênis social e um suéter azul, seu cabelo estava completamente igualado para trás, num topete baixo. — Seu celular, preciso dele!

— O que vai fazer?

— Me dê o seu celular! – Entreguei a ele o aparelho, que discou a sequência *#21# — Como imaginei! – Ele abriu o aparelho e retirou o chip. — As chamadas estão sendo desviadas, toda ligação que você faz ou recebe está sendo encaminhada para alguém, só não sabemos quem! – Meu corpo se curvou com pesar. — Pegue isso, vai ajudar por um tempo! – Ele estendeu a mim uma embalagem feita de papel reciclado, e dentro dela havia uma caixa com um aparelho celular novo, acompanhado de um novo número.

— O que te faz pensar que eu vou aceitar ou acreditar no que diz? 

— Escute bem o que eu vou te dizer! – Declarou. — Eu não sabia do outro lado da história, só fui te reconhecer como a jovem do assalto no dia que eu fui até sua casa. – Explicou de forma séria. — Tudo aconteceu sem pretensão alguma, desde o atropelamento até o dia que eu me envolvi com você.

Ah Arthur, fala sério! Você acha mesmo que eu vou cair nessa sua história? Quais as chances disso acontecer? Mínimas!

— Não preciso mentir, não desceria a tal nível somente para impressionar uma fedelha! – Retrucou. — Te reconheci pelo olhar através do espelho prismático, só que também não posso negar que me encantei, você é uma garota agradável aos olhos! Só tive a certeza de que era você quando vi uma foto sua com a Laura, na sua sala. 

— E por que não disse isso antes? Por que permitiu que eu me envolvesse emocionalmente com você?

— Porque é só através do fracasso que o verdadeiro caráter é revelado! Eu queria ouvir de você, da sua própria boca! No fundo eu sempre soube que era uma boa pessoa!

— Eu não consigo acreditar em você, não mais! – Lágrimas brilharam em meus olhos, enquanto eu tive que lutar contra elas. Todos ao meu redor me traíram e me magoaram, exceto Laura, amizade como a dela era difícil de encontrar.

— Tem razão de não confiar em mim, estamos falando de algo sério, algo verdadeiramente grave! Estamos falando de alguém que tem uma ideia fixa em você, obsessiva! Essa conduta antecedente raramente leva ao cárcere e é nessa brecha que devemos ficar atentos, já que para essa pessoa ela é a vítima da história, e não você.

— Por favor, me leve de volta para casa! – Pedi e ele assentiu.

O caminho inteiro fui pensando no que fazer, ou seria melhor deixar pra lá? Talvez uma viagem me faria bem, sumir do mapa e da pacata cidade onde todo mundo conhecia todo mundo. Arthur me deixou na porta de casa e eu o agradeci pelo celular novo, entristecida por sentir falta da minha antiga vida, quando eu não era alvo de um ou uma psicopata.

— Eu voltarei a te ver? –  Perguntou antes de destravar as portas.

— Não confunda as coisas, sou grata por tudo que tem feito e pelas informações, mas a partir de agora eu vou lidar com isso junto à minha família!

— Tudo bem, não esqueça que você está lidando com ameaça, lesão corporal e sequestro. Não vou ficar sentado esperando que chegue até o último estágio, a morte! – Ele levantou seu olhar ao meu e continuou. — Eu vou descobrir quem está fazendo isso com você, minha pulguinha.

— Não quero que me chame assim, até porquê ontem mesmo eu pude ver o que acontece dentro da sua sala, precisamente, em cima da mesa, excelentíssimo senhor! – Afirmei e saí de dentro do seu carro, sem que ele pudesse ter a chance de se explicar.

*

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