Epílogo

880 117 161
                                    

Cinco meses depois.

  Por mais que doesse, vivenciei meu irmão ser condenado em regime fechado. Eduardo foi sentenciado a vinte e oito anos de reclusão por dupla tentativa de homicídio qualificado, com um acréscimo de três anos e sete meses pela insensibilidade moral, e mais seis por motivo fútil, resultando em quase quarenta anos. A condenação de Manuela foi inferior, sentenciada por apenas treze anos, a cúmplice de meu irmão ainda ganhou o direito de responder o processo em regime semi-aberto.

"Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade."

*

Arthur de fato perdeu seu distintivo, deveras, entregou por livre e espontânea vontade. Seu superior, que agora também me tinha como filha, surtou com sua decisão, mas no fim acabou aceitando a escolha do jovem rapaz, que optou por levar uma vida mais tranquila. Quando finalizei o ensino médio, minha ideia inicial era cursar administração, confesso que a escolha foi tomada na intenção de agradar meu pai. Decidi então prestar vestibular e me inscrevi no curso de serviço social. Arthur embarcou comigo nessa pseudo loucura, registrando-se em sistemas de informação.

— Você fica bonito assim! – Falei para ele, que estava ao meu lado, no sofá. Arthur usava uma bermuda básica de cor bege e uma camiseta lisa, na cor branca. Suas pernas estavam dobradas numa posição estranha e seu rosto demonstrava uma seriedade acentuada, enquanto encarava a Tv e manuseava o controle do videogame.

Depois do ocorrido, não consegui voltar a morar na casa dos meus pais e por isso, aceitei o convite de Arthur para viver junto dele. Arrumei um emprego, o que não foi tão difícil, o sobrenome Rivera ainda era muito influente. Já meu namorado, uma vez ou outra trabalhava como detetive particular, Freelancer. Ele nunca rejeitou trabalho, era mais pela emoção, e não por dinheiro.

Meu namorado, como eu gostava e enchia a boca pra falar isso. Meu namorado, e só meu.

— Você também fica bonita assim! – Sorriu e me olhou de soslaio. — Usando pijamas! Há quanto tempo não penteia o cabelo? Três dias?

— Quase isso! – Arremessei uma almofada em sua direção. O pequeno mercado em que eu trabalhava estava em reforma, e meu querido patrão me presenteou com alguns dias em casa. A melhor parte? Sem descontar do salário!

Meus pais ainda insistiam em mandar dinheiro, entretanto, Arthur e eu combinamos juntos que somente aceitaríamos para que eles não ficassem chateados. Eles estavam tentando ser mais presentes, até com Eduardo, que estava na prisão. Falando em bagagem do passado, Arthur também se desfez das lembranças de Marie, não era saudável.

Arthur não tinha a chave do meu coração, ele sempre esteve aberto para ele. Perto dele eu não precisava me diminuir, minha grandeza era apreciada, até minhas piadas ruins. Não que eu precisasse dele para me sentir completa, pelo contrário, ao seu lado eu queria ter tudo.

Queria ter um gato, um hamster e um peixe dourado, queria ter alguém que me esperasse em casa depois de um longo dia na universidade, alguém que preparasse receitas esplendorosas junto à mim, uma foto minha no porta-retrato. Queria ter alguém que também se assustasse com apelativos filmes de terror, para que eu não me sentisse tão boba por isso.

Eu queria tê-lo para mim, e para sempre.

Ou até quando Deus permitisse.

— Eu te amo! – Declarei com toda honestidade.

— Eu também!

*

Cyberstalking - Além do que se vêWhere stories live. Discover now