Capítulo 25

894 115 373
                                    

   Sábado, 6:41 da manhã.

Despertei com o som ranhento de um móvel ao se abrir, sempre tive o sono moderadamente leve, para não dizer, excessivo. Ao abrir os olhos, deparei-me com Arthur vasculhando suas coisas, certamente buscava por algo em sua mesa de cabeceira. Quando notou que acordei com o barulho que o próprio causou, o policial sinalizou pedindo por silêncio, visto que minha amiga ainda dormia ao meu lado. 

Discrição não era o seu ponto forte, embora fosse uma exigência crucial em sua carreira. O objeto que ele portava em mãos parecia ser couro, todavia, sintético. Tratava-se de um coldre velado, deduzi. 

— Que horas são? – Seguindo-o até a sala, perguntei. Informando ser quase sete, Arthur sentou-se no sofá e desabou, estava exausto. Eu nunca havia parado para pensar no quão desgastante era sua função, até vê-lo daquele jeito. — Está com sono? Gostaria de ir para o seu quarto? – Laura ainda dormia, mas eu chamaria por ela, se necessário.

— Por incrível que pareça, não! – Respondeu devagarinho. — Só com dor de cabeça! – Arthur explicou que ao longo da noite, passou a recolher dados referentes ao requerimento e ações executadas por um dirigente empresarial, que no caso, estava envolvido no esquema de evasão de divisas. Isso acontece quando o tratante envia dinheiro ao exterior sem declará-lo à repartição federal competente. Sem pretensão de me aprofundar no assunto, transitei em direção a cozinha e com o pó, preenchi a cápsula da cafeteira. Por muito tempo ouvi dizer que a cafeína contribuía no combate a certas dores de cabeça, apesar da informação ter sido obtida através de procedências duvidosas. 

Coloquei a bebida quente em uma xícara apropriada e levei até o investigador, que estava deitado no sofá, largado. Olhando para cima, demonstrando estar pensativo, sorriu ao meu ver quando meus quadris apareceram em sua visão. Estendi a xícara de café a ele, que oferecendo um sorriso afetuoso em troca, sentou-se e recebeu o utensílio, de bom grado. 

Enquanto o olhava, percebi que seus olhos representavam mais cansaço do que aparentavam, e que seus ombros desleixados mereciam uma massagem. Sentei-me ao seu lado, afrouxei sua gravata e sem desviar meu olhar do dele, prossegui com o feito. Depois, com os joelhos dobrados sobre o móvel, onde fiquei um pouco mais alta que ele, pressionei meus dedos na área em que os ombros e pescoço se encontram, e felizmente, o fiz suspirar aliviado.

— Tem certeza que não quer ir descansar no seu quarto?

— Ainda está chateada? – Com diligência, indagou.

— Por que estaria? 

— O lance com seu pai! – Como eu poderia? Meu pai tem passado mais tempo com meu irmão, por outro lado, era compreensível. Além de perfeito, Eduardo tem sido seu braço direito, um vencedor! Na verdade ele venceu quando nasceu com um pênis. 

— Não, eu tenho outras prioridades no momento, meu pai não é uma delas! – Garanti. — Mas você, sim! – Admitir estar apaixonada era o preço a ser pago, apesar de não acreditar em destino. — Eu estive pensando no que disse ontem, sobre eu te apresentar como meu namorado, você falava sério ou estava zombando? – Por Deus, que eu não estivesse errada em relação a isso. 

— Positivo; no entanto, depende da sua resposta! Se você negar, tomarei como verdade que tudo não passou de uma brincadeira! – Acabei rindo de sua metáfora. Ele, que ao meu ver sempre foi muito seguro de si, exalava variabilidade.

— Então eu quero, Arthur! Eu aceito ser sua namorada! – Sobrepus o pires que estava em suas mãos na mobília centralizada e o abracei, maravilhada. 

Hoje em dia quando lembro do passado, não me reconheço. Felizmente meu orgulho não me impediu de voltar atrás e segurar minha própria mão. Havia uma euforia generalizada dentro de mim, por finalmente as coisas estarem voltando aos seus devidos lugares. De longe, minha melhor decisão foi revelar que errei e assumir a culpa do assalto. Meu ato custou minha soberania, paguei caro por isso e de quebra, ganhei um perseguidor na minha cola.  

Cyberstalking - Além do que se vêWhere stories live. Discover now