Capítulo Cinco

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BENJAMIN


Caleb enviara uma mensagem para Olivia dizendo que ia se atrasar mais um pouco devido ao congestionamento no trânsito, mas que poderíamos começar a comer sem a sua presença. Porém, Olivia, como a boa anfitriã que é, decidiu que iríamos esperá-lo chegar para que pudéssemos comer todos juntos e ajudou a mãe a cobrir alguns pratos que já estavam postos à mesa. Quando Lilian notara a minha presença, gentilmente me cumprimentou, perguntou como eu estava e me abraçou carinhosamente, demonstrando um afeto especial. De longe, Austin me fitava de maneira sutil. No momento em que Lilian se afastou e chamou Alicia para ajudá-la em algo na cozinha, ele se caminhou casualmente na minha direção e aproximou-se com todo a cautela, como se eu fosse atacá-lo abruptamente.

— Fica tranquilo, cara. Eu não mordo. — Encolhi os ombros.

— Poderíamos conversar lá fora? — Sugeriu. — Por favor, é importante para mim.

Por um momento, hesitei. Mas, "Por favor" e "importante" na mesma sentença geralmente tende a me deixar intrigado, independente de quem e do que seja.

— Tudo bem. — Enfiei os dedos nos bolsos frontais da minha calça jeans e ele abriu a porta, permitindo passagem para que eu fosse na frente. Logo em seguida, ele passou e fechou a porta atrás de si. Caminhamos até o jardim onde Elena e eu conversamos pela última vez. Estava um pouco diferente, uma decoração nova ali e acolá, mas continuava o mesmo lugar. — Então... — Pigarreei — sobre o quê você quer conversar comigo? — Cruzei os braços.

— Relaxa, Benjamin! Você não precisa ficar na defensiva comigo. Não estamos mais no Ensino Médio. — Sorriu de lado e gesticulou para que sentássemos na grama. — Mas... — Grunhiu enquanto sentava — é sobre alguém do Ensino Médio que eu gostaria de conversar com você.

— Austin, olha... — Passei a mão pelos cabelos, já desconfortável.

— Ben, só me ouça... ok? Por favor...

Após um longo suspiro, assenti.

— Tudo bem.

— Cara, eu não sei por onde começar... — Abraçou as suas pernas — por incrível que não pareça, isso tudo é tão delicado para mim quanto para você. Sei que são situações e papeis completamente distintos, mas, ainda sim, é delicado. — Fixou o seu olhar no meu, como se a verdade das suas palavras fizesse algum sentido para mim. — Quando eu conheci a Elena, não vou ser hipócrita e dizer que ela não me atraiu e não me despertou interesse porque isso seria uma "mentira cabeluda" como dizem por aí. Ela mexeu muito comigo, muito mesmo; assim como ela mexe e continua mexendo com você, Ben. Mas, desde o princípio, sempre soube que o coração da Elena pertencia à outra pessoa. A palavra "pertencer" as vezes traz uma ideia de possessão e pode ser assustadora; porém, nesse caso, com você, essa palavra trouxe um sentido diferente, sabe? É sobre encontrar-se, finalmente, em um lugar que, coincidentemente, tornou-se alguém. E esse alguém era você, Benjamin... ele é você! Sempr...

— Austin, espera. — Interrompi-o. Por estar um pouco nervoso, um sorriso sarcástico formou-se e escapou dos meus lábios. — Você sabe perfeitamente que todo esse discurso é pura ironia, não sabe? — Ele franziu a testa, confuso. — Como você pode dizer que eu sempre fui alguém cujo o coração da Elena pertenceu, quando, na verdade, a pessoa que ela realmente tanto quis ao lado era... você?

— Por que você está falando uma coisa dessas?

— Porque não é tão óbvio?! — A minha voz sobressaiu um pouco. — Lembra daquela vez em que, coincidentemente, nós três chegamos atrasados na escola e eu encontrei-os juntos enquanto esperavam o sinal para a próxima aula? Antes de pigarrear, alto o suficiente para que a Elena pudesse se assustar com a minha voz, eu estava observando os dois de soslaio. Vocês estavam numa espécie de bolha que sequer tinham notado a minha presença antes que eu mesmo pudesse declará-la. E eu vi, Austin... eu vi como a Elena estava e sentia-se confortável ao seu lado...eu vi como ela te olhou discretamente e observou o seu rosto em milésimos de segundos... — Balancei a cabeça rapidamente. — Você era a única pessoa que poderia proporcionar a estabilidade que ela tanto merecia e precisava naquele tempo; o que eu poderia fazer a respeito disso?

Ao ouvir as minhas palavras, Austin ficou em silêncio durante um bom período, pensando e processando o que acabara de ouvir.

Quando achei que ele não falaria mais, e impulsionei o meu corpo a fim de levantar-me, a sua voz interrompeu-me subitamente:

— Você realmente faz ideia do que acabou de me dizer? Realmente faz ideia do que tem pensado ao longo de todo esse tempo a respeito disso? — Coçou a sua nuca, rindo baixinho. — Chega a ser engraçado e irônico como, ao mesmo tempo, você e a Elena compartilham linhas de pensamentos quase que iguais.

— Como assim "quase que iguais"?

— No seu caso, você tem certeza do que acabou de me dizer, enquanto a Elena ficou perdurada em uma dualidade.

— Por favor, fale o meu idioma.

— Você compartilha um pensamento de que eu poderia ser a pessoa certa para a Elena, a pessoa que proporcionaria estabilidade e saúde em um relacionamento com ela, enquanto a Elena compartilha o pensamento de "E SE" fosse diferente, o que ela poderia ter, mas não teve, e tudo bem quanto a isso.

— E qual é a graça e ironia nisso tudo?

— Vocês dois, principalmente você, foca muito no que a Elena poderia ter se estivesse comigo e não quem eu poderia ser para ela; mas principalmente, quem ela seria se estivesse ao meu lado.

Esfreguei as mãos no meu rosto freneticamente e sentia que a minha cabeça estava dando um nó. Ele estava tornando a minha linha de raciocínio cada vez mais confusa.

— Meu Deus do céu, Benjamin! — Austin prosseguiu: — Não é sobre o que a Elena poderia ter, mas é sobre quem a Elena seria e o que ela teria por ser quem estaria sendo ao lado de alguém que merecia estar ao lado dela, independente de! — A empolgação no tom da sua voz foi completamente assustadora. — Quando é que vocês dois finalmente irão entender que relacionamentos perfeitos não existem? Que pessoas perfeitas não existem? Que eu não sou perfeito? — Passou a mão pelos cabelos. — Enquanto você achava que não estava oferecendo ou sendo o suficiente para ela, pelos seus problemas ou seja lá pelo quê estivesse passando, eu só gostaria de estar no seu lugar e ter o que você tinha, ainda que fosse um pouquinho... porque sempre foi você, Benjamin! O coração da Elena, desde o mero início, sempre foi seu e todo mundo sabe disso! Não importa o quão especial ela seja para mim, não importa o quanto eu gostaria de tê-la ao meu lado dessa forma, porque, no final do dia, a Elena sempre acha o caminho de volta para você... e tem sido assim ao longo de todo esse tempo. — Pausou. — Nunca tentei tirá-la do seu lado. Nunca achei que tivesse a chance de conquistá-la mesmo quando haviam terminado o relacionamento; principalmente agora com toda essa distância que separa os dois. — Suavizou a voz: — Nunca quis ser o vilão da história, Ben. A única coisa que eu sempre quis foi ver a Elena feliz; e eu sei que a felicidade dela é ao seu lado... sabe por quê? Certa vez o meu avô me disse o seguinte: "Meu filho, uma coisa que eu aprendi ao longo dos anos, em meios às experiências, é que amor e felicidade caminham juntos, atrelados, atravessando os obstáculos que essa linha tênue chamada 'vida' coloca para nós. Quando duas pessoas se amam genuinamente, elas sempre acabam encontrando-se no caminho de volta. Ainda que cada uma esteja ao lado da linha, no final, sempre se encontram."

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora