Capítulo Quarenta e Um

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Os quinze anos da Olivia certamente estava destinado a ser um marco agridoce na vida de cada um ali presente: não apenas pelos novos ciclos, mas pelo fim de outros. No entanto, para cada situação há um marco, seja acre, seja doce... ou seja azedo, também. Compreender que a nossa vida é feita de ciclos, desde o primeiro inspirar até o último suspiro, cria em cada interior um pequeno jardim de resignação. Nem todos têm a coragem suficiente para resignar-se, pois é necessário ousadia e vigor para enfrentar as dificuldades da vida, seja ela qual for, não importa a sua magnitude.

O dia transcorreu ameno, embora eufórico para a aniversariante. Olivia estava mergulhada em um mix intenso de emoções e perdeu-se completamente na vastidão de seus pensamentos. Não conseguia deixar de trazer à tona a sua irmã Elena e o fato de, lamentavelmente, não ter podido comemorar os seus quinze anos da mesma maneira que ela, felizmente, está tendo a oportunidade de fazê-lo. Sabia que no fundo poderia estar transmitindo a ideia de tornar sobre a Elena o seu momento especial, mas Olivia se importava demais com a irmã para se importar se isso realmente estava acontecendo ou não. Lembrou dos tempos conflituosos, do sofrimento que presenciou quando o pai foi embora, de como a sua irmã ficara devastada com a ausência do pai. Houve momentos, até, em que ela achou estar perdendo a sua melhor amiga a cada dia que se passava. Era a sensação de ver alguém morrendo aos pouquinhos, e aquilo a torturava por dentro, mesmo sendo nova demais para vivenciar uma situação inteiramente delicada. Portanto, no seu dia especial, apenas gostaria de poder proporcionar à Elena a felicidade e a alegria que lhe foram vetadas, gostaria que a sua irmã pudesse sentir-se na sua festa de quinze anos, com direito à dança com príncipe e tudo mais.

Por outro lado, sabia também que, por melhor que fosse as suas intenções, tinha passado um pouco dos limites. Decidiu conversar com Benjamin e Elena a fim de apresentar o que estava se passando e o que havia planejado para o dia da sua festa, e ali foi informada de que a relação daquele casal tão amado por ela havia chegado ao fim. Como em um momento de epifania, sem ao menos perceber, Olivia finalmente compreendeu que aquela decisão era prudente e saudável para os dois, principalmente para a irmã que estava atravessando pelo mar de conflitos internos.

No salão de beleza, teve o seu dia de princesa ao lado da mãe. A tarde agradável envolveu-as numa bolha particular onde apenas Olivia e Lilian existiam. Conversaram bastante, riram à beça, comeram alguns chocolatinhos que Alicia comprara e compartilharam pensamentos sobre o futuro. Depois que o pai e a Elena voltassem para a Califórnia, sabia que iria demorar um pouco para vê-los novamente, porque tinha consciência de que a irmã precisaria de um tempo afastada para efetivamente refazer a sua vida; e que a partir de então seria somente elas duas, de mãos dadas, seguindo a vida com amor, cumplicidade, respeito e união. Claro que sempre haveria o Peter e o Will, afinal de contas as famílias Rose e Parker acabaram se unindo através de um elo invisível, uma linha tênue que nem eles mesmos conseguiam compreender ao certo.

Na volta para casa, já devidamente vestida à rigor para aquela ocasião especial, emocionou-se ao ver que todos estavam à sua espera, desejosos para celebrar ao seu lado mais um ano de vida que o seu Paizinho, como assim dirigia-se à Deus em suas pequenas orações durante a infância, concedeu-lhe bondosamente. Admirou-se com a decoração externa, por ser exatamente como gostaria que fosse e por estar do jeitinho que ela prepara com tanto afinco ao lado das pessoas que amava. Ainda no banco de trás, ao lado da mãe, abraçou-a em silêncio, sabendo que palavras não eram necessárias para transmitir o que transbordava em seu coração naquele momento, e por tudo o que sucedera ao longo dos anos, tendo a certeza, sendo lembrada todos os dias, que jamais estaria sozinha. Emocionou-se, ainda, ao ver o pai de prontidão perto da entrada, vestido em seu terno preto, com os braços na frente do corpo, como se estivesse à espera de sua princesa, e um sorriso singelo que reluziu nos seus lábios como nunca tinha visto antes.

Greg estava mudado, tornara-se um novo homem, e Olivia não poderia estar mais feliz e agradecida por tê-lo presente naquele dia, naquele momento, não apenas por sua causa, mas também pela irmã; não apenas como um convidado passageiro, mas como alguém que daria o braço para que ela pudesse atravessar os convidados, convicta de que iria permanecer ao seu lado, e ao lado das pessoas que estimava, até o último instante.

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now