FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2

Capítulo Trinta e Nove

ELENA

O aniversário de quinze anos da Olivia finalmente chegara. Parece até que foi ontem que sentávamos no meio da sala, com várias presilhas e ligas para cabelo espalhadas por todos os lados, e eu fazia penteados nos seus cabelos enquanto ela assistia aos seus desenhos favoritos na televisão. Apesar do que aconteceu entre os nossos pais, e apesar dos momentos difíceis dentro de casa por causa disso, construímos uma boa relação mesmo na presença de uma pequena diferença entre as nossas idades. Ao olhar para a Olivia agora, sinto orgulho da pessoa que ela está se tornando, da mulher que aos poucos ela está se transformando. Celebramos um dia completamente especial; afinal, não é todos os dias que uma garota completa quinze anos de idade.

Desconectei-me um pouco nos últimos dias desde a conversa no restaurante. Precisava de um tempo para mim, mas, principalmente, precisava passar um tempo de qualidade com a família. Conversamos, jogamos cartas, fizemos maratonas de filmes, Kyle cozinhou para nós, Luke e Olivia fizeram pizza caseira, e no fim todos nós aproveitamos a companhia um do outro. Em meio a esse tempo, conversei rapidamente com o Austin e com a Alicia, falei que estava bem, que Ben e eu praticamente havíamos chegado à uma conclusão juntos de uma maneira nada convencional. A minha viagem está chegando ao fim e logo mais precisarei desembarcar na próxima estação.

Mamãe e eu levantamos cedo, e fomos à padaria comprar os pães de banana que a Olivia tanto adora; compramos o suficiente para todos na casa. Em casa, mamãe preparou um latte para ela enquanto eu separava os pães da Olivia e passava pasta de amendoim. Por outro lado, papai, que despertara pouco tempo antes de voltarmos para casa, estava sentado na sala assistindo ao jornal matinal, entretido com as notícias, com a sua xícara de café na mão.

— É muito bacana ver vocês dois convivendo amigável e naturalmente dentro de casa. — Falei amável. — Sinto como se finalmente fôssemos uma família.

— Algumas coisas só funcionam se antes derem errado. — Mamãe sorriu gentilmente. — A vida é assim.

— Vocês são ótimos pais. Olivia e eu somos completamente sortudas, de verdade.

Mamãe sorriu com os olhinhos fechados, um pouco emocionada.

— Sinto muito por você não ter tido uma oportunidade como essa, filha. — Fez uma pequena pausa. — Uma festa de quinze anos.

— Mãe... — Balancei a cabeça, sorrindo de lado — tu sabes que esse tipo de coisa nunca foi muito a minha praia e que eu nunca fiz questão de querer algo assim. Diante de tudo o que passamos, apenas o fato de você ter estado ao meu lado e ter sido essencial em todos aqueles momentos... no final do dia, isso é o que mais importa. Eu te amo, entendeu?! — Ela deixou o preparo do latte sobre a ilha, se aproximou de mim e me abraçou com força, do mesmo jeito que fazia quando eu era criança e corria para o quarto dos pais nas noites de pesadelo. Aquele abraço era o meu porto seguro.

Alguns instantes depois, Kyle apareceu e juntou-se ao papai no sofá. Os dois começaram a conversar sobre o noticiário, desde assuntos climáticos a temáticas políticas.

— É bom saber que o seu pai já criou raízes na Califórnia. Ele nunca foi de muitos amigos. — Mamãe disse enquanto terminava de preparar o latte da Olivia.

— Kyle é uma ótima pessoa, ele nos acolheu com muito carinho. A amizade que ele e o papai tem construído juntos apresenta cada vez mais resultados benéficos e positivos para os dois. — Virei o pescoço e vi de longe os dois conversando e rindo na sala. — Acho que eles vão envelhecer e continuar sendo bons amigos, daqueles que levam uma cadeira de madeira para a beira da praia e ficam sentados enquanto observam o entardecer em seus lugares de privilégio.

— Bom dia. — Luke anunciou enquanto se aproximava. — Onde está a aniversariante do dia?

— Via ainda está dormindo. — Mamãe respondeu. — Ontem à noite ficou até tarde conversando no Face Time com o Peter.

— Acho que eles já se resolveram, então, finalmente. — Sorri de lado.

— Quem é Peter? — Quis saber Luke.

— Irmão do Benjamin. — Respondi de imediato. Luke apenas balançou a cabeça e sorriu timidamente.

— Lilian, posso tomar uma xícara de café antes de sentarmos todos juntos para comer?

— Claro que sim, querido. Fique à vontade. — Mamãe gesticulou para o armário perto da pia. — Há xícaras de todos os tamanhos.

Luke foi até o armário indicado, pegou uma xícara de tamanho médio, colocou o café que a mamãe ofereceu para ele e então saiu; não para juntar-se ao papai e ao Kyle, mas para o jardim.

Assim que Luke fechou a porta da entrada, mamãe pigarreou:

— Ontem eu ouvi o Kyle conversando com o seu pai sobre você e o Luke.

Fiz uma careta engraçada ao franzir o meu rosto.

— Não existe eu e o Luke.

— Se fosse pelo Kyle, com certeza existiria. — Mamãe riu de leve, mas percebeu que permanecei séria ao ouvir aquele comentário e mudou completamente a sua postura. — Você é uma ótima moça, Elena. Kyle quer apenas o melhor para o Luke.

— Mas no momento eu não sou e não posso ser o melhor para ninguém, mamãe! Não consigo ser o melhor nem para mim mesmo, quem dirá para outra pessoa?! — Suspirei. — Como diria a Taylor Swift, "What a shame she's fucked in the head".

— Mas que boca podre é essa, Elena? — Olivia falou atrás de mim, rindo silenciosamente com as mãos na barriga.

— Alguém já te disse que é feio ficar ouvindo a conversa dos outros? — Ralhei, num tom de brincadeira, e Olivia revirou os olhos, caminhando na minha direção e me abraçando em seguida. — Feliz aniversário, pequena Olivia. Obrigada por ser o Sol e a Lua do meu sistema planetário.

— Ugh! Como você é piegas, Elena! — Riu. — Eu te amo mil milhões.  — Ergueu as sobrancelhas freneticamente, com um sorriso maroto nos lábios.

— Ohhhh, quem aqui é piegas agora?! — Olivia e eu caímos na gargalhada.

— Somos irmãs, compartilhamos a mesma pieguice. — Deu de ombros. — Você precisa sair da vibe "champagne problems" e ir para "dorothea", irmã. — Piscou o olho para mim.

— Feliz aniversário, querida. — Mamãe felicitou-a com um sorriso adorável. — Preparei o latte que você tanto adora.

— E fomos à padaria comprar pães de banana. — Acrescentei.

Olivia deu pulinhos de entusiasmo na cozinha enquanto cantarolava a melodia de "dorothea" pelo cômodo.

— Esse é o melhor café da manhã de aniversário do mundo! — Olivia anunciou, reluzindo uma energia que apenas ela possuía e poderia ser capaz de entregar a alguém.