Capítulo Vinte e Cinco

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ELENA


Ben e eu combinamos de passar um tempinho juntos depois do jantar, e eu já estava contando as horas no relógio. As borboletas no meu estômago dançavam feito uma espécie de floreio, adotando um ritmo que ainda não experimentara. Na volta para casa, ele me pediu criar uma playlist especial no seu Spotify e me deixou à vontade para colocar as minhas músicas favoritas. "to remember her all too well", sugeriu o título e assim o coloquei. De Billy Joel à Taylor Swift, perambulando entre os clássicos dos anos 80 e 90, algumas favoritas dos anos 2000, além de traçar um caminho entre as minhas músicas favoritas do Harry Styles, com algumas da Miley Cyrus para equilibrar a rota, criei uma realidade alternativa onde nós dois somos os únicos habitantes.

Enquanto Benjamin estava dirigindo, coloquei a playlist para tocar no aleatório e a primeira música a soar foi "You Belong With Me (Taylor's Version)". Automaticamente, como um instinto natural, comecei a cantarolar, a gesticular e a dançar, com a ventania bagunçando os meus cabelos, totalmente imersa na melodia, na letra e no ritmo da canção. De quando em quando o Ben soltava uma gargalhada gostosa ao olhar para mim de soslaio e perceber um novo traço da minha personalidade: Elena no modo fã da Taylor Swift!

No refrão, virei para o lado, fingi que estava segurando um microfone e comecei a cantar "If you could see that I'm the one who understands you, been here all along, so why can't you see me, you belong with me"! Novamente, ele gargalhou e balançou a cabeça, sorrindo feito menino. Ao parar no sinal vermelho, inclinou-se, deu um beijo molhado na minha bochecha e sussurrou que me amava. Momentaneamente, ele fixou o seu olhar em, observando-me e memorizando os meus traços, os meus gestos... o meu ser! Quando o sinal abriu, notei que, enquanto uma das mãos segurava o volante, o seu outro braço estava apoiado na porta ao passo que a sua mão tentava esconder — inutilmente — um sorriso abobalhado que se formara nos seus lábios.

Durante à tarde, Alicia e Caleb vieram aqui em casa e passamos um tempinho juntos, rindo, conversando, relembrando momentos, falando sobre o presente e os planos para o futuro.

Estávamos no meu quarto. Caleb deitado no tapete, perto da porta, completamente à vontade, como sempre, com a cabeça apoiada nas minhas almofadas, enquanto Alicia e eu estávamos deitadas na minha cama, agarradas aos meus travesseiros.

— Finalmente estamos de férias. — Caleb ergueu as mãos para cima e cantarolou um "Aleluia!".

— Eu não aguentava mais tantos trabalhos para entregar e provas para fazer. — Alicia suspirou. — Mas, e aí Elena... conte-nos! Atualize-nos! Precisamos de novidades que não sejam mudanças no calendário acadêmico! — Implorou de maneira jocosa. — Queremos saber como as coisas estão entre você e o Ben.

Lancei um olhar divertido para os dois, erguendo as sobrancelhas freneticamente.

Caleb olhou para mim, confuso. Por outro lado, Alicia rapidamente captou a mensagem e soltou um grito abafado no travesseiro.

— ELENA MARIE ROSE!

— O que foi? O que foi? — Caleb perguntou, ainda sem entender.

— ELENAAAAAAAAAAAAAAAA! — Alicia continuo no seu modo surto ativado.

— Mulher, me fale logo o que está acontecendo! — Caleb sentou-se e engatinhou em nossa direção.

— Amor, em qual planeta você vive? Hellooooooooo! — Alicia puxou levemente a orelha do Caleb. — Ben e Elena reataram o namoro!

— WHAWHAWHAWHAWHAT? — Caleb disparou. — WHAT? WHEN? WHERE? PLEASE, WOMAN, TELL ME!

Alicia e eu caímos na gargalhada, e não conseguíamos respirar direito.

— Quando as duas beldades retornarem ao estado normal do ser humano, por favor, avisem. — Forçou um sorriso.

— Amor! — Alicia resmungou ainda em meio ao riso.

— Tá... ok! — Sentei-me na cama, endireitando-me. Amarrei os meus cabelos em um coque frouxe. — Seguinte, C: depois que vocês saíram, naquela manhã, eu decidi ligar para o Ben porque queria... bem, eu queria conversar com ele, né?! Então, liguei. Era cedinho. Fiquei receosa e achei que ele não iria atender ao telefone, mas ele atendeu. Aproveitei que ele iria à padaria resolver algumas coisas sobre o pedido da Olivia e me ofereci para ajudar... enfim! Quando o Ben chegou aqui em casa, ele me convidou para tomar café e eu aceitei o convite. No entanto, no caminho até à padaria, tentamos conversar, mas parecíamos dois estranhos numa situação constrangedora. O clima ficou tenso e eu surtei em disparate. Desabafei, completamente desenfreado, tudo o que estava entalado na minha garganta naquele momento, e ele ficou lá... não reagiu, a princípio, como eu imaginava. — Desviei o olhar, relembrando a cena no carro. — Mas... — Suspirei — pouco tempo depois, lá estava ele... naquele estado vulnerável, inseguro e frágil; um garotinho sensível que ansiava por um abraço cheio de afeto. Um porto seguro onde, finalmente, seria possível atracar o seu barco. — Alicia e Caleb permaneceram em silêncio, então prossegui: — Acho que nós dois percebemos, naquele momento, que seria inútil continuar remando contra a maré. Precisávamos de amor, precisávamos de perdão..., mas, acima de tudo, precisávamos entregar esse perdão à nós mesmos. No final do dia, a nossa linha tênue sempre nos mostra o caminho de volta para casa.

Um silêncio confortante nos envolveu naquele instante. Alicia e Caleb me abraçaram juntos, e os 3 choraram em quietude. Eles eram os meus melhores amigos. Compreendiam, de maneira singular, o quanto a paz no que diz respeito ao meu relacionamento com o Ben significava para mim. Depois que o papai foi embora, eu fiquei vazia. Por muito tempo vivi perturbada com as mágoas, as lembranças, as palavras que não foram ditas e até aquelas que sequer deveriam ter sido proferidas. Quando conheci o Ben, gostaria que ele fosse quem eu desejava, mas tornou-se quem eu menos esperava. A vida me surpreendeu.

Às vezes, aquilo que desejamos receber é o que menos esperamos. Vem inesperadamente para mostrar que, do outro lado da linha, há surpresas preparadas para aqueles que estão dispostos a atravessar o caminho.


(...)


Ao anoitecer, enquanto a mamãe preparava o jantar, contei para ela que eu e o Ben tínhamos reatado o nosso namoro, e que ele viria passar um tempinho comigo. Ela ficou feliz e me abraçou desengonçada, pois estava com as mãos sujas de tempero. Além disso, desejou que, dessa vez, tudo pudesse fluir com muito amor, confiança e compreensão, ainda que dificuldades e obstáculos pudessem surgir no nosso caminho.

Subi para o meu quarto, tomei banho, troquei de roupa e coloquei um vestido longo de cor amendoado, levinho do jeito que eu gostava. Calcei um par de chinelas brancas, amarrei o meu cabelo e desci para jantar. Na mesa, mamãe compartilhou a novidade e todos se alegraram, principalmente a Olivia. Ela tinha se apegado ao Ben de uma maneira muito especial, e eu admirava o carinho que a minha irmã estava construindo por ele. Papai, por outro, se emocionou. "Você merece ser amada de tal maneira e ainda melhor!", ele disse. "Viva o seu amor mágico, e mergulhe nas profundezas da singeleza!".

Após o jantar, papai e Olivia tinham combinado de comer pizza e sair para dar um passeio no centro. Ajudei a mamãe a tirar a mesa e a lavar os pratos. Assim que terminamos, a campainha tocou. Entreolhamo-nos e ela sorriu. Enxuguei as mãos no avental, soltei os meus cabelos, peguei o cardigan que a mamãe havia deixado sobre o sofá e o meu celular. Antes de abrir a porta, virei para trás e ela gesticulou que iria ficar no seu quarto lendo um livro. Fez um sinal de legal com o polegar e deu uma piscadinha antes de subir.

Ao encontrar-me sozinha no cômodo, chacoalhei as mãos, respirei fundo, e, finalmente, girei a maçaneta da porta.

— Hey! — Ben falou tímido. — Trouxe isto. — Ergueu a mão e mostrou uma garrafa de vinho branco, com duas taças.

Balancei a cabeça, sorrindo apaixonada.

Fechei a porta atrás de mim e beijei a sua bochecha.

— Você é muito, muito perspicaz, Sr. Benjamin Reed Parker!

Ele beijou o meu pescoço.

— Acertei em cheio?

Aproximei-me um pouco mais, deixando apenas uma distância mínima entre os nossos rostos.

— Baby, — Sussurrei — você transpassou o alvo.

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now