Capítulo Vinte e Três

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ELENA


Eu não acredito em amor à primeira vista. Acredito que as pessoas são atraídas e cativadas por determinadas características, traços ou até mesmo gestos e atitudes; elas são cativadas. Mas, ainda não é amor. Na minha concepção, o amor se constrói bloco por bloco a cada dia. Como uma boa construção, precisa de uma base sólida. Não há prédio no mundo que permaneça em pé se não houver uma boa base que o sustente. São muitos pilares, materiais pesados e firmes que proporcionem a estabilidade necessária para aguentar qualquer volubilidade. Ou pelo menos boa parte dela.

Mas, saindo um pouco da engenharia — que não é a minha praia — e voltando para a minha realidade, é exatamente dessa maneira que eu estou começando a me sentir em relação ao reatar do meu namoro com o Benji. Sinto que iremos evoluir juntos ao passo em que construímos uma nova relação. De preferência, com muito companheirismo, amizade e confiança. Sim, essa será a nossa base.

O nosso comecinho de manhã foi sereno. Depois da nossa conversa, tomamos café em silêncio enquanto observávamos de longe o mais novo — creio — casal do momento. Austin e Beatrice estavam tão concentrados na presença um do outro que não notaram a mim nem ao Ben. E foi melhor assim. No fundo, receava por uma situação meio constrangedora. Beatrice nunca foi com a minha cara durante o Ensino Médio, e ela sempre fez questão de deixar isso bem claro. Embora o tempo tenha passado, e que tenhamos amadurecido, ela ainda me deixa um pouco... tensa!

Antes de irmos, Ben resolveu o fechamento de um pedido para a festa da Olivia e acertou direitinho todos os detalhes com a gerente que, por sinal, era muito simpática. Ao sairmos, enquanto caminhávamos em direção ao carro, Ben se aproximou de mim e passou um dos braços pelo meu pescoço, envolvendo-me, depositando, em seguida, um beijinho casto no topo da minha cabeça.

Sorri feito uma bobona.

Manteiga derretida.

— Então... — Pigarreei, pousando a mão sobre o fecho da porta — você tem planos para hoje? Pensei em sairmos para dar uma volta e assistirmos ao entardecer.

— Por mais que eu adore ter a sua companhia, infelizmente preciso estudar. — Fez uma careta engraçada demonstrando estar decepcionado. — Final de semestre é complicado, você sabe.

— Ohhhhh, e como! — Falei de forma jocosa e Ben sorriu largo.

— Porém... — Adotando um tom de voz sereno, ele se aproximava cautelosamente, com as mãos enfiadas no bolso da calça moletom, um pouco tímido e ruborizado — eu gostaria muito de estar com você hoje. Sabe, senti muito a sua falta. — Os seus olhos brilharam, mas ele permaneceu firme. — O que você acha de conversarmos um pouco depois do jantar? Eu passo na sua casa e ficamos ali no jardim, quietinhos.

— Eu acho uma ótima ideia. — Inclinei-me para frente e beijei a sua bochecha. — Acho que a minha mãe ainda tem aquela redezinha guardada. Posso procurar. — Novamente, ele sorriu largo ao passo que se aproximava mais um pouco.

Estávamos frente a frente, bem próximos um do outro, sendo sustentados pela força do nosso olhar. Os meus lábios se entreabriam enquanto eu tentava controlar, inutilmente, a minha respiração.

Um novo sorriso se formava nos lábios do Ben.

Um sorriso duplamente bobo.

— Se você soubesse o quanto... — Riu baixinho de si mesmo — o quanto eu estou nervoso, Elena.

— É um nervosismo bom ou ruim?

— Bom. — Disparou. — Acho que é bom... sim... sim, ele é bom! — Falou atrapalhado, arrancando-me uma risada jocosa. — Parece inacreditável tudo isso estar acontecendo.

— Por que dizes isso?

— Porque... — Segurou uma das minhas mãos e entrelaçou os nossos dedos — eu nunca amei outra pessoa da forma como eu te amo, Elena. Quando você foi para a Califórnia, eu achei que tinha te perdido para sempre. Para ser honesto, nunca imaginei que você cruzaria o meu caminho novamente. — Encolheu os ombros. — Eu já estava começando a me conformar... vagamente, mas eu já estava. Mas, agora... — Suspirou, sorrindo estupefato — agora você está aqui, minha joia. Você está aqui, você está comigo, e eu vou me esforçar para ser um bom homem para você, para os meus, e principalmente... um bom homem para mim, porque eu mereço ser esse bom homem, e... caramba, agora você está chora... — Joguei-me em seus braços antes mesmo que ele pudesse finalizar a frase.

— A sua mãe e eu te amamos muito, Benjamin. Saiba que, para nós duas, sobretudo para ela, você já é esse bom homem.

Dito isso, ele me apertou contra si um pouco mais, tentando se aninhar no pequeno espaço que havia entre o meu ombro e o meu pescoço.

Naquele momento, eu pude sentir... sim, bem no fundo da minha alma... o abraço sincero, doce, sensível e transparente, do pequeno e adorável menino Benjamin.


FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now