Capítulo Trinta e Dois

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ELENA


No final da música, entre olhares e sorrisos, Austin gentilmente pegou o microfone da minha mão e me ofereceu uma fatia da pizza de palmito que ele havia pedido enquanto indicava um local para que eu pudesse sentar: um puf cinzento próximo, mas não tanto, da lareira. Quando finalmente me sentei e ergui a cabeça, avistei o Ben e a Beatrice conversando na cozinha, e fiquei um pouco intrigada. A postura dele em relação a ela, a expressão séria — mas despreocupada — da Beatrice, o olhar desviado que o Benjamin costumava ter nos momentos em que processava algo importante dito anteriormente... aqueles pequenos detalhes me deixaram completamente curiosa quanto ao teor daquela conversa.

Talvez eu não deva ter prestado atenção na minha postura diligente, pois a Beatrice, de imediato, notou que o meu olhar estava fixo em ambos e eu não conseguia direcioná-lo para outro lugar. Benjamin, cuidadosamente, virou a cabeça para trás e sorriu com os olhos, retornando à poltrona e chamando-me para perto dele. Beatrice, logo atrás, ao invés de sentar-se no sofá, sentou ao lado de Austin no chão, perto de Caleb e Alicia, pegou outra fatia de pizza e pôs-se a conversar despretensiosamente com o Caleb sobre sabe-se lá o quê, enquanto Alicia observava, mas afetuosa.

Ao aproximar-me do Ben, ele afastou um pouco para que eu pudesse sentar. A poltrona não era tão grande, mas coube nós dois, apesar de que acabei sentando sobre uma de suas coxas. Reclinei-me sobre o seu peito e ele acariciou os meus cabelos.

Fixei o meu olhar em um ponto aleatório e mergulhei na multidão daqueles pensamentos que vieram à tona sem que ao menos eu pudesse controlá-los. Repassei os últimos meses como um filme no qual o telespectador tem a opção de adiantar a velocidade em 2,5x mais, e me enxerguei nos mais diversos cenários os quais estive até o presente momento.

Cheguei à uma conclusão excruciante demais para ser proferida em voz alta.

— Você está bem? — Ben sussurrou no meu ouvido, arrancando-me daquela imersão. — Quer ir conversar em outro lugar? — Apenas balancei a cabeça, assentindo. Levantei-me e, em seguida, Benjamin fez o mesmo. Olhei para o Austin e ele, parecendo captar o que sucedia entre mim e o Ben, gesticulou para uma porta de vidro no final da cozinha e sorriu, compreensivo.

Ben segurou na minha mão e seguimos as orientações do Austin: no final da cozinha havia uma porta de vidro que se abria para o jardim. Caminhamos até uma parte mais distante, onde havia duas cadeiras de balanço sob uma pequena árvore e sentamo-nos em cada uma, frente a frente. Encostei-me na cadeira e desviei o olhar, encarando o céu acima, esperando ouvir alguma pergunta ou contestação ou simplesmente um comentário; mas, não. Benjamin estava em quietude.

— Preciso confessar que o seu silêncio é um pouco estarrecedor para mim. — Virei a cabeça para o lado, olhando para ele e fitando o seu rosto. — No entanto, ele foi necessário. — Falei com um ar soturno.

Ben apoiou o cotovelo no braço da cadeira e inclinou a sua cabeça para o lado, repousando-a em uma das mãos.

— Sinto que a nossa noite entre amigos-casais não vai terminar da mesma maneira que começou. — Disse brando. — Sinto que você quer me falar algo, mas não sabe se deve porque teme a minha possível reação... estou certo?

Encolhi os ombros.

— Também sinto o mesmo em relação a você. — Sussurrei.

— Tudo bem... — A sua expressão era suave — preciso admitir que eu fiquei um pouco intrigado com você e o Austin enquanto estavam cantando aquela música. — Fez uma pequena pausa à espera da minha reação, mas logo prosseguiu: — Tive a sensação de aquela música, em especial, significava algo a mais para vocês, mas que nenhuma outra pessoa, além de vocês — Riu pelo nariz — sabia o motivo peculiar. E aquilo mexeu um pouco comigo. — Endireitou-se, mantendo a mesma posição. — Mas, a Beatrice logo percebeu o meu estado naquele instante e me chamou para conversar a respeito.

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora