Capítulo Vinte e Quatro

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BENJAMIN


Ouvimos falar sobre recomeços, mas pouco sabemos do recomeçar.

Durante alguns momentos sombrios que passei na ausência da Elena, mesmo trancafiado dentro do meu quarto, imerso na solidão, eu nunca estive sozinho. Ao fechar os meus olhos, flutuava para uma dimensão onde iria ao encontro da única pessoa que habitava naquele lugar: a mamãe. Todas às vezes, sem exceção, ela me abraçava bem forte contra o seu peito e assim permanecia, em silêncio. Cronologicamente eu não conseguia ter noção do tempo, mas parecia ser infinito, e eu gostava disso. Gostava da sensação de mergulhar em uma paz que a minha alma, desesperadamente, anelava por sentir. Não era apenas um simples abraço, tinha uma força maior por trás. Era como se, à cada encontro, algo em mim, lá no fundo da minha alma, estivesse sendo restaurado, lapidado, erguido e fortalecido. "Um novo Benjamin em construção!", dizia a voz da mamãe antes do meu despertar. Talvez fosse alucinação, talvez fosse delírio. Talvez fosse um sonho, ou talvez... bem, ou talvez simplesmente fosse real. Não importa como tenha sido; importa que aconteceu.

Dias antes da formatura, quando a Elena foi me visitar na casa do Caleb, com a sua postura decidida em meio àquela conversa, ela disse que eu precisava me perdoar, que eu precisava fazer isso porque ninguém iria fazer por mim. E ela estava certa, usualmente. Durante todo esse tempo, longo tempo, eu achei que precisava do perdão da Elena para, por fim, seguir adiante. Ficar em paz. Livrar-me do fardo de carregar todas as mágoas e todo o dano que eu causara para ela. Entretanto, em meio a todo esse recomeço, estou passando a compreender que o essencial perdão genuíno que eu precisava sentir, unicamente... era o meu! Eu precisava me perdoar pelos erros cometidos, mas ao mesmo tempo abraçar o aprendizado. Entender que sou humano, que estou suscetível às falhas e aos tropeços, e que seguir em frente, tentando melhorar e buscar evoluir, é o que me torna alguém diferente de quem eu costumava ser. É como eu posso recomeçar, ainda que prosseguindo no mesmo caminho onde os erros, os enganos, os lapsos e as confusões, deixaram marcas permanentes pelos lugares que passei.

Em casa, aproveitei o ambiente silencioso para finalizar algumas pendências da faculdade. Fiz relatórios e enviei-os, assim como os trabalhos que estavam arquivados, e li um artigo indicado pelo professor antes da minha última prova do semestre que estava marcada para a próxima semana. Peter estava na escola e papai, segundo o bilhete que estava sob a mesa de centro, saíra para comprar materiais de jardinagem, mas avisou que o almoço já estava pronto e congelado.

Eu estava limpando a Caixa de Entrada do meu e-mail enquanto respondia à uma mensagem do Caleb no meu celular quando a campainha tocou. Levantei-me e fui atender à porta. Ainda com o celular na mão, girei a maçaneta, mas não notei de imediato a figura de uma pessoa completamente inesperada.

— Se alguém quisesse assaltar a sua casa, facilmente conseguiria.

Bastou apenas ouvir o som da sua voz e o meu corpo enrijeceu de uma forma peculiar.

— Austin? — Certamente uma interrogação gigantesca se formara no meio da minha testa. — O que está fazendo aqui? — Perguntei assustado. — Eu não...

— Esperava por mim? — Cruzou os braços e riu, divertido. — Presumi que falaria isso.

— Desculpe, não quis ser grosseiro.

— Desencana, Benjamin! Já passamos dessa fase! — Sorriu. — Posso entrar? Gostaria de conversar com você. — Enfiou as mãos nos bolsos do moletom.

— Claro, fique à vontade. — Gesticulei para que entrasse e, em seguida, a figura do Austin passou pela minha frente. Ao fechar a porta, indiquei o sofá para que pudesse sentar e ele agradeceu gentilmente.

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang