Capítulo Dez

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BENJAMIN


Beatrice e eu nos conhecemos há mais tempo do que a maioria das pessoas lá na Berkley imaginavam, mas foram os interesses mútuos do Ensino Médio que nos aproximaram, tais como a popularidade; e tudo isso começou a partir do momento em que eu entrei no time de futebol e ela, no grupo das líderes de torcida. Os jogadores e as cheerleaders tinham o costume de andar e estar sempre em uma espécie de bando, como um grupo à parte de todos os outros alunos da escola. Na hora do intervalo, nos momentos livres, e até em alguns dias nas férias de verão, estávamos juntos. Tínhamos interesses em comum e ao mesmo tempo distintos, tendo em vista que nem todas as garotas e os rapazes visavam a popularidade como eu e a Beatrice, por exemplo. Até meados do último ano, Beatrice e eu havíamos ficado algumas vezes em festas ou em encontros com a turma, mas nunca foi nada sério e eu sempre enfatizei isso para ela... afinal, tanto eu quanto ela não queríamos um relacionamento sério. Era apenas casual, ou uma amizade colorida por assim dizer. Entretanto, as coisas ficaram mais intensas depois que a minha mãe faleceu naquele acidente de carro. Eu acabei me encontrando num transtorno emocional muito grande e a Beatrice era a minha válvula de escape, aquela pessoa que tapava os meus buracos quando era necessário. Ao mesmo tempo em que eu estava nesse transtorno emocional, a Beatrice passou a ter problemas no relacionamento com a mãe e desenvolveu distúrbios alimentares. Nunca soube ao certo o que ela realmente tinha, apenas sabia que ela induzia o vômito quando alcançava picos de estresse ou estava sob algum tipo de pressão por parte da mãe. Nós dois seguimos nesse ciclo vicioso e completamente deletério durante um longo tempo, até o início do último ano... quando eu comecei a notar a presença da Elena na escola.

Antes de Caleb e Alicia começarem a namorar, a Alicia vivia grudada com uma garota que, de vez em quando, ia para a escola com uma camiseta da banda Queen, calça meio rasgada e um tênis all star meio desbotados; e, às vezes, Caleb e eu nos encontrávamos conversando a respeito dessa garota e porquê ela insistia em usar aquele par de tênis. A princípio, falávamos na zoeira — se a Elena algum dia soubesse a respeito disso, provavelmente puxaria as minhas orelhas —, ríamos feito dois idiotas, até que a Alicia reclamou conosco quando nos ouviu conversando no corredor. Mas, havia algo de peculiar e ao mesmo tempo especial naquela garota que me despertou certo interesse. De fato, a Elena é realmente uma moça muito bonita, mas não foi a beleza dela que me chamara a atenção, pois o que realmente me fez cravar os olhos na Elena foi a sua simplicidade e genuinidade. Quando a Olivia ia lá em casa fazer trabalhos da escola com o Peter, eu ficava admirando de soslaio, da janela do meu quarto, a maneira como ela tratava a irmã e até mesmo o meu próprio irmão: sempre com muito carinho, doçura, gentileza e, também, diversão. Peter vivia falando sobre a Elena com o papai, sobre como ela era uma ótima irmã para a Olivia e como ele gostaria que eu fosse um pouco parecido com ela nesse aspecto. Confesso que ouvir essa declaração mexeu comigo e me entristeceu. Eu havia mudado bastante, praticamente da água para o vinho, e a minha mudança acabou afetando o meu garoto. Foi naquele momento em que eu percebi que precisava estar ao lado de alguém que pudesse me influenciar positivamente, que me incentivasse a ser melhor a cada dia, a fim de ser uma boa pessoa para a minha família e para as pessoas que estavam ao meu redor. No início, eu apenas queria ser amigo dela, ou pelo menos conviver amigavelmente; mas, quando menos imaginei, quando menos esperei, eu já estava incluindo a Elena nas minhas conversas com o Caleb, com os garotos do time de futebol e, principalmente, com a Beatrice. Era algo involuntário, sabe? Eu fazia comentários sobre as roupas da Elena, por exemplo, ou sobre como ela sempre arrasava nas aulas de Química, e a Beatrice reagia normalmente a tudo isso. Porém, a partir de uma bela tarde, após uma crise de ciúmes, a Beatrice começou a agir como se realmente tivéssemos um lance sério e que eu não poderia ter olhos para nenhuma outra garota na BHS além dela. Por várias vezes tentei cortar essa fantasia, conversamos e discutimos, até que chegou um momento em que eu simplesmente havia cansado e simplesmente deixei que as coisas fluíssem. Parei de ficar dando importância a algo que, para mim, naquela época, não fazia sentido depositar todas as minhas energias. No entanto, quando eu, de fato, comecei a me aproximar da Elena, a Beatrice começou a agir dissimulada e irônica, mas o alvo já não era mais eu e sim a própria Elena. E o resto? Bom... acho que já não preciso mais continuar.

Contudo, após longos meses sem ter contato com a Beatrice, sem literalmente saber da sua existência, tê-la na minha frente, com uma postura madura, serena e alegre, me trouxe um pouco de esperança: um dia, estarei completamente sereno de novo. E dessa vez será por mim e para mim, já não mais inteiramente por e para alguém.

— Nunca vamos ser completamente suficientes para o outro se, antes, não formos suficientes para nós mesmos. — Beatrice pigarreou após um período de silêncio em que estávamos nos entreolhando como se ambos quiséssemos encontrar desesperadamente as palavras adequadas para o que eu acabara de falar. — Porém, suficiente ou não, no fundo a Elena continua sendo a única garota pela qual você verdadeiramente se apaixonou. — Encolheu os ombros. — Quisera eu ter tido a mesma sorte que ela... — Sorriu sem graça, tentando esconder vestígios de decepção.

— Beatrice, não diga isso... — Repousei a minha mão sob a dela, que estava em cima da mesa. — Eu não era o garoto certo e nós dois sabíamos disso.

— Nós éramos dois dissimulados e transtornados, Benjamin.

— Mais um motivo para que não ficássemos juntos. — Forcei um sorriso. — Eu não podia te oferecer o que você gostaria de receber da minha parte e eu não podia ser a pessoa que você precisava ter ao lado, e é completamente irônico eu estar declarando isso em voz alta... mas, é a verdade.

— Eu não precisava que você fosse a pessoa certa, Ben. — Beatrice inclinou-se para frente. — Eu apenas precisava de você, da sua companhia, porque você era a única pessoa com a qual eu podia contar naquela época... — Desviou o olhar. — Sabe, quando eu te vi com a Elena, me senti completamente descartável, como se eu nunca tivesse tido alguma importância, ainda que pequenina, na sua vida. O meu problema com a Elena não era pela Elena em si, mas porque ela era a pessoa que eu gostaria de ter sido naquela época... principalmente para você. — Fungou.

— Bea... — Levantei-me e puxei a cadeira, sentando lado a lado da Beatrice, e abracei-a de lado, acariciando o seu braço com ternura — sabe qual foi a maior lição que eu obtive do meu relacionamento com a Elena? Não podemos ser como o outro porque somos melhores sendo nós mesmos, mesmo com todos os erros, defeitos, falhas e problemas. Somos singulares, Beatrice. — Falei baixinho, com brandura. — Eu achava que precisava ser como o Austin para ter a Elena por perto, achei que precisava ser como ele a fim de ser alguém melhor para ela, mas me frustrei completamente quando descobri que tudo isso era inútil, sabe por quê? No fim das contas, o problema não está em nós, mas na expectativa, quase imperceptível a olho nu, que o outro coloca sobre os nossos ombros. — Beatrice começou a chorar silenciosamente no meu peito e então a envolvi em meus braços, permitindo que ela pudesse desabafar segura.

Senti uma cutucada nas minhas costas e virei a cabeça para ver quem era. Peter estava com o celular ligado, mostrando uma mensagem que acabara de receber do papai.

"Lilian me ligou e disse que a Elena está chegando de viagem à Atlanta, então decidi fazer um jantar de boas-vindas aqui em casa. Por favor, diga ao Ben que não demore muito para voltar, pois precisarei de ajuda dele na cozinha.

P.S.: Espero que você não tenha comido muita porcaria."


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