Capítulo Quinze

43 3 16
                                    

ELENA


Como toda magia, o efeito do encanto chega ao fim em algum momento. Às vezes, leva mais tempo; é mais duradouro, sendo possível desfrutar mais prazer aquilo que fora proporcionado. No entanto, é volátil e as vezes acaba tão rápido quanto um piscar de olhos. E foi assim, exatamente como um piscar de olhos, que a magia daquele instante se esvaiu, feito um abrupto devaneio... e eu fiquei ali, parada, assistindo o desmanchar bem na minha frente, sem poder absolutamente nada para impedi-lo.

Quando as minhas asas sumiram e eu voltei à realidade, percebi a Olivia passando por mim e correndo ao encontro dele, abraçando-o com carinho e sendo retribuída com o mesmo gesto. Os dois sorriam e riam jocosos, como se estivessem inseridos na sua própria bolha. "Acho que me apeguei demais ao Ben enquanto você estava fora...", lembrei do que a Olivia dissera quando subiu ao meu quarto para pedir desculpas e sorri, agradecida por saber que, com toda a certeza desse mundo, ele cuidou dela durante a minha ausência.

Ao passo em que decidi aproximar-me deles, o pai do Benjamin, o Will, veio falar comigo.

— Oh, minha querida Elena! — Abriu um sorriso largo e satisfeito. — Quanto tempo, minha filha! Como você está? — E então, abraçou-me. Forte. Parecia até que ele imaginara que eu iria precisar.

— Estou muito bem, Will, obrigada! — Abracei-o de volta e pude sentir que ele permanecia com o mesmo sorriso. Ao olhar para Benjamin e Olivia, ele me fitou de soslaio antes de ser puxado pela minha irmã mais nova até o andar de cima. — Como estão as coisas por aqui? — Perguntei após nos afastarmos.

— Estão indo bem, graças a Deus. Peter tem tirado boas notas, Ben está finalizando o semestre na faculdade... — Inspirou, satisfeito — tenho certeza de que a mãe dos rapazes está cuidando muito bem deles lá de cima.

— E você também. — Estendi a mão e apertei o seu braço gentilmente.

— Ah, esse é o seu pai? — Will olhou sob a minha cabeça. Virei-me com o apoio dos pequenos saltos e dei espaço para que o papai pudesse se aproximar.

— Sim, Will, esse é o meu pai!

— Muito prazer, eu me chamo Greg. — Papai estendeu a mão para Will que, sem questionamentos, apertou-a de imediato. — Obrigado por estender o convite para mim.

— O prazer é todo meu, Greg. Sou Will! E seja muito bem-vindo!

Da escada, era possível ouvir as vozes de Peter e Olivia discutindo sobre o episódio de uma série que eles assistem juntos no Disney Plus, enquanto Benjamin estava parado no meio dos dois.

— Não, Peter! Eu não acho que o Ricky seja um garoto egoísta e insensível, que não se importa com nada além dos seus problemas. Apenas acho que ele sofreu e ainda sofre muito com a separação dos pais, por isso insistiu no relacionamento com a Nini porque queria que funcionasse. — Pausou. — Porque não queria passar pelo mesmo que os pais.

— Sim, Liv, eu entendo perfeitamente e concordo com você. Mas, você não acha que ele, desde o início, deveria ter procurado uma terapia para lidar com tudo isso?

— É claro que eu acho, Peter! Mas, por acaso, se você estivesse no lugar dele, iria atrás de uma terapeuta para falar dos seus problemas? — Olivia cruzou os braços, aguardando uma resposta. — Os garotos ainda costumam ser orgulhosos nesse sentido.

— Crianças. — Benjamin pigarreou. — O que vocês acham de descermos para o jantar? Em outro momento vocês conversam em particular, pode ser?

— Olivia, querida, desça já, por favor. — Mamãe pediu.

Peter e Olivia se entreolharam e, em seguida, assentiram, descendo juntos. Já no andar de baixo, Peter veio ao meu encontro e me abraçou de lado. Enquanto isso, os meus pais, Olivia, Benjamin e Will se dirigiam à sala de jantar.

Ao olhar para mim, ele fitou o meu pescoço e disse:

— A letra "B" no pingente do seu colar é o que eu estou pensando? — Subindo o olhar, agora ele fitava o meu rosto. — Ele é muito bonito, a propósito.

Inclinei um pouco a cabeça para baixo e respondi:

— Sim. — Sorri de lado, um pouco ruborizada. — Ganhei de presente de um amigo. Austin. Você sabe quem é?

— O cara que fez o papel de Romeu na peça da escola? — Assenti. — Ah... sim, sim, lembro dele. Mas, por quê ele te deu? Até onde sei, o Ben não gostava muito dele por sua causa. Sentia ciúmes. — Deu de ombros.

— É, eu sei. — Enruguei o nariz e ele riu baixinho. — Acontece que o Austin se tornou muito o meu amigo durante esse tempo em que estive fora e...

— Elena! Peter! Estamos à espera de vocês! — Will chamou-nos.

— Depois pergunte à Olivia, ela te conta direitinho, ok? — Peter assentiu e fomos juntos até a sala de jantar.

Todos já estavam à mesa, sentados à nossa espera. Havia apenas dois lugares vagos: um ao lado da Olivia e outro ao lado do Ben. Peter, obviamente, sentou-se ao lado da sua dupla dinâmica, e os dois passaram a conversar baixinho, retomando o assunto discutido na escada. Will estava olhando para mim, sorrindo, aguardando apenas que eu sentasse a fim de poder servir o jantar.

Se preferir, troco de lugar com o Peter.

E essas foram as primeiras palavras que ele dirigira a mim desde que eu chegara à sua casa.

— Não é necessário. — Sorri na tentativa de ser o mais convincente possível.

Papai me olhou de relance, como estivesse checando o meu estado e eu apenas sussurrei "Tá tudo bem". Ele sorriu e voltou a conversar com a mamãe, apontando para garrafa de vinho, no meio da mesa, que Will escolhera.

Caminhei até a cadeira vazia, puxei-a cuidadosamente e sentei-me, colocando o guardanapo sobre as minhas coxas. Olhei de soslaio para o Benjamin que, coincidentemente, estava fazendo o mesmo comigo. Ao perceber a sincronia daquele momento, ele soltou um riso baixo, anasalado e sutil.

Pensei em fazer um rápido comentário, mas Will chamou a minha atenção.

— Querida Elena. — Iniciou. — Como é bom tê-la conosco mais uma vez! Sinceramente, o meu coração se alegra muito com o seu retorno à Atlanta, menina. Não sabes o quanto eu te estimo. Ou melhor... essa família te estima! — Benjamin endireitou-se na cadeira enquanto Peter e Olivia se entreolharam. — Como sei que a senhorita não come carne, preparei um jantar especialmente para você, respeitando o seu gosto. Claro que tive a ajuda do meu querido subchefe e, também, filho, Benjamin.

Peter soltou uma risada jocosa.

— Não sabia que você cozinhava, Ben.

— Obrigado por me descredibilizar diante de todos, maninho. — Revirou os olhos, tentando reprimir o sorriso.

— Peter. — Will advertiu.

— Desculpa, pai. — Olivia deu uma tapinha nas costas do amigo.

— Will, — Tomei a palavra — eu não sei como agradecê-lo por tanto carinho. Muito, muito obrigada! — Entrelacei os dedos, sorrindo, emocionada. — Imagino que tenha dado um pouquinho de trabalho para preparar esse jantar...

— Nah. — Deu de ombros. — Fiz tudo com muito apreço e nem percebi o tempo passar. — Sorriu, novamente satisfeito. — Bom, sem mais delongas... — Bateu as palmas das mãos — sirvam-se e fiquem à vontade. A noite está apenas começando! — Exclamou, entusiasmado e alegre.

Enquanto os pais serviam os garotos e, em seguida, a si mesmos, Benjamin e eu aguardávamos a nossa vez. O celular dele, que estava ao lado do prato, apitou e acendeu o visor, mostrando a notificação de uma mensagem. Olhei rapidamente e vi apenas o nome "Bea", em negrito. Umedeci os lábios, respirei fundo e sorri para o papai, que estendeu o braço, pedindo o meu prato a fim de servir-me.

— Benjamin, dê-me o seu prato também. — Will pediu.

Enquanto Benjamin entregava o prato ao pai, ele sussurrou baixinho:

— Belo colar. — Sorriu de lado, tênue e discreto.

"Belo colar."

Acaso ele estava debochando ou estava apenas me atiçando?

O pior de tudo é que, ao invés de me irritar com o seu comentário, fiquei presa àquele sorriso.

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now