Capítulo Onze

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ELENA


"Com cada pequeno desastre eu vou deixar as águas continuarem a me levar para algum lugar real, porque eles dizem que lar é onde seu coração está gravado (...)" — Gabrielle Aplin, Home.

Sentada naquela poltrona de avião, ao lado da janela, eu estive submersa àquela imensidão azul tão infinita quanto a sensação de paz proporcionada durante a minha viagem de retorno à Atlanta. Se eu pudesse, se fosse humana e fisicamente possível, eu tornaria as nuvens e aquela vastidão o meu próprio lar... o meu refúgio! Fugiria de toda a loucura, de toda a dor, de toda a tristeza... de todos os problemas... de todos os corações partidos! No entanto, a realidade é distinta e não posso fugir; não mais. Passei os últimos anos da minha vida fugindo de mágoas, remorsos, decepções, ou pelo menos tentando. Agora, passei os últimos meses tentando fugir daquilo que, ao contrário do que eu imaginara, nunca foi inevitável. No fundo, sempre soube que era apenas questão de tempo e que uma hora ou outra iria acontecer... afinal, caminhamos por uma linha tênue cujo destino final não importa onde seja, contanto que venhamos a estar com o conforto descansando em nossos ombros ao lado de alguém com o mesmo propósito.

Papai estava pegando as nossas malas enquanto eu esperava no canto, quietinha e longe daquele vai e vem de pessoas. Momentos antes de atravessar o portão de desembarque, senti o meu coração frenético e a minha respiração totalmente descontrolada. Estava nervosa, mas não sabia porquê.

"Ele não está à sua espera do outro lado do portão, Elena!", falei mentalmente comigo, "Seria tolice da sua parte imaginar que sim!".

Quando papai se aproximou, notou que as minhas mãos, agora, estavam trêmulas. Tentei escondê-las nos bolsos da minha jaqueta preta, mas foi inútil.

— Querida, o que aconteceu? — Perguntou com brandura.

— Sinceramente, papai... eu não sei. — Eu sabia, sim, mas não queria admitir em voz alta. — Acho que só estou nervosa por estar aqui novamente depois um longo tempo ausente, sabe? É meio estranho rever pessoas que não vejo há meses...

— Pessoas ou... pessoa? — Enfatizou, arqueando as sobrancelhas e sorrindo com gracejo e serenidade. Ele havia entendido tudo e eu nem precisei falar com todas as letras de quem se tratava. — Oh, minha filha... está tudo bem se sentir dessa maneira. É normal. — Suspirei. — Mas, deixa eu te falar uma coisa — Aproximou-se um pouco mais —: o Ben não está no aeroporto. — Pisquei os olhos rapidamente a fim de afastar algumas lágrimas já formadas no canto. — Assim que desembarcamos, recebi uma mensagem da sua mãe, enviada há algumas horas, de que apenas ela, a Olivia e o Austin iriam vir.

— Mas e a Alicia e o Caleb? — Questionei.

— O semestre na faculdade deles ainda não terminou, Elena. Segundo Lilian, Alicia disse que eles estão nas últimas avaliações assim como você esteve recentemente.

— Ah... — Encolhi os ombros sem disfarçar a minha decepção ao não reencontrar os meus amigos de imediato. — Tudo bem, papai. Tenho tempo de sobra a partir de agora, então posso esperar.

— Estou seguro de que a Alicia e o Caleb virão vê-la o mais rápido possível assim que souberem que você já chegou.

— Sim, tens razão... — Sorri de lado e enxuguei os olhos com o dorso da mão.

Papai beijou a minha testa, e abraçou-me rapidamente. Entregou a minha mala, segurando a sua de um lado e a minha mão, do outro, apertando-a firmemente. Caminhamos juntos em direção ao portão de desembarque com a certeza de que, a despeito de todos os altos e baixos, estávamos vivendo o melhor momento da nossa relação.

Ao atravessarmos, não contive as minhas lágrimas e desmoronei quando vi a Olivia, com os olhinhos vermelhos, segurando uma plaquinha com um trecho da música "The Best Day", da Taylor Swift, que estava escrito: "And I love you for giving me your eyes, staying back and watching me shine".

Larguei a mala no chão e corri ao seu encontro, abraçando-a com toda a força que existia em mim naquele instante. Ela soltou a plaquinha, me envolveu em seus braços e afagou o rosto no meu peito, apertando-me contra si.

Baixinho, no seu ouvido, sussurrei:

And I didn't know if you knew, so I'm taking this chance to say that I had the best day with you today...

— Eu senti tanto a sua falta, Elena... — Falou com a voz embargada. — Tanto, tanto, tanto...

— Eu também, Via. Você é o pedaço do meu mundo que me mantém em equilíbrio aqui dentro... — Funguei. — Estou tão feliz por estar aqui com você...

— E eu, mais ainda!

— Ah, as minhas duas joias preciosas... — A voz da mamãe, carregada de ternura, me fez continuar a chorar sem saber quando pararia.

Afastei-me um pouco da Olivia e a abracei.

— O seu abraço é a única coisa que me mantém de pé nesse momento. — Confessei. — Obrigada por ser o meu chão.

— Esse é o meu papel, filha. — Beijou o meu rosto. — E saibas que sempre vou estar aqui.

— Eu sei, mãe... e como sei!

Mergulhei no meu porto seguro e me permiti afundar por alguns segundos na tentativa de esquecer o caos eminente que assolava emocionalmente o meu coração.

Pouco tempo depois, com a vista meio embaçada, notei a figura do Austin atrás da mamãe. Ele estava parado, com as mãos enfiadas no bolso da calça jeans preta, sorrindo feito menino, como só ele sabia sorrir.

Galanteador, como sempre.

Desvencilhei-me da mamãe, que afagou a mão no meu braço, carinhosamente, e sorriu antes de se afastar. Caminhei em direção ao Austin que logo abriu os seus braços para me receber ali.

— Como foi a sua viagem? — Falou com a voz um pouco abafada.

— Foi tranquila, até. — Sussurrei. — Pelo menos eu estava inerte.

Austin afastou-se um pouco, mas os seus braços ainda envolviam a minha cintura.

— Há quem diga que existe beleza nos momentos de solitude!

— Existe beleza e tudo aquilo que você desejar, pois é como sonhar. — Encolhi os ombros e ele sorriu. — Como estão as coisas por aqui? Há algo importante que eu preciso saber?

— Bom... — Austin percorreu as mãos pelos meus braços e finalmente as segurou — eu ouvi a sua mãe comentando com a Olivia sobre um jantar de boas-vindas na casa do Ben. — Mordeu o lábio inferior. — Parece que o pai dele está organizando tudo para receber vocês hoje à noite.

— Nossa, eu... — Os meus lábios se entreabriram diversas vezes e pude sentir que iria gaguejar. Respirei fundo e tentei manter a cabeça no lugar — poxa, que gentileza da parte dele, hein? — Forcei um sorriso, mas não o mantive por muito tempo. As minhas lembranças, inesperadamente, vieram à minha mente sem dó ou piedade, avassalando qualquer vestígio de sanidade que eu achei que me restara a respeito disso... dele.

E o meu estado? Completamente inebriada por todas elas!

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now