Capítulo Quarenta e Dois

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BENJAMIN


Ultimato. Esta é a palavra que resume bem os últimos dias. Elena e eu estávamos sob aviso, e acho que nós dois tínhamos a plena consciência disso. Ficamos afastados desde o dia no restaurante até hoje, o dia do aniversário da Olivia. Sendo honesto, foi melhor assim, pois precisei mergulhar na vastidão dos meus pensamentos para que, finalmente, eu pudesse pontuá-los, compreendê-los e aceitá-los. Antigamente, costumava pensar que quem eu gostaria de ser era o que definia quem eu era. No entanto, diante desse cenário, depois de tudo o que aconteceu, vejo que, na verdade, quem escolho ser é o que define quem eu sou. E hoje eu escolho ser o homem que apesar de amar inteiramente a melhor pessoa que cruzou o seu caminho, decide deixá-la ir, sem amarras soltas, porque sabe que tanto ela quanto ele já não se pertencem um ao outro... mas, sempre, sempre, sempre serão o amor de suas vidas.

Ao lado do Peter, parado do outro lado do jardim, com o papai atrás de nós dois, e à espera da Olivia, eu observava a Elena com sutileza e carinho. Ela sabia que estava sendo observada porque de quando em quando olhava-me de relance e sorria com timidez. Logo atrás dela estavam o rapaz Luke e outro homem o qual julgo ser o seu pai, e ao longo do jardim alguns dos poucos convidados que a Olivia fez questão de ter presente no seu dia especial, preparado com muito amor e afabilidade. Podíamos enxergar um pedacinho da Olivia em cada detalhe da decoração, o ambiente estava completamente impregnado pela sua boa energia.

Enquanto varria o ambiente com o olhar, senti uma mão tocar o meu ombro.

— Benjamin. — Austin falou com firmeza, mas sereno.

Virei a cabeça para o lado e sorri.

— Austin. — Ele assentiu, retribuindo o sorriso. Atrás dele, vi Beatrice. — Bea.

— Ben. — Beatrice sorriu e veio ao meu encontro, abraçando-me. — Por que o Peter está um pouco impaciente? — Perguntou depois que se afastou.

— Ah. — Olhei para o Peter e notei que ele estava um pouco nervoso. — Ansioso para ver a Olivia, eu acho.

Beatrice sorriu largamente.

— Eles são muito fofos juntos. — Franzi a sobrancelha. — Deixa de ser bobo, Benjamin. Eles são uns fofos, sim! Inclusive, eles me lembram bastante o Ron e Hermione, não é mesmo amor? — Dirigiu a palavra ao Austin.

— Eu não tinha percebido, mas agora que você mencionou... — Austin também sorriu largo — sim, sim, eles realmente se parecem com os dois personagens, na relação que passaram a construir desde que se conheceram.

— Vocês acham que eles... algum dia...

— Quem sabe? — Os dois falaram em uníssono. — A vida é uma caixinha de surpresas, Benjamin — Austin respondeu — assim como o amor.

As palavras do Austin mexeram comigo de imediato. Tentei processá-las naquele instante, mas logo um grupo de músicos começaram a tocar, anunciando, dessa forma, a chegada da Olivia. De longe, avistei-a: reluzente! Feliz ao lado do pai, Olivia caminhava de braços dados, com um sorriso terno nos lábios e um brilho no olhar capaz de incendiar o coração mais sombrio. À medida em que Olivia se aproximava do centro, olhei rapidamente para a Elena e vi que estava emocionada. Lilian, de prontidão, aproximou-se da filha e abraçou-a de lado. Elena sorriu, em meio às lágrimas, e retribuiu o olhar marejado que acertou o meu coração como uma flecha flamejante. Quisera eu ser o seu consolo naquele momento, mas esse lugar já não compete mais a mim.

Pequenas luzes alaranjadas, espalhadas pelo jardim, atenuavam o ambiente naquele vestígio de entardecer. Frente a frente, Olivia e Greg se cumprimentaram, antes de iniciar a dança, com a típica reverência vista nos bailes da antiga realeza. Greg tomou Olivia pela mão e repousou, educadamente, a outra mão em sua cintura, ao passo em que Olivia, sorrindo desenfreada, repetiu os gestos do pai. Quando uma moça que estava à frente dos músicos começou a cantar, e pai e filha passaram a dançar, uma espécie de aura, carregada pela ternura daquela ocasião, envolveu-nos especial e inexplicavelmente. Fomos atingidos por uma explosão de pureza e brandura, não havia como escapar. Qualquer vestígio de sentimento ou emoção contrários eram instantaneamente ricocheteados.

Olivia escolheu a música "I'll Stand By You", de uma banda que eu não conhecia, mas presumi ser antiga; afinal de contas, as irmãs Marie Rose têm uma tendência muito grande a gostar de músicas antigas, principalmente a Elena.

Já na metade da canção, Olivia sussurrou algo no ouvido do pai, que sorriu, assentindo, e afastou-se de Greg, caminhando em direção à Elena com a mão estendida. Elena, por outro lado, sem entender, achou que a irmã estava convidando-a para dançar com ela, quando, na verdade, Olivia estava levando-a para dançar com o pai.

— Você merece isso tanto quanto eu, ou até muito mais. — Olivia falou enquanto abraçava-a. Elena, ainda emocionada, não conseguia fazer outra coisa além de chorar.

Olivia se afastou um pouco e se aproximou de onde estava a mãe. Elena, diferentemente da irmã mais nova, antes da dança, não fez reverências e tampouco não tomou o pai pela mão; pelo contrário, abraçou-o, encontrando um espaço reservado para repousar a cabeça. Greg envolveu-a, beijou a sua cabeça, e os dois se balançaram de um lado para outro, com os olhos fechados, memorizando aquele momento que deixaria uma marca profunda em seus corações: a marca do amor. A marca do amor que um dia sofreu seus horrores, mas que hoje renasceu.


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Oi, pessoal! 

Estou passando para avisar que estamos chegando na reta final de "Do Outro Lado Da Linha", na conclusão de uma narrativa que carrega pedacinhos meus espalhados ao longo do caminho. Aviso-lhes, de antemão, que esse é o penúltimo capítulo, e deixo a dica de que o final terá uma dinâmica similar ao primeiro livro, porque os dois estão entrelaçados por essa linha tênue que pode até rachar... mas, não quebra!

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now