Capítulo Treze

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BENJAMIN


Depois que a Beatrice se acalmou, conversamos mais um pouco e eu pedi perdão pelas minhas atitudes no passado, sobretudo as atitudes que afetaram-na diretamente. Não me apropriei de discursos baratos nem tentei amenizar a minha culpa; porém, fui sincero e honesto, como há muito deveria ter sido.

— Se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente com você. — Declarei enquanto ela se afastava de mim e erguia a cabeça, fitando-me com aqueles olhos tão negros quanto o vazio que deixei em seu coração. — Mas, infelizmente, isso não é possível. O que está feito, está feito, e eu não posso apagar o que fiz. Não posso desfazer o mal que te fiz e nem o dano que te causei. — Exalei um suspiro pesado. — Beatrice, sinceramente, nunca quis te machucar, a minha intenção nunca fora essa. Para ser honesto... naquela época achei que iríamos somente nos divertir, curtir a companhia um do outro, com beijos e carícias, como um escape para os nossos problemas pessoais, e que não passaria disso: diversão. No entanto, você passou a nutrir sentimentos por mim e isso se tornou um...

— Um problema. — Completou Beatrice com um sorriso amargo nos lábios. — Isso se tornou um problema para você, Ben.

Entreolhamo-nos durante alguns segundos. No fundo, eu sentia como se estivesse cutucando a sua ferida, ainda aberta, com a ponta de uma faca.

— Gostaria de dizer o contrário, mas não serei hipócrita porque você me conhece bem o suficiente para saber que, infelizmente, essa é a verdade. — Fechei os olhos com força, tentando afastar as lembranças infelizes proporcionadas, a contragosto, pelas minhas atitudes ruins. — Eu fui um verdadeiro babaca e idiota com você, Beatrice. Não irei tentar inutilmente justificar as minhas atitudes, ou "explicar o meu lado", o que se passava na minha cabeça naquele tempo, pois absolutamente nada é justificável. Não posso te pedir compreensão quando eu nunca fui uma pessoa compreensiva para você. Não posso querer diminuir a minha parcela de culpa nesse caso quando eu sou o maior responsável. Entretanto... — Abri os olhos, lentamente, e Beatrice continuava a me fitar, dessa vez com um brilho peculiar que eu não sabia identificar naquele instante — entretanto, eu peço que me perdoe. Por favor, me perdoe. Não que eu mereça, eu sei que não sou merecedor, mas porque eu preciso.... — Mordi o lábio inferior — eu preciso... eu ainda estou tentando recomeçar. — Na última sentença, a minha voz saiu praticamente inaudível.

Beatrice segurou o meu rosto com as suas mãos e carinhosamente acariciou-o com as pontas dos seus polegares. Resoluta e ao mesmo tempo gentil, fitou-me, mais uma vez, e sorriu; no entanto, dessa vez, o sorriso foi atenuante.

— Ben, eu não guardo rancores e não coleciono mágoas. Não sou mais esse tipo de pessoa. Abrir mão e deixar ir tudo aquilo que me causara dor, inclusive a minha pior versão, foi a melhor, e a mais sábia, decisão que pude tomar. — Inclinou um pouco a cabeça para o lado. — Assim como eu, você precisa deixar ir. Se passado fosse bom, por que estamos aqui? Se passado fosse lugar onde devêssemos estar, por que, então, existe uma perspectiva de futuro? Além disso, se almejar um recomeço é o seu objetivo, por que fica revivendo o passado, retrocedendo na caminhada? — Sussurrou a última frase. — O velho Benjamin ficou para trás junto com todas as mancadas que ele deu: no passado, no seu devido lugar.

— Isso significa que você me perdoa? — De repente, os meus lábios ficaram trêmulos enquanto lágrimas silentes escorriam sobre o meu rosto.

— Eu te perdoei, Ben. No momento em que eu decidi abrir mão e deixar ir o que causara dano, permiti que o meu coração pudesse ser tratado e mergulhei nesse processo gradativo, até o presente momento, que é o perdão. E agora, estando diante de ti, olhando nos seus olhos, a despeito da minha confissão, do meu momento vulnerável e sincero, percebo que já não me dói... que não mais me corrói. Finalmente, eu te perdoei. Eu te perdoo. — Chorando feito um garotinho, abracei-a novamente. Dessa vez, foi ela quem me consolou.

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now