Capítulo Vinte e Um

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BENJAMIN


"Benny, um dia você realmente vai se apaixonar por alguém. Se não for recíproco, bola para frente. Aprenda a deixar ir e toque a sua vida. Não se amarre e nem amarre a outra pessoa. No entanto, se houver reciprocidade, e eu desejo que haja, talvez venha a ser um amor sereno... talvez um amor avassalador. Talvez o mundo de vocês seja colorido, ou talvez vocês precisem pintá-lo para colorir. Não importa como seja: se for amor, se for recíproco, e se valer a pena continuar lutando: lute! Não há outra maneira melhor de gastar as energias, de maneira saudável, claro, do que lutando por um amor que vale a pena."

Durante o caminho até à casa da Elena, as palavras da minha mãe, em uma das nossas últimas conversas, ressoavam na minha cabeça indo e voltando como as ondas do mar. Naquele momento, eu estava cansado, esgotado; fisicamente, também, é verdade. Mas, sobretudo, emocionalmente. Eu estava cansado de remar contra essa maré de sentimentos que eu sinto pela Elena. Cansado de ir caminhar na direção oposta mesmo sabendo qual é o caminho certo. Egoísmo? Orgulho? Ressentimento? Ou as três coisas? Admito que dificultei o andamento das coisas, que meti os pés pela cabeça ao tentar resolver o que não me competia, que deixei as minhas inseguranças, e, consequentemente, os meus ciúmes, me dominarem... eu sei! Foram tantas coisas erradas.... eu sei! Eu sei!

E não é justo... não foi justo culpá-la da maneira como eu fiz, mesmo sem nunca ter tido a intenção de fazê-lo.

Talvez seja a hora de me abrir e colocar um fim nos meus dias de sombra.

Ao chegar à casa da Elena, senti as minhas mãos suarem. Estava nervoso. Parecia a primeira vez.

Estacionei o carro, respirei fundo e desci, caminhando em direção à porta da entrada. Toquei a campainha e me afastei um pouco, ficando de costas, sem graça, enquanto revivia, mais uma vez, as palavras da mamãe na minha cabeça.

Eu estava tão cansado que o meu corpo meneava involuntariamente.

Quando eu achei que iria cair e tombar o meu corpo para frente, a voz da Elena surgiu como um despertar:

— Perdido nos seus pensamentos?

Ao ouvir a sua voz, girei o meu tronco e o pescoço para trás, e sorri discretamente no intuito de maquiar o meu cansaço.

— Você já comeu? — Perguntei com calma.

— Não tive tempo.

— Bom... — Enfiei as mãos no bolso da calça — posso te levar para tomar café na padaria?

— Acho uma boa ideia.

Assenti, e ela sorriu. Gesticulei para que ela fosse primeiro, na frente, e então Elena sorriu meio envergonhada, enfiando uma mecha de cabelo por trás da orelha, como se estivesse sem graça, nervosa.

Será que estamos compartilhando a mesma sensação e o mesmo propósito?!

No carro, quando eu estava para colocar a chave na ignição, pensando no que iria falar, ou no que não iria ser falado, no caminho até à padaria, Elena, que estava ao meu lado no banco do carona, disparou:

— Não sabia que você curtia as músicas do John Mayer.

E o seu tom de voz era de descontração.

Suspirei, discreto e aliviado, porque não fui eu quem estourou aquela pequena bolha.

Provavelmente eu tinha falado alguma bobagem do tipo "Já viu como o céu está azul hoje?"

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now