Capítulo Dezoito

47 3 3
                                    

ELENA


O dia amanhecera com o clima ameno, ensolarado na medida certa, com poucas nuvens e uma brisa suave, e os pequenos feixes de luz natural irrompiam através das novas cortinas brancas de voal que a minha mãe comprou antes da minha chegada; estava lindo, tudo. Mas, ainda deitada na cama, enrolada no meu cobertor, feito um casulo, e encarando a paisagem através daquele fino tecido, todos os meus pensamentos voltavam automática e abruptamente para a noite anterior. Como uma tormenta, presa em um loop temporal, revivi inúmeras e inúmeras vezes todas as palavras proferidas pela boca do Benjamin, a sua reação, o seu semblante, o seu modo de falar, de sentar e de se portar diante de mim... era tão diferente. Fisicamente, eu o conhecia; mas, emocionalmente, parecia que eu estava defronte à uma versão 2.0 de uma pessoa que costumava conhecer de verdade... se é que algum dia eu realmente o conheci como ele é!

Como se não bastasse estar presa em um loop temporo-emociono-sentimental, se é que esse termo existe, coloquei para tocar, aleatoriamente, o novo álbum do John Mayer; e a primeira música veio como uma flecha flamejante, certeira, em direção ao seu alvo.

"They said I'd hurt you, said I'd run just like I always do with everyone..."

Em meio a melodia e a voz branda do John, algumas lágrimas silenciosas escorreram pelas minhas bochechas. As palavras dele me machucaram, mas, infelizmente, elas eram verdadeiras. Sim, elas realmente eram. Elas são. Sempre fora sob a minha perspectiva, inclusive o que diz respeito a ele. Eu estava tão focada na minha dor, nas minhas mágoas, na minha ansiedade, no papai, que o deixei de lado, como segundo plano, enquanto ele se esforçava ao máximo para me manter ao seu lado, ainda que enfrentando trancos e barrancos na sua esfera emocional. A grande verdade, e mais dolorosa disso tudo, é que eu vislumbrei estar apaixonada naquela época, nos primeiros momentos, e me apeguei à essa criação porque queria ter alguém ao meu lado para que tudo pudesse ser menos doloroso, para que eu não pudesse estar sozinha. Talvez uma pequena parte do Benjamin também fosse assim. 

Mas, após uma longa madrugada de reflexão enfiada dentro das minhas cobertas, cheguei à conclusão de que ele era o meu espelho. Ao vê-lo, eu me via, e não gostava do que enxergava. Éramos iguais. Todo o peso dessa instabilidade, toda essa linha tênue... tudo... absolutamente tudo... eu empurrei na direção do Benjamin. Na direção daquele garoto que se apaixonou por mim, ainda que, um pouco, erroneamente.

Batidas na porta interromperam e me sacaram daquela penosa compreensão. Tentaram girar a maçaneta, mas a porta estava trancada.

— Elena, somos nós. — A voz calma da Alicia soou do lado de fora. — Caleb e eu viemos vê-la. — Permaneci em silêncio, decidindo se iria recebê-los ou não. — Eu sei que você está acordada porque estou ouvindo a voz do John Mayer.

Exalei profundamente.

Enrolei-me no cobertor e saí me arrastando até a porta. Ao destrancar a porta, girei a maçaneta e antes mesmo que eu pudesse falar algo, Alicia me abraçou com muita força. Bem ali, parada na entrada do meu quarto, chorei feito criança nos braços da minha melhor amiga. Chorei muito, até soluçar. Era um misto de emoções: a saudade que eu sentia e as lembranças que me atormentavam.

Pouco tempo depois, Alicia se afastou um pouco e Caleb veio ao meu encontro, me abraçando e me fazendo desaparecer dentro do seu abraço como só ele sabia.

— Sentimos tanto a sua falta, Elena... — Caleb falou baixinho.

— Sim, nós realmente sentimos. — Alicia acrescentou no mesmo tom de voz.

Afastei-me um pouco de Caleb e pedi para que eles entrassem e fechassem a porta em seguida. Sentei-me na cama, encostando-me na cabeceira e abraçando as minhas pernas. Alicia sentou na minha frente e Caleb puxou o meu puf e sentou próximo às duas.

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now