Capítulo Quarenta e Três (PARTE II)

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BENJAMIN


Ao olhar para trás, consigo observar que eu estava completamente tendencioso a acreditar que tudo isso era sobre a Elena e somente sobre ela. Entretanto, depois de todas as coisas que aconteceram, depois de tudo o que nos trouxe até o presente momento, finalmente sou capaz de entender e abraçar a verdade que há muito, ainda que sem perceber, eu acabava abafando ao deixar em segundo plano: não era apenas sobre ela, também era sobre mim. Sobre nós dois, na verdade. Cada um carregando o peso da sua dor, do seu sofrimento, da sua perda; cada um com a sua história, com a jornada de sua vida. Gostaríamos sim de atravessar a linha tênue que habita entre nós e caminharmos juntos em único caminho, mas não foi possível... e foi melhor assim. Alguns caminhos que se cruzam não necessariamente estão guiados para seguir a mesma direção.

Ainda relutante, talvez pela maneira como Austin se impôs e falou convicto a respeito da Elena, sentado naquela cadeira, fui digerindo aos poucos cada palavra que saíra de sua boca. Após um tempo, quando percebi que ainda não havia comido, belisquei alguns salgados e outras coisas que chegaram à mesa, tomei um gole extenso de refrigerante, e fiquei ali, absorto e inerte nos meus pensamentos. Não sei por quanto tempo permaneci naquele estado, mas acredito que tenha sido durante um período significativo, pois Beatrice ficou me cutucando por trás para avisar que iriam cantar parabéns para a Olivia.

— Você está bem? — Perguntou com cautela, e eu apenas balancei a cabeça, assentindo. — Vamos, já estão trazendo o bolo. — Beatrice segurou a minha mão e me levantou com sutileza enquanto guiava-me para junto dos convidados que começaram a se agrupar em meia-lua ao redor do bolo. Um pouco mais à frente, Austin estava ao lado de Caleb, Alicia e Peter, enquanto Olivia, Lilian, Greg e Elena se aproximaram da mesa trazida com o bolo, deixando Olivia no meio. — Tudo isso é a cara dela.

— Sim, realmente é. — Concordei, e o meu coração automaticamente foi preenchido por um grande afeto.

Quando as velas foram acesas, em uníssono, todos os que estavam ali reunidos começaram a cantar a canção da felicitação. Olivia, emocionada, sorria e chorava ao mesmo tempo, sem saber controlar qual das duas emoções iriam prevalecer. Ao término, ela fechou os olhos durante alguns segundos e em seguida apagou as velas. Houve aplausos e muito barulho, e algumas pessoas, provavelmente os amigos da Olivia, gritavam o nome dela.

Logo depois cada um se dispersou e voltou para a sua respectiva mesa. A playlist da Olivia continuou a tocar, e Lilian se encarregou de levar o bolo para dentro a fim de ajudar ao pessoal na cozinha a cortá-lo, chamando Greg para auxiliar. De longe, mais uma vez, olhei para a Elena. Ela estava sentada, sozinha, observando o ambiente e sorrindo. Como um click, algo dentro de mim me impulsionava, mostrando que este era o momento ideal para uma última conversa entre nós dois. De imediato, achei completamente insano. Por que eu iria me despedir da Elena justo no dia do aniversário de quinze anos da sua irmã? Por que eu mancharia a lembrança de um dia tão especial com um adeus? No entanto, por outro lado, um sentimento mais forte me fez entender que é justamente nos momentos mais improváveis onde as maiores verdades vêm à tona. Sim, eu gostaria de planejar uma ocasião mais apropriada para essa conversa, de estar em um ambiente distinto, tranquilo, pacificador, mas foi aqui nesse jardim onde achamos ter encerrado a nossa história quando, na realidade, deixamos amarras soltas; e vai ser aqui, nesse mesmo jardim, onde cortaremos as nossas amarras e seguiremos em frente, cada um no seu próprio caminho, lutando para chegar da melhor maneira possível do outro lado da linha.

Beatrice e Austin estavam conversando sobre os filmes da saga Harry Potter, trazendo novamente a pauta da semelhança dos personagens entre a Olivia e o Peter, e pareciam estar inteiramente comprometidos no assunto. Então, passei a mão pelos cabelos, levantei-me e fui ao encontro da Elena. Quando parei há alguns centímetros de distância, Elena ergueu a cabeça e não disse nada; simplesmente sorriu, assentindo, como se soubesse o que estava se passando na minha mente naquele instante e os motivos pelos quais eu estava ali. Levantou-se e segurou a minha mão, levando-me pela parte de trás do jardim enquanto atravessávamos alguns objetos de decoração.

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now