BÔNUS

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BEATRICE


Eu não odiava a Elena. Não, eu não a odiava. Ainda que as minhas atitudes demonstrassem o contrário, eu não odiava. Na verdade, eu nunca a odiei; passei a invejá-la. Invejar, principalmente, a sua habilidade natural de cativar as pessoas com a maior facilidade... assim como cativou o coração do Benjamin sem que ao menos a própria Elena pudesse se dar conta. Simplesmente aconteceu. E todo esse tempo, eu a culpei. Culpei a Elena por ter sido largada pelo Ben. Senti-me como uma roupa antiga que, após usada tantas vezes, é descartada porque já não serve mais. Mas, acima de tudo, culpei a Elena porque ela foi quem eu tanto tentei ser para o Benjamin e falhei miseravelmente.

Ironias.

Sim, ironias!

No fim das contas, Benjamin e eu permanecemos juntos, presos às correntes da insegurança, da comparação e do ciúme. Enquanto eu, de um lado, estava mergulhada na minha culpa irracional e totalmente desequilibrada, do outro, Benjamin se encontrava na mesma situação. Era nítido como o Austin abalava, em níveis estratosféricos, a segurança do Ben em relação à Elena. Não é que ele não confiasse na Elena, longe disso... não! A pessoa em quem ele não confiava era em si mesmo! A presença do Austin colocou à prova quem o Ben gostaria de ter sido para a Elena e quem, na realidade... ele acabou sendo.

Benjamin estava tão cego nas suas tentativas de ser alguém melhor para a Elena (ou melhor, como o Austin), de provar de alguma maneira que era o cara certo, e isso falo sob o meu ponto de vista, que acabou se perdendo no meio de todas as vãs tentativas. Na realidade, tudo o que ele precisava, e quem deveria ter sido, era ele mesmo.

É bem verdade que o relacionamento do Ben com a Elena mexeu muito comigo. Mas, como em todas as coisas da vida, em tudo há os prós e os contras. Ao longo desses últimos meses eu resgatei, em meio aos trancos e barrancos, a verdadeira Beatrice Davis que habita dentro de mim. A Beatrice que tem o coração cheio de amor, mas que não sabe como amar. Ou melhor... que não sabia como amar! Eu achava que o Benjamin houvera sido o meu primeiro amor; no entanto, apenas agora tenho a certeza de que, gradativamente, estou apaixonando-me pelo rapaz que, aos meus olhos, sempre fora um planeta fora da minha órbita. Nunca, nem nos meus melhores sonhos, imaginei que conheceria um rapaz como o Austin. Alguém que vale a pena investir, que é bom ter ao lado, que torna tudo mais leve. Alguém que, no pouquíssimo tempo em que levamos, já demonstra um cuidado e um carinho singular, especial e sincero.

Confesso que não sei como as coisas irão prosseguir, mas sei que elas continuarão. Aos poucos, tudo vai se encaixando. Uns vão reatando, outros começando. Há amor, há perdão... há recomeços sendo distribuídos para quem está cansado de continuar vivendo desesperançoso.

Há luz do outro lado da linha.

Há beleza no atravessar.

E eu não odiava a Elena.

Hoje, eu compreendo que o problema não era comigo. Algumas vezes relacionamentos não dão certo... e está tudo bem. Ninguém é obrigado a permanecer se não há reciprocidade. Ainda que eu fosse a princesa da mais alta realeza, se o Benjamin não correspondesse aos meus sentimentos, de nada adiantaria. Se não há amor, se não há afeto, de que vale a insistência? Ficar sozinho, muitas vezes, é a atitude mais sábia que alguém pode tomar. 

Há beleza na solitude.

Você só precisa enxergar qual será a sua naquele momento.

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora