Capítulo Trinta e Sete

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BENJAMIN


Não consegui pregar o olho na noite passada. Para não dizer que não dormi, cochilei das cinco às seis da manhã quando, finalmente, o meu corpo atendeu aos meus pedidos incansáveis, às súplicas silenciosas por um momento de tranquilidade aqui dentro. Mesmo depois de acordar, às seis e quinze, fiquei deitado na cama, encarando o teto acima e pensando no desenrolar da história nos próximos dias; e é tão trágico! Um lindo, triste e trágico caso de amor!

Eu a amava com todas as forças do meu ser, literalmente. Houve um período em que ache que esse amor iria me desintegrar por dentro; estive tão dependente. Olhando para trás, em meio às memórias, vejo que me perdi tentando ser alguém que não era, que não podia ser e, principalmente... que eu não deveria ser. Por que eu deveria perder a minha essência por amor a alguém? Não seria o amor a ideia de amar o outro inteiramente, com os seus defeitos e qualidades, particularidades e traços individuais, e isso não importar porque, de certa forma, são as diferenças entre um e outro que torna o relacionamento equilibrado e especial? Talvez tenha demorado muito tempo para compreender isso. No entanto, antes tarde do que nunca.

O toque do meu celular me arrancou daquelas nuvens de lembranças nas quais eu me encontrava, levando-me diretamente à realidade que eu não queria, mas precisava encarar. Era a Elena. Estranhei o fato de ela estar me ligando tão cedo da manhã, mas não podia deixar de atender a ligação. Conversamos rapidamente, o suficiente. Olivia queria conversar comigo e com a Elena, portanto convidou-nos para almoçar. Eu, é claro, aceitei o convite. Gostaria de aproveitar os últimos momentos da Elena aqui em Atlanta ao preço que fosse.

Durante a manhã, enquanto o Peter ainda estava dormindo, ajudei ao papai nos afazeres de casa no intuito de — também — me distrair um pouco. Quando o relógio marcou 10h30, subi para o meu quarto, tomei um banho frio e troquei de roupa. Peguei o meu celular e a minha carteira, e voltei para o andar de baixo a fim de esperar a Elena chegar com a Olivia.

Enquanto eu estava sentado no sofá mexendo à toa no celular, papai sentou ao meu lado e deu uma tapinha leve na minha coxa.

— Sabes que pode conversar comigo sempre que precisar, não é mesmo? — Balancei a cabeça, assentindo. — Tens algo a me dizer?

Inspirei fundo.

— Elena e eu vamos terminar o nosso namoro. Dessa vez, será definitivo. — Disparei.

— Wow, Ben! Calma aí, filho! — Papai endireitou-se, virando o tronco para o meu lado. — Primeiro, poderia me explicar o que está acontecendo?

Não pude deixar de rir da expressão confusa e surpresa no rosto do meu pai. As sobrancelhas dele ficavam franzidas de um jeito engraçado.

— Fica tranquilo, pai. Nós não brigamos ou algo do tipo, eu a Elena estamos bem. Mas, cá entre nós, francamente: esse relacionamento foi reatado com os dias contados, querendo ou não. Por um momento, confesso, até me iludi com a ideia de que ficaríamos juntos e daríamos um jeito daqui pra frente, mas a realidade não é essa. Eu a amo, papai. Por Deus, o senhor sabe como a amo. — Passei a mão pelos cabelos. — Mas, eu passei por tantos bocados depois que a Elena foi embora da última vez e... — Suspirei — papai, eu não posso abrir mão da minha vida assim, desse jeito, sem pensar nas consequências, somente por ela. Outrora, talvez. No entanto, agora... não. Eu não posso. Não é justo comigo. Acho que, pela primeira vez, eu preciso pensar um pouco em mim, nas minhas necessidades, no meu bem-estar. Não posso simplesmente abrir mão da minha vida, dos meus amigos, da minha faculdade, do meu futuro, apenas para seguir a Elena porque ela é a garota que eu amo. Isso não é um conto de fadas, não estamos mais no Ensino Médio. Além disso, me dói admitir que não tenho segurança em um futuro concreto na nossa relação, e nos sentimentos dela ao meu respeito. — Virei o rosto para o lado e encarei o meu pai. — Não posso, pelo menos não mais, me dar o luxo em mergulhar nas incertezas. E se isso me torna uma pessoa egoísta, não me importo.

— Egoísmo seria se você estivesse disposto a ignorar tudo o que aconteceu apenas para estar com a Elena, pois o seu sofrimento teria sido em vão e o seu progresso estaria sendo jogado no lixo como trapos velhos. — Ele esticou a mão e afagou o meu braço. — Você merece ser feliz, meu filho. E "felicidade" não é sinônimo de estar em um relacionamento. Se estamos satisfeitos com o que fazemos, com quem estamos nos tornando e com quem estamos vivendo, então somos felizes. Encontramos a beleza da felicidade nas coisas mais simples da vida. — Ouvimos soar um barulho de buzina. Ele olhou para mim e abriu um sorriso largo e sincero. — Deveria contar para ela todas as coisas que acabou de me dizer. Tenho certeza de que a Elena irá compreender, sobretudo porque ela se importa muito e te quer muito bem.

Levantei-me e coloquei o celular no bolso da frente da minha calça jeans. Papai e eu nos abraçamos, e ele beijou o meu rosto da mesma maneira que a minha mãe fazia todas as vezes em que eu estava nervoso porque iria tomar uma grande decisão, não importava o que fosse. Quando saí, avistei a Elena de longe no banco do motorista: linda, como sempre. O seu cabelo estava preso, e por um momento a imaginei vestindo uma roupa de cheerleader. Iria ficar uma gracinha.

Ao me aproximar do carro, ela abriu por dentro a porta do carona e eu entrei. Enquanto colocava o cinto, a Olivia se aproximou por trás e deu um beijo na minha bochecha. Elena apenas sorriu e não disse nada. Deu partida e seguimos rumo ao lugar provavelmente escolhido pela Olivia.

No caminho, a Olivia pigarreou:

— E o Peter, Ben? Como ele está?

— Ele está bem. Foi dormir tarde jogando videogame e quando saí, ele ainda estava dormindo.

— Ah. — Olivia forçou um sorriso e desviou o olhar.

Elena e eu nos entreolhamos.

— Via, aconteceu alguma coisa? Você e o Peter discutiram?

— Se ao menos estivéssemos nos falando, poderíamos discutir... — Olivia suspirou.

— Não entendi, Via. Vocês estão afastados? — Perguntei enquanto a fitava pelo espelho superior.

Olivia mordeu os lábios antes de responder.

— Chegou uma garota nova na escola, uma intercambista australiana chamada Phoebe. — Fez uma pequena pausa. — Digamos que o Peter ficou completamente encantado pelo charme praiano... — Revirou os olhos. — Phoebe para lá, Phoebe para cá... argh! Sinto náuseas.

Elena comprimiu os lábios, tentando segurar o sorriso.

— Olivia, no planeta em que vivemos isso se chama ciúmes. — Ela deu um peteleco na minha orelha. — Que dedo pesado, Via! — Ri.

— Não estou com ciúmes, pateta! — Olivia passou a mão no rosto. — Mas o Peter é meu melhor amigo desde que cheguei aqui em Atlanta e eu não quero perdê-lo para uma garota australiana de pele branca, olhos claros e cabelos loiros divinamente linda... que droga! — Grunhiu.

— Via. — Chamei-a, e estendi a palma mão para trás. — Aqui, segura.

— Ben, não... — Ela ralhou, relutante.

— Via, por favor. — Pedi gentilmente, e ela cedeu. Quando segurou a minha mão, falei: — Peter te adora mais do que qualquer outra garota naquela escola, e eu posso assegurá-la disso com propriedade. Vocês estão na adolescência e isso é... normal. Ainda mais tratando-se de garotos. Nós somos uns bobões idiotas nessa fase da vida. Por outro lado, vocês, garotas, são maduras e evoluídas... principalmente você, Olivia. — Acariciei a sua mão. — Portanto, fique tranquila, está bem? Você não vai perder o Peter de jeito nenhum.

— Promete, Ben? — Olivia fungou.

— Eu não posso prometer, mas essa é uma das certezas, acredito que uma das únicas, que eu tenho no momento.

Oi, pessoal! Feliz ano novo para vocês!

Obrigada aos novos leitores que estão acompanhando a história, e aos leitores que estão comigo desde "Entre Uma Linha Tênue". Chegamos à 1K de visualizações no livro 2 e eu não poderia deixar de agradecer pelo apoio. Confesso que tenho ficado relutante no desenrolar dessa história, porque ela acabou tomando rumos que eu não esperava. Mas, estou me esforçando ao máximo para entregar um desfecho real, humano e sincero!

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora