Capítulo Quatorze (PARTE I)

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BENJAMIN


Os preparativos para o jantar correram tranquilos. Quando chegamos em casa, Peter subiu as escadas correndo e foi para o quarto, enquanto eu fui para a cozinha a fim de ajudar ao meu pai assim como ele pedira. Deixei as chaves do carro sobre a bancada de mármore branco da nova ilha, lavei as mãos na pia e fui escorrer o grão-de-bico que estava de molho em uma vasilha preta e redonda, para lavá-lo e, em seguida, cozinhá-lo.

Ao passo que o meu pai cortava o alho-poró em rodelas, ele declarou, com brandura e serenidade:

— Obrigado por não colocar objeções no jantar de hoje à noite. Eu sei que, de uma maneira ou de outra, é um desconforto para você.

— Não se preocupe, pai, está tudo bem. — Sorri, ainda que ele estivesse de costas para mim. — Eu sei que você tem um carinho muito grande por ela e que a estima muito, também.

— Sim, é verdade, eu realmente tenho um grande afeto pela Elena. — Afirmou. — Mas, então... — Pigarreou no intuito de desviar o assunto. — Como foi a tarde de vocês? O Peter comeu muita porcaria?

— Foi agradável. E, não se preocupe, o Pete não comeu porcaria. — Soltei uma risada jovial. — Estávamos na lanchonete da Dona May, aquela perto da faculdade.

— Ah! O local onde você e o Caleb costumam ir, onde vende os famosos empadões que ele tanto fala?

— Exatamente! — Anuí a cabeça. — Para quê o alho-poró? — Perguntei enquanto colocava o grão-de-bico para cozinhar.

— Irei fazer um risoto de abóbora, alho-poró e cream cheese. E o grão-de-bico é para uma sopa cremosa. — Virou a cabeça e olhou para mim com um ar de satisfação e entusiasmo. — Fiz uma farofa de quinoa mais cedo e ela está conservada na geladeira por enquanto.

"Quinoa", "grão-de-bico", essas palavras me fizeram lembrar que a Elena não come carne. Somado a isso, me veio à mente, como uma espécie de deja vu, a lembrança do dia em que fui à sua casa, com uma pizza de calabresa vegana, e me declarei para ela pela primeira vez.

Balancei a cabeça, freneticamente, tentando afastar aquelas imagens da minha cabeça.

— Tenho certeza de que ela vai gostar. — Forcei um sorriso, tentando ser convincente.

— Acredito que o jantar não será a única razão pela qual a Elena irá gostar de estar aqui em casa essa noite. — Sorriu tímido e sutilmente, com segundas e discretas intenções, mas, cauteloso, pois não queria cruzar a linha existente quando o assunto tratado é "Elena Marie Rose".

— Você não vai acreditar em que eu encontrei, ou melhor, reencontrei, na lanchonete hoje à tarde. — Mais uma vez, o assunto fora desviado. Aproximei-me do meu pai e ajudei-o, lavando as rodelas já cortadas.

— Não faço a mínima ideia.

— Beatrice Davis.

— Sério? — Um enorme "O" se formara na boca do meu pai. — E aí, como foi? Como ela está?

— Muito bem, a propósito. — Sorri amigavelmente ao lembrar da Beatrice. — Ah, pai, sabe como é... nós conversamos um pouco, relembramos algumas coisas do passado...

— Vocês se beijaram?

— NÃO! — Respondi apressadamente e o meu pai se assustou, mas logo caiu na gargalhada com a própria reação. — Quero dizer, não, nós não nos beijamos. — Dei um empurrãozinho de leve no seu braço. — Digamos que, finalmente, foram colocados os pingos nos is.

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now