Capítulo Vinte e Nove

27 2 9
                                    

BENJAMIN


Elena e eu ficamos deitados na minha cama, conversando e planejando carinhosamente os detalhes da viagem. Contou-me sobre os dias em que passou com o pai em Malibu, e sobre o quanto aquele período foi um verdadeiro processo de cura para os dois; mas, principalmente, para ela. Fiquei muito feliz com a reconciliação entre eles, porque o pai da Elena é uma das figuras mais importantes da sua vida e eu admiro bastante o sentimento que um tem pelo outro. A cada lembrança compartilhada, um sorriso reluzia nos seus lábios e uma felicidade particular contemplava o seu rosto. Tornava-se cada vez mais admirável... admirá-la!

Algum tempo depois, em meio à nossa conversa, papai subiu até o meu quarto e trouxe-nos um lanche. Quando ele desceu, Elena se levantou e fechou a porta devagar. Ao virar-se para mim, notei um olhar que ainda não conhecia antes: ao passo em que ela estava intrigada, também se sentia um pouco envergonhada.

Engatinhei até a ponta da cama e sentei, chamando-a para perto de mim.

— Algum problema? — Falei baixinho, envolvendo-a pela cintura com os meus braços. Elena sorria tímida enquanto acariciava os meus cabelos, mas nada respondeu. — Elena. — Ergui as minhas sobrancelhas. — Você está com uma cara de que quer me perguntar algo... — Indaguei.

— Talvez... — Falou vagamente. — Mas, com certeza você vai me achar uma boba, então...

— Boba? — Inclinei a cabeça para o lado, repousando-a em uma de suas mãos. — Deixa de besteira, amor. Você sabe muito bem que pode conversar comigo sobre absolutamente qualquer coisa. — Elena acariciou a minha bochecha com o seu polegar. — Ou vai me dizer que eu não inspiro confiança?

Pensativa, ela encolheu os ombros e fez uma careta engraçada como se estivesse tomando uma decisão naquele momento. Desviou o olhar e riu consigo mesmo, fitando a paisagem através da janela do meu quarto.

Quando finalmente se sentiu confortável, ela disse:

— Eu estava aqui pensando sobre a nossa primeira noite juntos, sozinhos. — Falou calmamente enquanto enroscava nos seus dedos mais alguns fios dos meus cabelos. — Estou nervosa. — Disparou. — Isso nunca... eu nunca... — Suspirou.

— Tudo bem... — Endireitei-me. — Agora você pode olhar para mim? — Pedi com serenidade. Devagar, ela virou o rosto, inclinando-o um pouco para baixo. Notei a presença de um certo rubor. — Baby. — Fitou-me com ternura. — Muito menos eu. — Sorri de lado. Ela fez uma careta engraçada, provavelmente confusa, enquanto eu anuía a cabeça, afirmando o que acabara de dizer.

— Então quer dizer que você não... — Falou baixinho.

— Isso mesmo.

— Não brinca comigo, Benjamin! — Riu. — Estou falando sério.

— Eu também estou! — Respondi entre risos. — Por que você não acredita?

— Oras, porque você... porque você é você, amor!

— Sim, isso eu sei. Eu sou eu. — Provoquei-a divertidamente, mesmo sabendo que ela estava se referindo à outra coisa.

— Benjamin! — Elena começou a rir, nervosa.

— Baby... — Levantei-me devagar e as minhas mãos, com delicadeza seguiram o percurso do corpo dela, repousando gentilmente sobre os seus ombros desnudos. — Depois de você, não houve e não haverá nenhuma outra.

Sustentou com firmeza o seu olhar no meu.

— E a Beatrice? — Deu de ombros.

— Você sabe perfeitamente que o nosso relacionamento não foi sério. Além disso, eu jamais iria me envolver com a Beatrice de tal maneira sabendo o estado em que ela se encontrava na época. — Mordi o lábio inferior. — Na verdade, para início de conversa, eu nem deveria ter me envolvido, mas... tudo bem. Isso não vem ao caso. — Fiz um coque frouxo nos cabelos da Elena. — Não consegui me relacionar com outra garota depois que você se foi. Eu não tinha condições. Precisava cuidar de mim mesmo. — Elena me ouvia com atenção. — Aprendi que relacionar-se com alguém requer uma responsabilidade gigantesca, e eu ainda não estava preparado para isso. Mas... voltando ao tópico da nossa conversa... — Aproximou-se um pouco mais — eu gostaria que fosse com alguém especial para mim, sabe? E esse alguém especial eu tive a sorte de encontrar em você, Lena. — Sorri feito um marmanjo apaixonado e não me importava nem um pouco em esconder. — Então, fique tranquila. Não há o que temer. Estou tão nervoso quanto você, mas não importa. Não, nem um pouquinho. — Ela sorria, reluzente feito o Sol. — Você tem o meu coração e a minha confiança, tem a mim por inteiro. — Os olhos da Elena cintilavam ao passo que me envolviam docemente. Naquele instante, eu seria capaz de memorizar cada detalhezinho das suas expressões sem esquecer de um único detalhe.

Na ponta dos pés e com os braços envolta do meu pescoço, ela me beijou. Os seus lábios macios também eram inebriantes, e me encerravam sem chances de soltura.

Talvez o âmbito da nossa conversa tenha nos incorporado em uma espécie de aura mais intensa, e eu precisava manter o controle.

Agradeci mentalmente porque momentos depois o Peter bateu na porta do meu quarto, chamando-me para ajudá-lo em uma lição de casa. Elena se assustou ao ouvir a sua batida e sem querer mordiscou o meu lábio. Ela ficou completamente sem graça e começou a rir, abafando o som na palma da mão.

— Eu sou tão apaixonado por você, garota. — Sussurrei. — Como isso é possível?!

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now