Capítulo Trinta e Oito

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BENJAMIN


Olivia escolheu um restaurante italiano em um bairro perto do centro da cidade. Local agradável, ambiente tranquilo e aconchegante desde o primeiro momento em que adentramos as portas do estabelecimento. Sentamos em uma mesa próxima à janela, e pensei comigo mesmo "Por que sempre sentamos próximos à janela?", rindo disfarçadamente. Elena e eu sentamos um ao lado do outro enquanto Olivia sentou à nossa frente. O garçom, um senhor adorável de cabelos grisalhos, mas conservado em sua aparência, veio à nossa mesa e fizemos os nossos pedidos: Elena pediu um ravióli vegano; Olivia, um nhoque de abóbora; e eu, o clássico spaghetti carbonara.

Assim que o senhor se retirou e foi atender a um casal quatro mesas adiante, Olivia endireitou-se na cadeira, repousou as mãos entrelaçadas sobre a mesa e fitou-nos com ternura, com o olhar cintilante... não de alegria, mas de tristeza.

— Via, — Elena curvou-se um pouco — o que está havendo? Aconteceu alguma coisa com você? Está com problemas na escola ou algo parecido?

Olivia sorriu um pouco abatida.

— Quero perguntar-lhes algo, mas preciso que os dois sejam sinceros comigo e me respondam o que de fato é e não o que acham que eu devo ouvir. — Umedeceu os lábios. — Preciso que me falem a verdade; sem palavras de consolo. — Olivia lançou-me um olhar sutil, e prosseguiu: — Vocês realmente estão juntos? Ou vocês apenas estão aproveitando a companhia um do outro? — Elena entreabriu os lábios para responder, mas Olivia apressou-se: — Não me entendam mal... — Ela sorriu nervosa — não quero me meter no que não me diz respeito. — Fez uma rápida pausa. — Apenas estou perguntando porque eu meio que pensei em algo especial para a minha festa — Franziu o nariz — e vocês estavam envolvidos romanticamente nisso...

Virei o rosto e olhei para a Elena que, como se estivesse petrificada, fitava a irmã sem saber o que responder naquele instante. Repousei a minha mão sobre a sua perna por debaixo da mesa, e ela soltou um suspiro de alívio como se, de alguma forma, soubesse que eu iria tomar partido naquela situação.

— Francamente? — Dirigi a palavra à Olivia e ela assentiu. — Nem um, nem outro. — Olivia arregalou os olhos, confusa. — Acontece que nós estávamos tentando, Olivia. Talvez no início tivéssemos a ilusão de solidez, de que tínhamos reatado o nosso relacionamento e partiríamos dali com planos para o futuro... é, talvez isso tenha acontecido. Por outro lado, poderíamos ter aproveitado a companhia um do outro com uma data de validade escrita em negrito nas nossas mentes, relembrando-nos dia constantemente que o prazo estava chegando ao fim. No entanto, no fim das contas, não aconteceu nem um... nem outro. — Respondi com brandura.

— E o que aconteceu, então? — Perguntou Olivia depois de um breve tempo.

Endireitei-me na cadeira, pronto para responder, quando Elena respirou fundo e respondeu, com firmeza, antes que eu pudesse ter a chance de pronunciar uma palavra:

— Nós nos reencontramos, Via. — Olivia sorriu amarelo, sem entender a princípio. Elena olhou para mim, com bondade, e voltou novamente a sua atenção à irmã. — Nós nos reencontramos porque precisávamos colocar um ponto final na história, e não há ponto final sem o clímax precedente. — Elena mordeu o lábio inferior e fitou a irmã com sutileza. — E o clímax da nossa história foi a mútua compreensão de que... — Levou uma das mãos à boca e desviou o olhar — nem sempre o amor será suficiente, e está tudo bem. — Falou com a voz abafada.

— Quando realmente amamos alguém, Via... — Tomei parte mais uma vez — quando realmente amamos alguém percebemos que a liberdade do outro, a sua felicidade, é a maior riqueza que podemos proporcionar.

— Por que eu deixaria sair da minha vida alguém que amo com todo o meu coração? — As palavras que saíam da boca de Olivia eram carregadas com uma inocência particular, uma característica que apenas ela carregava e cultivava em seu coração.

— Porque as vezes amar não é sinônimo de ficar. — Sorri de lado. — Quando amamos alguém, passamos a entender que nem sempre terminará com um "Felizes para sempre" no final da história. Em uma viagem de trem, por exemplo, nem todos chegarão ao fim da viagem ao lado de quem começou. Às vezes, as viagens de algumas pessoas tendem a ser mais curtas do que outras; há vários pontos de paradas ao longo do caminho, pois são muitas as estações. — Elena inclinou a cabeça para o lado e segurou a minha mão. — Existe ponto de partida para todos, mas o destino final nem sempre será em comum. Alguns descem em estações diferentes, em lugares distintos, talvez um pouco tristes por deixarem a sua companhia de viagem para trás, mas felizes por terem chegado ao seu destino. Reconhecer que na vida há várias estações e que nem todas as vezes as estações serão em comum é saber resignar-se com carinho.

Olivia, que agora estava com os olhinhos úmidos, apoiou o rosto entre as duas mãos e sorriu com singeleza para mim e também para a irmã.

— Ben, lembra que eu havia te chamado para ser o meu príncipe na dança, e que iríamos dançar ao som de "Love Story"?

— "Príncipe" não foi a palavra que você usou naquela mensagem, e obrigado por menciona-la agora, — Olivia riu — mas, sim, eu lembro.

— Lena, lembra que no ateliê eu falei que gostaria de ter à vista aquele seu vestido branco que você usou no jantar na casa do Ben?

— Lembro sim. Por quê?

Olivia mordeu os lábios e sorriu.

Marry me Juliet you'll never have to be alone, I love you and that's all I really know... — Olivia começou a cantarolar baixinho e Elena sorriu com ternura.

I talked to your dad, go pick out a white dress, it's a love story, baby, just say yes... — Elena finalizou na mesma melodia e a irmã sorriu abrilhantada. — Olivia, você é muito perspicaz garota!

— Alguém, por gentileza, poderia me explicar? — Perguntei, um pouco confuso, mas sorrindo.

As irmãs se entreolharam, sorriram, e então Olivia respondeu:

— Eu planejei um momento romântico para vocês. Antes de chegar ao refrão final, iria chamar a Elena para dançar comigo enquanto você se afastava, saindo um pouco de cena rapidamente. O vestido branco dela estaria próximo, provavelmente com a Alicia, de alguma maneira. Então, quando começasse "Marry me Juliet", você viria por trás e com uma das mãos tampava os olhos da Elena momentaneamente para que, ao virar-se, ela pudesse vê-lo com o vestido branco nas mãos e um belo sorriso bobão apaixonado que só você tem quando está na presença dela. — Antes que eu pudesse responder, ela adiantou: — Não seria um pedido de casamento, que fique claro. Eu posso ter umas ideias malucas de vez em quando, mas tenho juízo.

— Uau, Olivia! — Sorri... abobalhado. — Um momento e tanto, hein? Certamente inesquecível.

— Sim, seria. — Encolheu os ombros. — Mas, tive a impressão de que havia algo acontecendo, não sei porquê. Achei prudente conversar com vocês a respeito disso porque não queria fazer nada embaraçoso ou que causasse um problemão maior. Ainda que as minhas intenções fossem boas, isso é muito mais delicado do que eu consigo imaginar.

Elena se levantou e sentou ao lado da irmã, beijando a sua cabeça.

— Obrigada por compartilhar isso conosco.

— Obrigada pela sinceridade de vocês. Sentirei falta de vê-los juntos.

— Eu também.

— Vocês vão ficar bem? — Elena me olhou de relance, sutilmente.

— Aproveitamos bem a viagem, mas precisaremos desembarcar em estações diferentes. Sentiremos falta da companhia um do outro ao longo do caminho, mas ficaremos bem. Não importa o que aconteça, não importa onde seja, nós vamos sempre estar um pelo outro.

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Where stories live. Discover now