Capítulo Trinta e Três

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BENJAMIN


Foram longos minutos em silêncio para que a Elena, finalmente, pudesse ficar um pouco mais tranquila. Talvez nem ela mesmo soubesse, mas precisava daquilo: chorar, desabafar... se entregar àquele estado vulnerável e frágil, mostrar-se crua e transparente, sem precisar reprimir os seus pensamentos mais íntimos.

Certamente, o Benjamin de antes teria engatado uma discussão a partir do momento em que a Elena confessou um possível futuro com o Austin na Califórnia, e tentaria culpá-los, de alguma forma, pela sua desgraça durante os meses em que esteve sozinho; afinal de contas... quão injusto seria, na sua antiga perspectiva, construir a felicidade sobre a dor do outro! Entretanto, o Benjamin do presente, que está buscando a sua evolução como ser humano, apresenta-se completamente compreensível, porque aprendeu que o amor nem sempre será suficiente... e, embora lamentável, isso não é algo ruim. O que importará, no final da jornada, são as lições, as lembranças, os momentos vividos e as experiências compartilhadas: o crescimento mútuo que duas criaturas puderam apreciar e vivenciar.

Puxei a cadeira de balanço na qual estava sentado e coloquei-a em frente à Elena, que, de imediato, esticou as suas pernas, repousando sobre as minhas coxas, quando sentei novamente ali.

Fitou-me com sutileza, porém soturna.

— Eu não quero que isso termine agora, Ben.

— E não vai terminar, Elena. — Sorri de lado. — Eu te disse agora há pouco: não é um término. Apenas quero que você procure compreender os seus sentimentos, os seus desejos... o que quer para o seu futuro. Enquanto isso, estarei aqui, para ajudá-la, para apoiá-la, para atravessar esse processo juntamente com você, se assim permitir.

Elena franziu o rosto.

— Isso é cruel. — Murmurei "O que quer dizer com isso?", e ela prosseguiu: — Isso é cruel, porque não sabemos se vamos a continuar juntos quando os meus dias em Atlanta chegarem ao fim e eu precisar retornar para a vida que tenho construído na Califórnia, com o meu pai. — Encolheu os ombros. — Como disse: isso é cruel. Eu não quero machucá-lo, Ben, pois não suportaria ser a razão do seu inferno emocional mais uma vez. — Desviou o olhar. — Não quero ser uma lembrança ruim na sua vida.

— Baby, você nunca será uma lembrança ruim na minha vida, muito pelo contrário: você sempre será a luz que eu consegui enxergar quando, nos meus momentos sem esperança, ainda vivendo o luto pela morte da minha mãe, imaginei que o meu mundo, continuamente, seria preto e branco.

— Ah, Ben... — Elena virou-se mais uma vez e sorriu com ternura.

— Não estou falando essas coisas para suavizar a situação, mas, sim, porque elas são verdades e você precisa entender que, independentemente do que possa acontecer, eu te amei e vou continuar amando... — Acariciei as suas pernas que permaneciam sob mim — ainda que não seja da mesma maneira que eu estava habituado a amar. — Elena ouvia com atenção. — Não vamos sentenciar o nosso relacionamento, princesa, pois isso sim seria cruel. Ao invés de fazermos isso, vamos viver um dia por vez, aproveitar os momentos que ainda nos restam viver, criar boas memórias e desfrutar aquilo que está reservado para nós dois nos próximos dias.

Elena sorriu, apreciando as palavras, mas o seu semblante estava cheio de confusão, com muitas dúvidas e receios.

E eu compreendia todos eles.

— E se... — Inspirou, devagar — e se no último dia, antes de subir naquele avião, eu olhar nos seus olhos e não tiver obtido soluções concretas e definitivas para essa situação... se, dentro de mim, ainda houver resquícios de dúvidas ou medos e inseguranças... entende o que falo? — Riu baixinho, envergonhada.

— Entendo. — Ergui-me para frente. — Princesa, se até o dia da sua viagem você ainda estiver persistindo nessas questões, saiba que estarei pronto. —Elena franziu as sobrancelhas, como se estivesse prestes a chorar. — Por favor, não chore mais. — Pedi com carinho. — Elena, eu não sei de onde está saindo tudo o que estou prestes a falar agora, mas... — Ri pelo nariz — eu quero que saiba uma coisa, e essa reflexão serve para mim, também... — Segurei as suas mãos. — As vezes, o amor é planejar uma vida juntos, sonhar juntos, e até desejar conhecer o mundo juntos; as vezes, o amor são bons momentos que vivemos, principalmente aqueles nos quais borboletas dançam valsa no nosso estômago. Às vezes, o amor é "Eu vou ser melhor, você me inspira a continuar tentando". — Permaneci firme na minha postura, ainda que por dentro estivesse entrando em estado de dissolução. — Entretanto, as vezes o amor é "Nós fizemos o que podíamos, mas tornamo-nos pessoas diferentes e chegou a hora de seguirmos em percursos separados"; as vezes... bem, as vezes o amor é um adeus inevitável. Para que possamos crescer, precisamos libertar o outro... sabe, deixá-lo ir. — Dessa vez, eu era quem estava soturno. — Infelizmente, alguns caminhos que colidem nem sempre estão destinados a permanecer.

Em quietude, Elena parecia observar cada traço do meu rosto, cada detalhe, cada peculiaridade. De quando em quando, um sorriso discreto se formava em seus lábios enquanto ela estava ali, vivaz, memorizando aquele momento, fotografando o que ela desejaria guardar como recordação.

— Fico feliz — Pigarreou — que eu não destruí o seu lado bom. Fico feliz que ele permaneceu intacto apesar de toda aquela tempestade bravia a qual atravessou durante a minha ausência.

— Não vamos falar sobre isso, está bem? Ficou para trás e eu não gosto de estar revivendo.

— Você tem razão, sinto muito. — Coçou a nuca. — Quer voltar para dentro? — Fiz uma careta negativa e ela riu. — Nah, eu também não quero.

— Vamos deixar que eles sintam a nossa falta. — Pisquei o olho para ela. — Está com o seu celular aí? — Elena tateou os bolsos e assentiu. — Escolha uma música especial, aquela que transporta a sua alma à uma outra dimensão e te faz transcender.

— Por quê? — Franziu o nariz, sorrindo e retirando as suas pernas que, antes, estavam em repouso sobre as minhas coxas.

— Quero dançar com você. — Levantei-me — Criar novas lembranças.

Elena entrecerrou o olhar, e, ainda com um doce sorriso nos lábios, desbloqueou o celular e rapidamente colocou uma música para reproduzir no aplicativo. 

Levantou-se, deixou o aparelho sobre a cadeira e, devagar, puxou-me pela mão para que pudéssemos ficar mais à vontade. Envolvi-a nos meus braços e ela se aninhou no meu pescoço enquanto abraçava-o, repousando a cabeça naquele pequeno espaço.

Movíamo-nos em um ritmo brando e singelo, e a sua respiração quente, misturada ao cheiro cítrico do xampu que usara, aferram-me de uma tal maneira que eu desejei, intensamente, fazer morada naquele abraço, descansar o meu coração e construir um novo lar para mim. 

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz