capítulo 20: momentos...

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Como viajamos durante o final da tarde, não demora muito para escurecer. A luz do sol se vai e para mim o sono finalmente chega. Durmo bem, e nem mesmo a enxaqueca proveniente da ressaca consegue barrar esse estado.

Antes de mergulhar no mundo dos sonhos, consigo ouvir a respiração suave ao meu lado e detecto que Brandon está dormindo.

Nem sei quando horas se passam antes de eu despertar.

Demoro um pouco para me mover e só então me dou conta de algumas coisas.

Ombro másculo e que parece tão macio.

Um cheiro de colônia masculina.

O contato da minha bochecha contra um tecido que definitivamente não é o da minha roupa.

Amplio os olhos, e então percebo que estive esse tempo todo deitada no ombro de Brandon.

Como sou ridícula!

Ele solta uma risadinha quando boceja e isso me diz que percebeu o que fiz.

— Você estava tão relaxada que eu não quis te acordar. Tão linda. — ele toca minha bochecha antes de fechar a cara e se afastar rapidamente.

É impressão minha ou Brandon está corando? É óbvio que ele não quis dizer aquilo.

— Eu... foi sem querer.

— Ok, mas não precisa se incomodar. — olha em meus olhos. — Aliás, você ronca.

— Idiota. — esmurro seu ombro e ele cai na risada.

— Estou brincando. Você até que é fofa dormindo. — seu gesto é tão meigo e contagiante, que não consigo conter meu próprio sorriso estúpido.

E então me dou conta da estranheza da situação e meu sorriso some com a mesma rapidez com que apareceu.

Brandon para de sorrir depois de mim e pigarreia.

— Isso ainda parece meio estranho, mas vai deixar de ser em breve. — sussurra seriamente, antes de se distrair com seu celular.

Como o ônibus está quase que totalmente tomado pela escuridão, observo o rosto de Brandon banhando pela luz do aparelho. Ele é tão bonito. Pena que um rosto tão belo ainda é motivo da maioria das minhas dúvidas.

***

Dois dias depois...

— Você parece ansiosa para alguma coisa. — minha mãe comenta assim que desço as escadas em direção à cozinha.

Ela coloca o suco, as torradas e o bolo feito na noite passada na mesa.

— Não é isso. Aliás, o café da manhã parece divino. — sorrio, encarando a mesa.

— Fiz especialmente pra você. Esqueci-me de perguntar antes. Alimentou-se bem em Minneapolis?

— Muito bem, mas você sabe que nada se compara a sua comida. — puxo uma cadeira para mim. — A viagem foi incrível. Aconteceu muita coisa surpreendente.

— Mesmo?

Sim, mãe. A senhora nem imagina! Fiquei bêbada e perdi a virgindade com o cara que até outro dia me odiava com todas as forças.

Esboço um sorriso tenso ao me imaginar dizendo tudo isso para minha mãe. Ela surtaria, com certeza.

— Sim, o jogo foi incrível e o resort onde ficamos... a senhora precisava ver, era surreal. daquele que só quem tem muito dinheiro pode frequentar. Foi divertido e descobri algumas coisas.

— Como o quê? — ela sorri, cortando o bolo em fatias antes de sentar de frente para mim, do outro lado da mesa.

— Que metade dos alunos da minha escola adora jogar dinheiro fora com coisas banais e se gabar disso depois. Eu acho que se tivesse dinheiro, seria meio mesquinha.

— Não diga isso. Você seria econômica, o que é bem diferente. Nunca tente se comparar a... — fica em silencio, encarando o pano de mesa.

Engulo em seco, imaginando o que ela deve está pensando. Foi muito difícil para nós o que aconteceu, principalmente para ela. Meu pai não deixou boas lembranças. De jeito nenhum.

— Hm, esse bolo está incrivelmente delicioso. — tento mudar de assunto, afastando a atmosfera sombria que quase acabou com a nossa manhã.

— Sua super mãe é a responsável por isso, então só aproveita. — e lá está o seu sorriso outra vez.



***

O corredor da escola está bem movimentado e barulhento. Os alunos se acotovelam e colidem uns contra os outros conforme seguem entusiasmados para suas respectivas turmas. É até estranho vê-los tão empolgados para a aula.

— Senti sua falta. — Nathaly me envolve em um abraço apertado.

— Também senti a sua. Tenho muita coisa pra te contar depois.

Passei um bom tempo divagando se poderia confiar em Nathaly para divulgar meus segredos mais íntimos. E a reposta foi sim. Minha melhor amiga é de confiança, até porque conhece o meu passado caótico na Greene Marshall.

— Imagino que a conversa será longa. Ligue para sua mãe e diga que irá dormir lá em casa hoje.

— E minhas roupas?

— Temos quase a mesma medida. Posso te emprestar umas peças.

— Ok.

Nunca fui à casa de Nathaly e confesso que estou curiosa. Além disso, podemos colocar o papo em dia e já até consigo enxergar a expressão chocada da minha amiga.

Ei, mãe. Posso dormir na casa de Nathaly hoje? Depois da escola sigo direto para lá, pode ser? Amanhã cedo volto para casa. Prometo não fazer nada de errado.

Assim que envio a mensagem, meu celular não demora a vibrar de volta em minhas mãos.

Certo. Pode dormir. Não façam nenhuma besteira e se comportem. Confio em vocês. Bons estudos, querida.

Obrigada. Beijos.

— Vamos para a aula. O alarme acabou de disparar. — Nathaly me puxa pelo corredor.

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