capítulo 26: um tempo juntos

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No sábado, meus passos são determinados em direção ao carro estacionado na porta da minha casa. Não é Brandon dessa vez, mas Nathaly no carro de seu pai. Seu motorista acena para mim e aceno de volta antes de me sentar no banco de trás ao lado da minha amiga.

Aceno para minha mãe pela janela e ela sorri antes de fechar a porta. Eu me sinto um pouco mais tranquila por ter dito a verdade. Eu disse para minha mãe que vou dormir na casa de Nathaly depois da festa, ou seja, não vou ficar até de manhã por lá e nem tocar em bebida alcoólica. Não me importo com a última opção, afinal o álcool não me deixou com o anseio de mergulhar nele outra vez. Prefiro apenas me divertir essa noite, sem desobedecer minha mãe.

O carro finalmente dá partida e encaro a garota vestida de forma sexy ao meu lado. Enquanto estou usando um vestido xadrez mais discreto, Nathaly está enfiada em um vestido curto e vermelho com uma fenda lateral bem reveladora.

— Você está incrível. — ela diz.

— Você também.

— Brandon vai estar lá? — pergunta casualmente.

— Sim. E não se preocupe. Você não vai segurar vela essa noite.

— Você é tão atenciosa, amiga. Bem que poderia se vingar pelas vezes que segurou vela para mim e Josh, mas não, você só quer o meu bem, mas não se preocupe. Para não te atrapalhar, você pode ficar com Brandon enquanto vou ficar com o meu namorado. E você sabe que tenho que aproveitar a companhia dele, afinal é tão difícil achar uma ocasião para sairmos.

— Entendo. Irei ficar com Brandon então.

— Ok. — diz pensativa. Ela parece querer dizer algo, mas fica em silêncio.

— O que essa carinha aí significa? Pode falar, Nathaly.

— É que andei pensando numa coisa. Vai soar meio estranho.

— Diga. Estou morrendo de curiosidade aqui. E você sabe que entre nós não há segredos.

— Certo, é que é meio estranho o que vou falar, mas você já reparou que o antigo Brandon só praticava bullying contra você?

Eu a observo, pensativa.

— Eu tinha essa dúvida, porque nunca ouvi relatos de Brandon sendo um valentão com todos.

— Isso porque era apenas com você! — amplio os olhos, meio assustada. — Isso é muito esquisito. E pelas minhas pesquisas...

— Pesquisas? Você investigou? — não sei se sorrio ou lamento.

— Sim. — diz parecendo meio culpada. — Eu precisava tirar essa dúvida. Perguntei Para o máximo de pessoas que pude e mesmo que achassem esquisito, disseram que Brandon nunca as machucou. Só você. E por um motivo que ninguém nunca entendeu. Além do mais, Brandon sempre interferiu para que você apenas sofresse com piadinhas e brincadeiras verbais. Nada de violência física. Consegue perceber a gravidade disso?

Caramba, tudo é tão confuso. E tenho medo do que posso descobrir caso investigue a fundo. Por quê? Por que eu? Nunca fiz nada contra o Brandon, então por que ele me escolheu para ser seu alvo no passado? Será que ele ia revelar isso quando dormimos juntos antes de seu irmão ligar? Provavelmente sim, mas fomos interrompidos. Droga!

— Você está me fazendo pensar tanto, Nathaly. Claro que isso é estranho. Bizarro até. Por que eu?

— Não sei. Mas já tentou perguntar pra ele? Só Brandon pode dizer. Aposto que nem mesmo Pamela sabe do real motivo.

— Assim que eu tiver a oportunidade, irei perguntar. Essa dúvida tá me matando, entre tantas outras. — suspiro. — Eu realmente quero acreditar que ele mudou, que ele gosta de mim tanto quanto gosto dele, mas sinto que tudo pode desmoronar a qualquer momento e...

Ela coloca a mão em meu ombro.

— Relaxa, Jessie. Desculpa por te deixar preocupada e cheia de dúvidas. Sou uma péssima amiga.

— Não, você só está me alertando. Preciso mesmo de respostas e só Brandon pode me dá-las.

— Certo, mas não deixa isso ser o centro da sua atenção hoje. Vamos apenas nos divertir, ok?

— Ok. — tento sorrir.

***

O lugar definitivamente está cheio de pessoas e música alta. Acho difícil encontrar Brandon com a mesma facilidade com que Nathaly encontrou Josh.

No ambiente semiescuro, tento não me concentrar muito nos lábios grudados de Nathaly e seu namorado, e agradeço aos céus quando meus olhos colidem com os de Brandon no meio da multidão.

Ele sorri e retribuo o gesto, vendo-o se aproximar calmamente. Seus passos são seguros assim como seu semblante sereno, e guardo na memória sua aparência despojada, encarando seu tênis, jeans e sua camiseta preta de manga longa.

— E aí. — me dá um beijo.

— Oi.

Ele encara Nathaly e Josh enfiados em seu próprio mundinho e depois olha para mim, reconhecendo uma expressão torturada em meu rosto.

— Imagino que estava insuportável ali, né? — me leva entre a multidão até a pista de dança.

— Um pouco. É estranho segurar vela.

— Parece péssimo para mim.

Uma canção animada começa a sair dos alto-falantes e Brandon me guia em um passo de dança até razoável. Agradeço por não pisar em seus pés em certo momento e mergulhamos em nosso próprio mundinho. Sem dúvidas ou coisa do tipo. Apenas Brandon e Jéssica, o casal mais inusitado possível.

— Sabe, nunca confessei, mas gosto de estar com você, Jéssica. Você é tranquila, não exige algo de mim além do que posso dar e me compreende como nenhuma garota fez antes. E, além disso... — suspira. Continuo com meus olhos focados nos seus tão intensos. — Você é uma garota incrível.

— Hm, mesmo? — sorrio envergonhada. É estranho ouvi-lo dizer isso. Se fosse outra pessoa, eu não esboçaria qualquer emoção. Mas com Brandon, tudo ganha outra perspectiva.

Ele franze o cenho.

— Por quê? — questiona, e fico sem entender aonde ele quer chegar. — Por que me perdoou tão rápido? — acaricia minha bochecha e por algum motivo sinto um frio na espinha. Sem querer, meus pensamentos voltam para a conversa daquelas garotas no banheiro feminino outro dia.

Não, não...

— Porque... não consigo guardar mágoa por muito tempo. — suspiro. — É mais fácil perdoar, minha mãe sempre me ensinou isso.

Ele estreita os olhos, parecendo ainda mais confuso.

— Como pode existir uma garota tão boa assim? Você é perfeita demais pra ser verdade, Jéssica.

Ou boba demais.

Seus olhos de alguma forma brilham ao falar, e quase posso ver a emoção em suas orbes. Por que meu coração está tão acelerado?

— Não acho que sou perfeita. — murmuro, tocada por sua intensidade. — Não crie tantas expectativas sobre mim, Brandon. Você pode se decepcionar.

— Acho que isso não vai acontecer. — cola nossos rostos. — Obrigado por ser tão boa para mim. Tão boa mesmo quando não mereço essa bondade. — ele engole em seco e desviar o olhar.

Eu o observo com confusão, tentando lê-lo. Brandon é como um quebra-cabeça. E ainda estou tentando montar todas as peças. Mesmo assim, sinto que agora é bem mais fácil compreender suas emoções. Antes isso seria impossível, afinal ele era intransponível em diversos aspectos. Agora é diferente. Ele está muito mais transparente do que no passado e de alguma forma gosto disso.

— Você pode ser merecedor se me beijar agora. — esboço um pequeno sorriso.

Ele olha de volta para mim e um sorriso quase imperceptível aparece em seu rosto quando ele assente e se inclina para um beijo profundo e cheio de sentimentos. E se Brandon quer mostrar que sente algo por mim nesse gesto, ele consegue, porque cada toque dele me envia ainda mais alto.

Posso apenas aproveitar esse momento sem pressão.

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