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|Capítulo 4|

2015

"Sim, avó. Não, nunca mais voltei a faze-lo... Desculpa, esqueci-me. E tu, nunca me deixas perguntar-te nada. Como vai o teu trabalho de voluntária?" Scarlet sugou a nicotina e, logo de seguida, expliu o fumo pela boca, enquanto ouvia a avó falar do seu dia. "O quê?! Não! Eu não vou fazer isso! Sabes bem que não sou o melhor exemplo... Está bem, eu penso nisso. Adeus, avó."

Suspirou e apagou o cigarro no cinzeiro que tinha na mesa de centro. Cada conversa costumava durar um cigarro, e ela aproveitava esse facto para aliviar o stress das conversas. A sua avó fazia questão de a relembrar como ela era quando se automutilava. Também fazia questão de lhe perguntar se não queria ir falar da sua fase de automutilação, mas ela recusava sempre. A avó fazia de voluntariada num grupo onde iam os adolescentes que passavam pelo mesmo que Scarlet tinha passado, e gostava que a neta prestasse depoimento. Para piorar, a senhora de idade estava sempre a relembrar a moça dos aniversários dos seus antigos colegas, pessoas que a Scarlet não falava desde o último dia que passou na sua terra natal.

Mal ouviu o barulho da porta a abrir e, seguidamente, a ser fechada, foi deitar as cinzas do cigarro no lixo. Alina, a sua companheira de casa, odiava cigarros, embora conseguisse aguentar o cheiro dos mesmos.

"Estiveste a fumar, outra vez?" A morena perguntou mal entrou na sala.

"Não é óbvio?"

"Houve, eu sei que já falamos sobre isto, mas tens de deixar a porcaria dos cigarros. Isso mata-te!"

"Vou morrer de qualquer das maneiras." Scarlet constatou com um encolher de ombros.

"Mas não tem de ser uma morte lenta e dolorosa." Scarlet grunhiu em resposta. "Ah! Acho que encontrei a faculdade perfeita para ti."

"Eu não vou para nenhuma faculdade."

"Vais continuar a trabalhar naquele café durante toda a vida?"

"Se tiver que ser, sim."

Alina suspirou antes de dizer, "Apenas lê os papéis e pensa na hipótese de voltares a estudar." E atirou uma pasta para o colo da loira.

Desde que se conheciam, há cerca de um ano, que Alina tentava que Scarlet estudasse. A morena era mais velha e já trabalhava numa firma de advogados, embora continuasse a estudar. Ela preocupava-se com Scarlet como se duma irmã se tratasse, mais uma das coisas que a loira não percebia na sua amiga.

"Alina, emprestas-me o teu telemóvel?"

"Claro. Está na mesa da entrada."

Scarlet foi buscar o telemóvel da amiga e logo pôs o código. E lá estava ele, o 'caracolinhos'. Tinha um sorriso claramente forçado. Estava acompanhado por outro rapaz, este de olhos azuis, cabelo loiro e um sorriso branco e lindo.

"Quem são estes dois?" Ela perguntou enquanto caminhava até à sala com o telemóvel na mão.

"Este é o Ashton," Apontou para o rapaz do bar. "E este é o Luke." Apontou para o de olhos azuis.

"Porque tens uma foto deles?"

"Estás tão atrasada no que toca a bandas." Tirou o telemóvel das mãos de Scarlet e foi à galeria. "Estes são os 5 Seconds of Summer. O Calum, o Michael e, como já tinha dito, o Luke e o Ashton."

"Então eles é que são os 5 Seconds of Summer. Não gosto deles."

"Tens maus gosto. 5 sauce são bem melhores do que esses Metallica que tu ouves."

Continuou a mostrar fotos da banda e uma chamou à atenção da loira. Nessa foto apenas estava Ashton, e tinha um sorriso verdadeiro. Parecia mais novo, talvez dezassete anos, e parecia estar a fazer batuque na caixa onde ele estava sentado. Os seus olhos estavam meio fechados e tinha pequenas rugas ao pé dos mesmo, e tinha uma pequena cova no cantos da sua boca. Sorria verdadeiramente, como se a música fosse a sua grande paixão e o som que produzia o seu grande amor.

Pouco tempo depois, Alina teve que ir ter com o namorado, deixando Scarlet sozinha. Era nestes momentos que ela chorava. Ela odiava chorara na presença de outros, mesmo que esses outros estivessem noutra divisão.

Foi para o seu quarto e deitou-se na cama. Aconchegou-se nos lençóis e começou a pensar no seu passado, na sua avó, nos seus pais, nos seus antigos colegas de escola... E começou a chorar. Ela chorava silenciosamente, sem soluços muito altos, apenas lágrimas.

Ela gostava de pensar que não tinha sentimentos, mas estes momentos mostravam-lhe o contrário. Estes momentos mostravam-lhe a dor que sentia e sempre iria sentir. O seu coração estava cheio de dor e melancolia.

No entanto, apesar de possuir este tipo de sentimentos, não tinha nem uma pinga de amor - fosse amor próprio ou pelos outros. A dor preenchia-lhe o coração, de maneira a que mais nenhum outro sentimento pudesse ser sentido por ela.

Ela só sentia dor e, por mais que não admitisse, queria que alguém substituísse essa dor por amor.

++

ily, nunca te esqueças de sorrir :-)

Scar | a.i.Where stories live. Discover now