|37|

214 14 4
                                    

|Capítulo 37|

2012

O edredão começava a ficar encharcado naquela área. Água salgada caía sem parar em cima da cama, sem que conseguissem pará-la. Scarlet sentia-se desconfortável por estar deitada em cima de algo molhado, mas nem ela, a causa daquilo tudo, conseguia evitar que a água parasse.

Mesmo que quisesse, ela não conseguia parar. Scarlet chorava e chorava. Ela estava uma desgraça. Soluços demasiado ruidosos saiam-lhe pelos lábios e ecoavam pelo seu quarto. A sua respiração estava desregulada e sentia uma dor de cabeça bastante aguda por estar a chorar há tanto tempo. Muco saía-lhe pelo nariz, sem que ela se desse ao trabalho de se assoar. A sua cara ardia devido às lágrimas e à fricção que as suas mãos faziam sempre que esfregavam nas bochechas dela para limpar as mesmas. Os seus olhos ardiam e, de vez em quando, deixavam de ver tão bem por causa do nublado que as lágrimas causavam.

Era uma visão que dava pena. Bastante pena. A própria moça dava pena, por estar naquele estado, com cortes nos pulsos, coxas e tornozelos e a pele toda irritada e vermelha.

A sua avó estava sempre a perguntar-lhe pelos cortes, à espera que a neta falasse com ela. Mas Scarlet era casmurra, por isso a senhora tinha dito que, quando chegasse a casa, elas iam falar e que a loira não teria hipótese de fugir.

Prometido é devido e, mal Adelaide chegou a casa, trancou a porta, escondendo as chaves onde sabia que a neta nunca as procuraria. De seguida, fez questão de esconder todos os objetos cortantes da cozinha no seu quarto, trancando o mesmo e guardando a chave do seu quarto no mesmo sítio que a chave de casa.

A situação de Scarlet preocupava a senhora. Ela tinha prometido à sua filha, antes da última falecer, que tomaria conta da neta caso algo acontecesse, e agora já nem sabia o que se passava na vida da loira. Ela não sabia como ajudar a neta sem que primeiro a rapariga falasse com ela.

Era tudo mais fácil quando Scarlet era mais nova, chegava a casa e fazia um relatório enorme sobre o que tinha feito durante todo o dia. Agora, a moça já nem falava há hora das refeições e quando acabava de jantar ia logo para o quarto, fazer sabe Deus o quê.

Adelaide suspirou e caminhou até ao quarto da neta. Ainda ficou uns bons minutos a ouvir a neta a soluçar e a puxar o ranho, sem saber bem como abordar Scarlet acerca daquilo que se passava com ela.

Finalmente, a senhora de idade abriu a porta. Ao ouvir o som da porta do seu quarto a abrir, Scarlet sobressaltou-se e olhou meio assustada para a porta. Ela não tinha ouvido a sua avó a chegar a casa e agora já não havia nada que pudesse fazer.

Ao ver o estado da neta, Adelaide deixou escapar um soluço. A loira estava de calções, mostrando os seus cortes nas pernas, e com uma t-shirt que mostrava os cortes nos pulsos.

"O que é que andas a fazer, Scarlet?" A senhora murmurou, mas a moça conseguiu ouvir bem devido ao silêncio.

"Avó, de-deiixa-me ficar sozinha." A loira pediu, com a voz fraca, fungando.

"Como é que queres que eu te deixe sozinha?" A senhora fechou a porta do quarto atrás de si e chegou-se mais perto da cama. "Scarlet, tu andas a fazer sabe-se lá o quê e já nem me dizes nada. Tu andas deprimida e eu nem sabia."

"Eu não estou deprimida!" Scarlet gritou, inconscientemente tentando tapar os cortes no pulso esquerdo com a mão direita.

"Então para quê que andas a fazer isso? Porquê que te auto mutilaste, huh?" A idosa mantinha um tom de voz bastante calmo, por não querer que a neta fugisse.

Scar | a.i.Onde histórias criam vida. Descubra agora