|39|

209 12 2
                                    

|Capítulo 39|

2013

Era tão exaustivo. Era chegar a casa e levar nas orelhas acerca do futuro dela. A avó não se calava. Sempre a dizer que ela, como já tinha acabado o secundário, tinha de ir fazer os exames para entrar nas universidades. Scarlet queria lá ir para a universidade, ela queria era continuar com o seu grupo - que, surpreendentemente, ainda se mantinha o mesmo - e fazer as parvoíces de sempre.

Depois, a avó chateava-a acerca da sua condição. Perguntava-lhe todos os dias se tinha ido ao grupo de apoio e se tinha a certeza de que não queria ir a um psicólogo. Claro que ela tinha a certeza. A loira não era maluca, precisava agora de ir a um psicólogo. Ela estava bem, apenas se cortava de vez em quando. Na verdade, fazia-o muito poucas vezes comparando a antigamente, pois agora estava sobre o controlo da avó, apesar de já ser, tecnicamente, uma adulta.

Scarlet estava deitada na sua cama e questionava-se acerca do seu futuro e das suas experiências. Na sua cabeça, o seu futuro seria tudo menos brilhante, e isso talvez se devesse ao facto das suas experiências não serem nada de agradável. A moça passara a adolescência a fazer porcaria. Ela cortava-se, arranhava-se, fumava, roubava, lutava. Fazia tudo o que não devia. Mas havia uma coisa que ela nunca tinha feito, e isso era beber álcool ou consumir droga. 

Até aos dezassete anos, recusara-se a fazer qualquer uma dessas coisas. Para ela, droga era algo parvo e que as pessoas só precisavam de tomar se tivessem doentes, ou seja, as pessoas só deviam consumir drogas lícitas. Scarlet nunca pensara em experimentar tal coiso, muito menos vir a gostar disso.

Com o álcool era quase igual. A loira sabia que tinha uma tolerância a álcool bem grande, devido ao histórico da sua família, mas assustava-a a ideia de perder controlo e agir como aquelas mulheres que quase se despiam em frente de toda a gente ou aqueles homens que disparavam aos socos a tudo quanto é sítio. Scarlet já passara vergonhas suficientes, não se queria envergonhar ainda mais. Além disso, a idade legal para beber era só aos vinte e um, ela tinha tempo.

No entanto, naquele dia, ela estava mesmo exausta. Estava farta de tudo. Bem, há algum tempo que ela andava farta de tudo, mas, agora que andava a tentar controlar todos os tipos de auto-mutilação, parecia que estava tudo a voltar a amontoar-se e a preparar-se para quando Scarlet explodisse.

E o pior de tudo é que ela não podia auto-mutilar-se de nenhuma maneira, mesmo nenhuma. A loira não podia cortar-se, arranhar-se, queimar-se, puxar os seus cabelos... Nada. Para além do controlo da avó, ela tentava controlar-se, o que era bastante complicado, mas ela não estava para continuar a levar na cabeça. A moça queria ficar melhor, mas não para ter uma vida de qualidade, era apenas porque ela não queria que a avó a chateasse mais. 

Quem diria que uma jovem de dezoito anos pensaria assim, de uma maneira tão egoísta e parva.

Já de saco cheio, a rapariga não sabia o que fazer. Até que se lembrou nas tais experiências que ela nunca tinha tido e pensou, beber não conta como auto-mutilação.

Esse foi o primeiro erro que ela cometeu naquele dia. Beber conta como auto-mutilação quando essa ação é feita com o objetivo de esquecer tudo ou de se destruir o próprio corpo para controlar a sua dor. E era isso que Scarlet queria, algo que a fizesse esquecer de tudo o que a chateava e incomodava.

Mas tentando-se enganar a si mesma dizendo que beber não lhe faria mal nenhum, Scarlet foi a uma discoteca naquela noite com um amigo que tinha mais ou menos o mesmo objetivo que ela. O moço tinha conhecimentos e conseguiu que fosse a uma discoteca sem segurança e numa zona que deixava muito a desejar.

Scar | a.i.Where stories live. Discover now