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|Capítulo 20|

2011

"Não percebes que ele não gosta realmente de ti?"

"Achas que ele iria namorar com alguém tão feio quanto tu se não tivesse sido desafiado a fazê-lo?"

"Olha-me só para ti, com essas olheiras enormes. Pareces um zombie."

"A cor dos teus olhos é horrível, parecem vomitado."

"Deves pensar que já és mulher, com esse bigode aí."

"Se fosses mais pálida serias como a parede da casa de banho da escola: branca e porca."

"Não me admira que os teus pais se tenham matado, com uma filha assim..."

"És mesmo feia, pá!"

"De que te serve essa barriga? É para dizeres que já bebes cerveja?"

"Se eu fosse a ti escondia-me, o Chucky quer a sua cara de volta."

"Imagino que não tenhas de comprar óleo, tens uma pele tão oleosa..."

"Caso te tenha passado ao lado, existem escovas para o cabelo, podias dar um jeito ao teu."

Todos esses insultos se repetiam na cabeça de Scarlet vezes e vezes sem conta. Era impossível impedi-los de se espalharem e de a fazerem sentir-se pior do que já estava.

Ela não conseguia aguentar mais tempo na escola com todas aquela palavras na sua mente, por isso a moça já estava a caminho de sua casa, a um paço acelerado. Cada passo que dava era um alívio para ela, pois podia chegar a casa e deitar tudo o que estava a sentir para fora.

Infelizmente, só quando chegou à porta de sua casa é que se lembrou que não tinhas as chaves. Scarlet grunhiu de frustração, o que não ajudou nada a sua situação, visto já estar à beira das lágrimas. Ela só queria ficar sozinha em casa, chorar o que fosse preciso, e comer para afogar as mágoas.

Scarlet não queria acreditar no que estava a acontecer. Como é que era suposto ela chorar o que fosse preciso se não conseguia entrar em casa e, consequentemente, todos a poderiam ver a ser fraca? E moça não queria isso, não queria nada mesmo. Toda a gente poderia descobrir que ela é mais fraca do que parece e isso assustava-a de morte.

Começando a entrar em pânico, a rapariga pôs-se a andar de um lado para o outro. Ela não conseguia ficar quieta, devido ao nervosismo, e começava a ficar tonta, o que piorava tudo. O dia já não lhe estava a correr bem, ainda tinha de piorar.

Mais uma vez, desta vez parecia com mais intensidade, aquelas palavras dolorosas repetiam-se na sua cabeça. Era inacreditável a quantidade de ódio e nojo que umas simples palavras podiam transmitir.

Olheiras... Zombie... Feia... Horrível... Oleosa... Pálida... Todas essas palavras tão simples e vulgares, mas com significados tão desgostosos e odiosos que chegava a doer.

Scarlet ainda se lembrava, mas também não tinha sido há muito tempo. Ela lembrava-se tão bem de quando tinha chegado à escola e aquelas três raparigas a olharam como se ela fosse inferior e não digna de estar no mesmo sítio que elas. Lembrava-se também de quando ao almoço ela tinha ido com Cole comprar uma sandes fora da escola e as mesmas três rapariga sussurraram, apontaram, e riram. Ela lembrava-se de quando tinha baixado a cabeça com vergonha e, reparando no desconforto dela, Cole lhe pegou na mão, a apertou, fazendo-a levantar a cabeça para olhar para ele, e lhe mandou um sorrio aberto e lindo, ajudando-a andar o resto do caminho com confiança.

Scar | a.i.Where stories live. Discover now