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|Capítulo 27|

2011

Aquele era apenas outro dia normal. Scarlet tinha ido às aulas e tinha convivido com os seus amigos, tinha feito o caminho para casa acompanhada por Cole e, quando chegara a casa, reparava que a sua avó ainda não estava em casa. Estava a ser um dia normal, tirando um pequeno pormenor.

Todos os dias, Scarlet ia á casa de banho no segundo intervalo e ficava lá até tocar. Depois do toque, todas as alunas que estavam na casa de banho iam embora, deixando a loira sozinha. A rapariga esperava cinco minutos e, depois de esses cinco minutos passarem, ela tirava o compasso que usava em geometria da mala. Assim que o tirava, colocava o dedo indicador na ponta da parte bicuda do compasso, deixando que esse bico lhe fizesse uma ligeira dor, apesar de não perfurar a pele. Quando acabava de brincar com o bico, ela abria o compasso e pegava nele como se fosse um lápis. Seguidamente, levantava a manga da sua camisola e começava a passar o bico do compasso pela pele, como se estivesse a escrever. Mas ela não estava a escrever, ela estava a provocar feridas a si própria.

Naquele dia, ela não tinha feito isso. Cole tinha-a ido buscar à casa de banho e levado para a sala com ele, para que a rapariga não chegasse atrasada. Por isso, ela não tinha conseguido mutilar-se.

Claro que ela podia fazer isso em casa, mas uma das razões de ela se mutilar na escola era por ter medo que a sua avó chegasse a casa sem ela ouvir e a visse a fazer aquele espetáculo de sangue.

Ao fechar a porta de casa e deixar a sua mochila cair no chão, Scarlet suspirou. A moça dirigiu-se á cozinha e comeu uma barra de cereais, não querendo comer demasiado devido à sua dieta. Enquanto comia a barra de cereais, sentou-se no sofá e ligou a televisão, sem se lembrar dos trabalhos de casa que deveria fazer.

Ao ver uma rapariga a mutilar-se na televisão – ela nem tinha bem a certeza do porquê de ver aquela série – Scarlet franziu as sobrancelhas e colocou os seus lábios um pouco para a frente. Por muito que custasse admitir, ela sentia saudades de se cortar. Apenas tinha passado um dia, mas cortar-se tinha-se tornado num hábito que ela não fazia questão em acabar.

Deitando o plástico que antes envolvera a barra de cereais fora, a loira levantou a manga da sua camisola até ao cotovelo. Olhou para o seu braço esquerdo e, instantaneamente, uma cara enjoada formou-se na face da menina. Quem diria que ela já se tinha tornado tão fraca?

Apesar do braço direito também ter alguns cortes, o esquerdo era, sem dúvida nenhuma, o pior. O longo de todo o braço se encontravam cicatrizes que tinham começado há pouco tempo a sarar. Ainda nenhuma das cicatrizes estava branca, indicando que aqueles cortes não tinham mais de três semanas. Todos os cortes eram horizontais e estavam vermelhos. No meio de tanta ferida, Scarlet conseguiu identificar as cinco que tinha feito no dia anterior. Esses cortes estavam a meio do braço, pois ela tinha começado a mutilar-se há relativamente pouco tempo e ainda tinha muito espaço no braço.

Ao reparar que não havia nenhum corte vermelho vivo, a loira voltou a fazer uma careta. Ela queria tanto, mas tanto cortar-se. É que nem precisavam de ser cinco cortes, como ela fazia habitualmente. Ela só precisava de fazer um corte para aliviar toda a pressão que ela tinha por cima de si.

Mas o medo de que a sua avó chegasse impedia-a de fazer o que quer que fosse.

Assim, a moça deu por si a pensar no que havia de mal em a sua avó descobrir. A mulher apenas ficaria desiludida, coisa que já tinha ficado antes. Por isso, será que era mesmo assim tão mau? Não era como se fossem os seus colegas a descobrir, a sua avó não iria gozar com ela.

Scar | a.i.Where stories live. Discover now