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Na manhã seguinte sentia-se bem para levantar, Sarah não estava na cabana. Ao seu lado havia uma túnica de couro e uma bacia para se lavar. Após estar limpo e vestido, saiu para procurar sua anfitriã. A cabana ficava bem no meio da floresta, camuflada entre as árvores. Athniel ouviu barulho de água e concluiu que deveria haver algum riacho por perto, resolveu seguir o som, passou por onde acampou com os romanos, ficava bem próximo a morada de Sarah e mesmo assim ele não sentiu a presença dela antes, deveria usar algum feitiço de ocultação.

Ele estava certo, era um riacho a poucos quilômetros de onde se localizava a cabana. E Sarah estava lá, brincando na água junto com algumas crianças. Ficou escondido admirando a cena por trás de uma grande pedra, estava encantado com a beleza da mulher que o salvou, só não conseguia saber se isso era bom ou ruim. Sabia que as chances de ceder aos sentimentos mundanos eram grandes já que nasceu como humano, mas nunca se imaginou encantado por alguém cujo sangue vinha do inferno.

— Por que não se junta a nós, Athniel? — Sarah perguntou sem se virar para onde ele estava.

— Estou bem aqui, obrigado. — Respondeu saindo de seu inútil esconderijo.

Indo contra tudo que acreditava e julgava certo, ele se deixou levar pelos encantos de Sarah, e quando seus ferimentos estavam totalmente curados e podia partir, decidiu ficar. Ela era realmente uma pessoa boa, usava de seus conhecimentos e poderes para ajudar as pessoas da vila. Athniel passou a colaborar com os moradores fazendo serviços braçais, e os ajudou a acharem outro lugar para se estabelecerem já que os soldados romanos logo voltariam a procurá-los.

Em todos os seus séculos na Terra, já havia aprendido o quanto podiam ser cruéis os homens, nos seus primeiros anos acreditava que a crueldade estava naqueles que não adoravam ao Deus dos hebreus, o seu Deus, que conheceu através das histórias de seus pais, o Deus bom e misericordioso que lançou anjos na terra por não escolherem rápido o suficiente, pois todos deveriam ter a certeza de estar ao lado d'Ele. Mas com o tempo foi descobrindo o quanto estava enganado.

Viveu entre muitos povos, conheceu seus deuses e suas culturas, chegou até mesmo a ser adorado como um deus em uma tribo apenas por ter salvado seus habitantes da lava de um vulcão. Entendeu que a maldade humana era puramente mundana. E foi em uma vila de pagãos, que não adorava a nenhum deus, cultuavam a natureza, que conheceu o melhor lado mundano. Cada morador contribuía igualmente, um ajudando ao outro, se respeitando e resolvendo seus conflitos com sabedoria ao invés de guerra.

Ele e Sarah descobriram juntos um sentimento que não conheciam. Podiam passar dias se amando, sem se importar com nada a sua volta. E foi em um desses dias que tudo aconteceu. Os dois estavam deitados nus, seus corpos entrelaçados em um momento de pura luxúria. Athniel acariciava os cabelos negros da mulher que amava.

— Eu queria ter a eternidade para viver a seu lado. — Sarah quebrou o silêncio.

— Eu troco a eternidade se for para ter mais um dia com você.

— Isso é muito para se abrir mão. — A mulher lhe deu o mais doce sorriso.

— Do que me adianta a eternidade sem você? — Ele a beijou nos lábios com intensidade.

Neste momento ouviram gritos vindo da vila, e um forte cheiro de queimado tomou conta da cabana. Os dois se olharam assustados e se apressaram a levantar e cobrir seus corpos. Já fora da cabana era possível ver uma enorme fumaça tomando os ares.

— Fique aqui. — Athniel pediu.

— Eles precisam de mim. — Sarah estava temerosa.

— Eu irei até lá, mas fique aqui, eu lhe imploro. — A mulher acenou com a cabeça e ele alcançou o céu voando até a vila.

Marcas em Sangue   [Em Revisão]Where stories live. Discover now