Capítulo 11 - Hunter (parte 3)

748 129 103
                                    

Sophie ficou irritada e surpresa com a mais nova informação que recebeu, desta vez foi ela quem precisou se recompor antes que Hunter continuasse sua história.

A garota foi até o banheiro, afundou a cabeça sob a torneira deixando cair uma quantidade considerável de água em sua nuca. Após secar o rosto, ela voltou ao porão e sentou sem dizer uma palavra.

— Bom. — Hunter começou. — Agora que já passou sua reação exagerada, vou continuar com o que interessa.

“Eu estava prestes a retrucar a opinião que Raziel tinha sobre eu me relacionar com mortais, porém, algo inesperado aconteceu. Feridas começaram a se abrir em minhas costas, assim como em sua mãe, a dor era insuportável, uma após outra elas se curavam e voltavam a se abrir.

— O que está acontecendo? — Perguntei vendo que Raziel não parecia perdida como eu.

— Já começou. — Ela respondeu aguentando a dor de maneira admirável. — Ele está passando pelo que precisa passar, e dividiremos com ele a dor.

— Nunca notou minha presença, e agora para sentir dor sou escolhido? — gritei mais para externar minha raiva.

— Não pense que isso te torna especial. Todos os caídos estão aguentando esta dor. — Eu estava achando sua mãe um verdadeiro pé no saco.

Mas ela ficou ali comigo, durante toda aquela tortura, não saiu do meu lado, mais tarde fui descobrir que ela via algum tipo de potencial em mim. Acredite, eu também não sei o que foi.

Quando tudo acabou ela ainda estava lá.

— Por que veio me impedir? — Perguntei ao me recompor.

— Precisava acontecer.

— Ele não deveria morrer, era bom, justo e descente. — Eu não conseguia aceitar, na verdade, não aceito até hoje, aquele cara merecia mais tempo para espalhar o que tinha de bom.

— Ele vive. — Ela me informou. — Irá ressuscitar ao terceiro dia, para que todos reconheçam o poder e amor de seu criador.

— Toda essa dor e sofrimento, apenas para demonstrar poder.

Ela me olhou como se eu fosse uma criança sem instrução, só naquele momento que eu realmente reparei nela, tão pequena e delicada que parecia poder quebrar ao mínimo toque, fico me perguntando por qual motivo um anjo tão poderoso escolheu um corpo de aparência tão frágil para viver na terra.

Sabe, só de olhar para ela você conseguia sentir paz, acho que por isso Deus a escolheu para ir até mim, sabia que ela seria capaz de acalmar meu coração enraivecido, aqueles olhos azuis pareciam enxergar minha alma e eu queria que pudessem encontrar algo bom.

Ela segurou minha mão com gentileza, abriu suas asas e me encorajou a fazer o mesmo. E quando voou, eu a segui, foi a primeira vez que fiz isso na companhia de alguém.

Fomos até um monte, era um lugar onde Deus tinha contato direto com a Terra, Raziel me contou que ele sempre lhe falava diretamente, mas que quando se calava ela ia até ali para poder sentir sua presença e isso acalmava seu coração, queria que eu sentisse o mesmo, mas pra mim, foi apenas um vazio.

Ela ficou um pouco decepcionada, mas não desistiu, estava empenhada em provar o amor de Deus por mim. Não deu muito certo, acho que no final do dia ela já estava quase se convencendo de que Deus realmente não dava a mínima pra mim.

Entretanto, ela teve uma última ideia, mas precisaríamos esperar até o terceiro dia, sim, ela queria me levar para falar com o filho de Deus. Então seguimos até lá, quando chegamos o corpo já havia sumido, vimos os guardas desesperados afirmando que não saíram do local.

— Soube que queria impedir meu sofrimento. — Ele apareceu bem a nosso lado. — Sou grato, existe bondade em você.

Raziel sorria vitoriosa enquanto eu apenas ficava lá parado, sem realmente acreditar no que estava vendo.

— Athniel, você não é um erro.

Foi tudo que ele disse antes de partir, eu não tive tempo de falar nada, perguntar nada, ele simplesmente se foi, suas palavras ficaram marcadas em mim, estão até hoje.

— Eu estava certa de que sua existência tinha importância. — Raziel tinha um brilho diferente no olhar.

— Assim como afirmou que eu não deveria ter nascido. — A lembrei provocando.

— Foi um erro pensar desta forma. — Ela sorriu. — Devo lhe pedir algo antes de partir.

— Diga. — Eu a incentivei.

— Se afaste dos mundanos, não interfira em seus assuntos e pare de se deitar com suas mulheres.

— Farei o possível.

Ela se foi e tive uma grande vontade de a seguir para onde quer que fosse, mas não o fiz, ela me intimidava. Continuei meu caminho, não consegui parar de interferir nos assuntos mundanos, porém, nunca mais me deitei com uma mulher humana, quer dizer, até conhecer Sarah.

Essa parte da história você já conhece, talvez Estefan só tenha deixado de lado o fato de eu quase me tornar servo de Lucifer.”

— Como assim? — Sophie quis saber.

— Ele me ofereceu acabar com a dor que eu estava sentindo, e aceitei prontamente. — Um sorriso amargo surgiu no rosto do imortal acorrentado. — Estava quase feito, mas Estefan apareceu interrompendo o processo, ela havia sido mandado para me guiar, segundo ele, Deus achava que eu me perderia, ele estava certo.

— Seus olhos ficaram negros quando eu te bati no bar, e estavam negros quando chegamos aqui. — Sophie concluiu.

— Você é uma ótima observadora. — Hunter piscou.

— Estefan interrompeu o processo, mas não antes de uma parte sua já estar corrompida. — A garota continuou.

— Bingo.

— Você foi um completo babaca quando viu meu lado sombrio, me olhou com nojo, mas você não é tão diferente assim de mim.

— A única diferença é que você não escolheu ser neta de Lucifer, eu iria entregar minha vida a ele de bom grado. — O garoto fez um impulso para frente como se quisesse ficar mais próximo. — Mas minha raiva não se dá ao fato de você ser neta de Lucifer.

— Então?

— Eu te protejo a muito mais tempo do que imagina, quando você ainda era uma criança assustada, lutei com Nathuriel para dar chance a August de te levar para longe, me afastei, pois Estefan jurou que te protegeria, era doloroso te olhar. Mas comecei a ficar desconfiado em relação à morte de seus pais e quando soube que ele te traria para Sant'Angelin, quis ficar por perto, mas você é tão parecida com ela que fiquei confuso, pensei ser uma segunda chance. — Ele olhava diretamente nos olhos de Sophie. — Mas aos poucos fui percebendo que você não era Raziel e então ver sua transformação, foi como ver a mulher que amei se tornar o demônio que a levou de mim.

Marcas em Sangue   [Em Revisão]Where stories live. Discover now