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Hunter sentia seu pulso queimar devido às correntes de prata infernal, se fossem comuns não conseguiriam lhe manter preso. O estômago já doía devido à fome, a tempos havia aprendido a controlar bem esse tipo de necessidade mundana, mas estava fragilizado e isso o impedia de se concentrar.

Entretanto, a pior dor não era física, sentia um forte aperto no peito pela traição de Estefan. Era a única pessoa com quem ainda tinha uma boa relação, era como se estivesse fadado a ser sozinho, a perder todos aqueles que amava. Não esperava que Estefan o trairia de tal forma, muito menos por uma criatura que sempre abominou. "Hauren só pode tê-lo enfeitiçado", era a única conclusão que chegava.

Lembrava bem de quando conheceu o amigo, não foi um de seus melhores momentos. Foi exatamente no dia em que perdeu seu primeiro amor, e se não fosse Estefan, estaria completamente entregue a escuridão.

Na época fazia parte do exército romano, diferente dos caídos ele nunca havia tido contato direto com Deus, e por algum motivo nunca recebeu um chamado, nasceu amaldiçoado graças ao amor de seus pais. Mas de uma coisa tinha certeza, os massacres realizados em nome de Deus não tinham nada de santo, e ele não ficaria observando nas sombras enquanto inocentes morriam. Matara romanos antes, quando eles perseguiam cristãos, e os matava agora por perseguirem os que não eram. Não só este povo, mas julgava todos aqueles que mereciam ser julgados.

Aos caídos não era permitido interferirem nos assuntos dos humanos, podiam fazer apenas o que lhes era mandado. Mas ele não era um caído, nada o impedia de fazer o que acreditava ser certo e desde a morte de seus pais, que ocorreu cerca de duzentos anos após seu nascimento, ele se misturava às civilizações e fazia o que devia ser feito.

Naquele dia, seu regimento recebeu a ordem de subjugar uma vila de pagãos, ou aceitavam suas crenças, ou morreriam, decidiu não deixar que acontecesse. Os dez soldados, incluindo Venantiuns, nome que Hunter usava na época, partiram ao amanhecer. Seu plano era acabar com eles assim que tivessem longe o suficiente para fingir terem sofrido uma emboscada.

— Venantiuns, eu soube que essa vila possui belas mulheres, incluindo uma bruxa. — falou um dos soldados que insistia em puxar assunto desde que se uniu ao regimento.

— Isso não é de meu interesse.

Os outros evitavam muito contato, não eram amigáveis com estrangeiros. Ainda assim não fora difícil se tornar parte do exército. Conquistou seu lugar pois se destacou em combate. O general ficou impressionado demais com suas habilidades para dar importância a sua origem, fora obrigado a servir, o que era exatamente seu objetivo.

Após longas semanas de viagem desde a saída da capital romana, finalmente se aproximavam do local de sua missão. Ao cair da última noite que antecedia o dia escolhido para invadirem a vila, eles acamparam em uma floresta.

O local era cercado por árvores altas que evitava serem encontrados com facilidade. Ascenderam uma pequena fogueira para espantar os animais e se recostaram pelas árvores. Venantiuns se ofereceu para ficar de vigia e esperou que todos os outros estivessem dormindo para executar seu plano. Seria fácil, mesmo que eles permanecessem acordados, mas preferia assim, não ter que olhar em seus olhos enquanto tirava suas vidas.

Oito soldados mortos, faltava um, o que insistia em se aproximar dele, não estava entre os outros.

— Eu sabia que você era um traidor, Venantiuns. — Uma voz debochada saiu por entre as árvores. — Ou devo dizer Athniel?

— Como sabe meu nome?

— Qual caído não conhece a história daqueles que foram contaminados pelo sentimento mundano? — Gargalhou. — Seus pais são uma grande piada, e agora você, caçador de demônios, o leão de Deus. Logo você que nem mesmo conhece seu criador. — Outra gargalhada, ainda mais aguda. — meu mestre não lhe quer vivo, sua jornada acaba hoje.

Marcas em Sangue   [Em Revisão]Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum