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Sophie acordou com o despertador tocando às seis da manhã só para ser jogado longe se partindo em pedaços menores.

—  Que sonho estranho —  Murmurou com a cabeça enfiada no travesseiro.

Não estava nada afim de levantar, e o que tinha sido aquele sonho? Ela ainda sentia a dor do casal, o amor que sentiam um pelo outro, só em sonho mesmo para existir um amor assim, na verdade, quem era ela pra sonhar com o amor de alguém se nunca tinha experimentado nada parecido? E por que parecia que eles falavam dela no sonho?

Claro, como se ela pudesse ser perigosa pra alguém, tentou voltar a dormir, ainda não tinha um pingo de vontade de levantar da cama, no dia anterior a garota foi se deitar tarde por ainda estar desempacotando suas coisas, mais uma mudança repentina e sem explicação, já tinha desistido de perguntar, estava cansada das desculpas sem sentido que sempre recebia como resposta.

Como quando os pais disseram que mudariam porque a casa estava infestada  de pragas, não queria saber de mais mentiras, e não estava nem um pouco animada para mais um primeiro dia em mais uma escola diferente, manteve seus olhos fechados tentando voltar a dormir até ter a voz de sua mãe lhe chamando ansiosa.

—  Acorda mocinha, não vai querer se atrasar para o primeiro dia de aula. —  A mãe puxava-lhe a coberta deixando seu corpo à mostra.

—  Que diferença faz mãe? Vamos nos mudar antes mesmo que eu grave o nome de alguém, e olha que estamos em uma cidade que não tem nem 20 000 habitantes — bocejou sonolenta se cobrindo novamente.

—  Vamos lá Sophie, eu sei que não tem sido fácil pra você, mas Louisville é uma ótima cidade e desta vez vai ser diferente. —  A mãe tentava animá-la como sempre.

Era assim desde pequena, Helena sempre ocupou este papel, anima-la, enquanto seu pai era mais rígido e exigente, sua mãe era tão doce que nas piores situações, por mais que ela tentasse, era impossível ficar com raiva dela.

A garota abriu os olhos e suspirou sem ânimo, Helena parecia uma boneca, os rebeldes cabelos cor de laranja iam até à altura do ombro, os olhos possuíam a cor de uma esmeralda e te fascinavam mesmo por baixo dos óculos fundo de garrafa que ela usava mais para esconder as sardas do que por necessidade, os lábios pareciam ter o mesmo tom alaranjado que o cabelo e tinha formato de coração.

Sophie nunca se cansava de olhar para ela, podia perder horas do seu dia assim, tentando entender o motivo de não ter nenhum traço dela, absolutamente nada, na verdade ela não tinha nada nem de sua mãe e, nem de seu pai "você é uma perfeita mistura dos dois" sua mãe sempre falava, mas ela nunca se sentiu assim, era como se fosse uma completa estranha em sua própria família, alguém que não deveria estar ali.

—  Desta vez não vamos mudar? É isso mãe, vou poder fazer amigos e me acostumar com o lugar sem precisar ter medo de sofrer com a despedida depois? —  seu tom era irônico e acusador.

—  Bem, tudo indica que sim, agora levante, vamos menina. —  Helena deu dois leves tapas na perna à mostra da filha.

Estranhamente, algo na voz de sua mãe a passou uma segurança que Sophie nunca havia sentido antes. Helena puxou sua filha da cama, Sophie já era mais alta que ela, o que não era de se espantar já que Helena não possuía muito mais que um metro e meio de altura.

—  E mais, tenho certeza que vai adorar a escola nova. —  Ela completou com um adorável sorriso fazendo a garota revirar os olhos e confirmar a teoria de que era humanamente impossível alguém ficar com raiva de Helena.

Enquanto tomava banho Sophie pensou no que sua mãe havia dito "desta vez vai ser diferente" Sentiu uma pontada de esperança de que as coisas realmente poderiam melhorar, a forma que ela falou, não sabia ao certo, mas foi diferente das outras vezes.

Marcas em Sangue   [Em Revisão]Where stories live. Discover now