Capítulo 9 - A vida continua (parte 2)

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Depois de deixar Michel na escola, Sophie chegou em Sant'Angelin, ainda não tinha vontade de entrar na escola. Viu quando Luke chegou com o pai, teve impulso de ir falar com ele, porém desistiu quando ele a olhou e desviou o caminho. 

— Veja pelo lado positivo. — Cristian chegou falando de maneira positiva. — Pelo menos ele ainda está vivo.

Aquilo foi como um tapa na cara da garota que sentiu o estômago embrulhar. Cristian sorriu como se tivesse alcançado seu objetivo, piscou e foi em direção a escola.

Sophie continuou parada observando todos que chegavam e partiam, alguns alunos tinham o semblante triste, muitos perderam parentes e achavam que tinha sido culpa de um terremoto, a garota achou engraçado que eles conviviam tão perto da verdade, porém não sabiam de nada.

— Com dificuldade para entrar senhorita Robinson?

A garota apenas suspirou, não tinha ânimo para responder a uma diretora que não tinha nem mesmo a capacidade de demonstrar sentimento em relação aos que se foram, ela começou uma passada lenta em direção ao prédio da escola.

— Espere. — A diretora a impediu. — Eu realmente não queria que tudo isso tivesse acontecido.

— Engraçado. — A garota sorriu. — Você é tão poderosa e não serviu de nada quando realmente isso importava, você fala tanto de como faz parte de um exército mas quando a luta chegou você não estava lá.

— Eu não estava por perto. — A mulher se limitou a dizer parecendo incomodada.

Sophie apenas deu de ombros e foi para a escola. Sua primeira aula era com a professora Bethy, ainda estavam estudando sobre o Paraíso Perdido de John Milton, detestava o poema, antes a aula ainda era um pouco divertida com Hunter provocando a professora o tempo inteiro, mas desde que ele deixou a escola, era apenas uma aula chata sobre um poema cansativo.

E tudo ficava ainda pior com a fixação que a professora demonstrava pela opinião da garota que para falar a verdade nunca tinha nada de concreto para debater na aula, com certeza seria uma matéria em que iria reprovar, mas na sua atual circunstância já não se importava tanto com sua vida acadêmica, só continuava frequentando Sant'Angelin devido aos treinos.

— Sophie. — a professora chamou após terminar as aulas. — Você precisa se dedicar mais às aulas, ainda não me entregou a redação que pedi.

— Desculpa por isso. — limitou-se a dizer. — Trago na próxima aula.

— Falar sobre os anjos te incomoda?  — Bethy arrumou os óculos olhando para Sophie como se a avaliasse.

— Não. — A garota respondeu de maneira seca. — Posso ir?

A professora acenou a liberando e ela seguiu o resto do dia torcendo para que acabasse logo. Não haveria treinamento pois todos iriam à vigília, então Sophie foi direto para casa assim que se encerraram as aulas.

Seus pais não estavam em casa quando chegou, nem Michel, porém sentiu a presença de alguém. Tirou dois punhais que agora mantinha sempre consigo, um celestial e um infernal.

Caminhou cuidadosamente pela casa, tentando não anunciar sua presença enquanto procurava pelos invasor. A porta de seu quarto estava aberta, concluiu que quem quer que fosse estava atrás dela, como sempre, só não imaginava que seria o próprio Lúcifer.

O demônio estava deitado em sua cama, ele tinha as mãos cruzadas sobre a cabeça e os pés apoiados em um de seus travesseiros. Por impulso a garota lançou seu punhal em direção ao avô, porém foi completamente inútil, Lúcifer segurou a arma pela ponta e sorriu.

— Esse temperamento você puxou de mim. — Ele se alongou e levantou.

— O que você quer?

— Eu quero você se junte a mim. — Lúcifer estalou os dedos. — Veja bem, dar poder aos caídos não foi uma boa jogada, quero que me ajude a acabar com eles.

—Eu nunca vou me unir a você. — Sophie cuspiu as palavras.

Lúcifer revirou os olhos, suas mãos foram até o bolso do paletó preto que usava enquanto dava passos lentos até a garota.

— Faremos um trato. — Ele esticou uma das mãos até a garota esperando que ela a segurasse. — Você se junta a mim e eu lhe conto toda a verdade sobre seus pais.

— Você está atrasado, eu já sei a verdade.

— Minha querida. — Ele disse de forma penosa. — Você não sabe de nada.

— Não vou me juntar a você. — A voz de Sophie era firme, não deixava dúvidas de sua decisão.

— Se prefere esses hipócritas a mim, não merece meu sangue. — O demônio passou as costas dos dedos no rosto da garota. — Mas te darei um pouco mais de tempo. — Ele a entregou um anel. — Se mudar de idéia é só quebrar essa pedra.

Sophie jogou a jóia longe fazendo Lúcifer sorrir de forma debochada erguendo a sobrancelha. Em seguida o demônio simplesmente sumiu em uma nuvem negra deixando para trás apenas o cheiro de enxofre.

A garota se jogou na cama abafando um grito de raiva entre o travesseiro que em poucos segundos estava desfeito em plumas. Ela rolou ficando deitada de costas, olhando para o teto, sua vida estava uma confusão. Ficou pensando sobre o que Lúcifer havia lhe dito e acabou adormecendo.

A escuridão tomou conta de sua mente como sempre fazia, lá estava a luz que ela nunca alcançava, gritos de pavor ecoavam a sua volta, o cheiro de sangue ardia seu nariz.

Ela correu em direção a luz, porém parecia que se distanciava cada vez mais até que tropeçou em algo que a fez cair em uma poça. Não demorou para notar que se tratava de sangue, e precisou de coragem para voltar os olhos para o que lhe havia feito tropeçar.

A primeira coisa que viu foram os fios dourados e em seguida o rosto, ela podia sentir a doçura que e paz que aquele rosto lhe proporcionava. Se arrastou até a mulher que já estava sem vida e não pode conter as lágrimas.

Marcas em Sangue   [Em Revisão]Kde žijí příběhy. Začni objevovat