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Helena estava com um aperto forte em seu peito, sabia que não era só mais um dia de aula, suas vidas estavam prestes a mudar, ela só esperava que tivessem tomado à decisão certa.

Segundos depois que os filhos saíram, August retornou para casa, sua expressão era cansada, andou arrastado até o sofá e se jogou, a mulher juntou-se a ele, seu olhar de ansiedade para o marido como se esperasse uma resposta.

— Sinto como se estivéssemos lançando nossa filha na mão de quem a quer morta. — ele murmurou.

Helena não conteve as lágrimas.

— A gente sabia que uma hora isso podia acontecer — sua voz saiu como um miado.

Ela afundou a cabeça no colo do marido, os dois tremiam quase em sincronia.

— Podemos fugir — August sugeriu. Mas nem ele acreditava nessa possibilidade — Eu... eu só não posso permitir que ela se machuque. — confessou sem um pingo de esperança em sua voz.

— Eu sei meu amor, falhamos em nossa missão, não devíamos ter nos apegado tanto a ela — a mulher esboçou um sorriso fraco.

— Seria impossível não se apegar, em pensar que já sentimos medo dela — os dois suspiraram, a lembrança parecia algo de outra vida.

Enquanto isso, já distante dali, Michel apertava forte o corpo da irmã que desobedecia à ordem da mãe e corria como sempre, mas por incrível que pareça ele não sentia medo, era como se sua irmã mais velha fosse capaz de qualquer coisa e o garoto se sentia seguro com ela, protegido do mundo, achava Sophie o máximo, não dá para negar que às vezes se perguntava quando as ameaças de morte deixariam de ser só ameaças, mas isso logo passava, tudo que o garoto queria era ser "maneiro" como ela quando crescesse.

Sophie ainda não estava na velocidade que desejava, mas sabia que precisava deixar seu irmão na escola primeiro antes que pudesse correr o bastante, desde pequena sempre teve certa tendência a descumprir regras, na verdade, sua cabeça parece estar sempre em guerra com a vontade de sair do controle.

— Vou contar tudo para a mãe quando voltar pra casa. — Michel reclamou ao descer da moto. Os olhos azuis forçando uma raiva da irmã que ria dele.

— Faz isso e pode dar adeus a sua vida. — Sophie ameaçou fazendo cara de mal.

Mas foi rebatida com uma careta antes que ele corresse em direção à escola como se fugisse da morte.

Sem o irmão na garupa ela tirou o capacete para sentir o vento em seu rosto enquanto corria ainda mais, as ruas de Louisville eram praticamente vazias, tornando quase impossível que ela causasse algum acidente, tinha ótimos reflexos, até demais, seus olhos verdes captavam quase tudo em sua volta, mesmo em alta velocidade podia reparar, por exemplo, a mancha vermelha, no vestido azul da garçonete gorducha, que se insinuava para o cliente, um engravatado metido a besta que fingia não notar enquanto tomava algo que parecia ser café, em uma xícara branca com desenhos dourados em espiral.

Para alguém que conseguia reparar tantos detalhes era fácil desviar dos carros ou pedestres que raramente apareciam. Ela nunca falou sobre isso com ninguém, já bastava ser tão diferente de sua família, não queria se sentir mais anormal.

Os longos cachos dourados voavam ao vento, liberdade, era o que sentia quando corria assim, nada a controlava, nem mesmo ela. Poucos minutos depois de largar o irmão, ela chegou à enorme, escondida e tradicional escola secundária do Colorado, Sant'angelim, havia pesquisado sobre o lugar, mas não encontrou nada de interessante, nada além do ótimo programa de esgrima e defesa pessoal, que costumava ter em todas as escolas que seus pais a matriculavam, exigência de seu August que insistia no fato da filha saber se defender caso alguma coisa acontecesse a eles, "Você adora andar sozinha Sophie, já pensou se alguém tentar lhe assaltar?" o pai usou como argumento em mais um exaustivo treino, como se andasse com um florete por aí, riu da lembrança.

Achava algo inútil os treinos de esgrima, mas realmente teria pena de quem tentasse assalta-la, seu pai era o melhor treinador que já teve e eles treinavam todos os dias, era algo que gostava de fato, e além da esgrima tinha a defesa pessoal, era realmente habilidosa. Provavelmente a única coisa que a fazia se sentir parte da família eram os treinos constantes, até mesmo sua mãe era uma ótima esgrimista.

  Provavelmente a única coisa que a fazia se sentir parte da família eram os treinos constantes, até mesmo sua mãe era uma ótima esgrimista

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